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Saí acabada da prova de Matemática. Ansiava uma boa nota, pois, não havia estudado tanto para nada.
Simon saiu também e veio atrás de mim.

-Ei! Você tá sabendo? -Ele perguntou entusiasmado.

-Hm... O que? -Perguntei.

-Vou tocar na festa do Max! -Disse ele dando pulinhos. Ele estava com um sorriso fofo no rosto. Parecia uma criança que havia ganhado um brinquedo.

-Você vai tocar alguma música? Espera, você toca? -Perguntei.

-Toco baixo! Falei com uns amigos e vamos tocar algumas músicas na festa! -Ele disse.

-Que interessante. Não sabia que tocava Baixo.

-Meu tio foi o maior prodígio musical que conheci. Ele tocava muitos instrumentos: Flauta, piano, guitarra, baixo, violão, bateria, saxofone e tuba. Eu implorei para que ele me ensinasse algo, ele me ensinou baixo e foi preso por estar embriagado batendo num outro cara que brigou com ele por quê meu tio mijou no carro dele. -Disse ele de uma forma muito espontânea.

-Meu deus... -Digo.

-Na nossa família, quase todo mundo já foi preso por uma loucura. Meu irmão mais velho pichava estátuas com o símbolo do anarquismo. Tivemos que tirar ele da cadeia por fiança. -Disse ele.

-E você? Foi preso por algo? -Pergunto

-Ainda não! -Disse ele. -Mas acho que vou por roubo de livros ou algo que envolva coisas interessantes. -Disse ele.

-Prefiro que não seja preso. -Disse sorrindo.
Ele deu um risinho para mim. Fomos ao refeitório e comemos arroz, frango frito, feijão e batata frita. Estava frio e nublado, mas não chovia. Eu estava me sentindo normal. Não queria lembrar do que fez as pessoas me pisarem. Eu não quero ser aquilo. Mas... Sim, eu sou aquilo.

Simon se virou para a mochila pegando um caderno e uma caneta e me entregou.

-Ué? Que isso? -Pergunto.

-Um Caderno e uma caneta. -Diz ele levantando a sobrancelha.

-Tá, mas pra quê?

-Escreva. Vai ajudar a manter o foco. -Ele diz, em seguida come um pedaço de frango frito.

-Mas escrever o que? -Pergunto.

-Pensamentos, ideias, o que quiser. -Ele diz de boca cheia.

-Por que você está me mandando fazer isso? -Pergunto.

-Hum... Você está muito "aluada". Olhando para o nada durante muito tempo. Por que não coloca os pensamentos em ordem? -Ele diz.

-Pego o caderninho e a caneta. Começo a pensar no que escrever. Segurando a caneta, fui normalmente escrevendo letras de músicas que eu escutava. Uma por uma. Ao lado da outra. Eu fiquei vidrada quando notei o formato que aquilo estava tomando.

-Eu gostei! -Ele disse.

Olho para ele e ele estava admirando meu trabalho.
-Obrigado? -Digo.

-Não há de quê. -Diz ele pegando o caderno e a caneta de volta e guardando na mochila.

-Hum -Resmungo.

-O que houve?

-Queria ficar com isso. -Digo manhosa.

-No. Eu quero ficar com isso. Você tem um talento interessante. Você organiza frases e palavras em formatos geométricos complexos. -Ele disse.

-Quê? Tá brincando.

-Não estou. -Ele afirma sorrindo. -Se quiser, pode fazer mais. Tire um tempo para escrever o que quiser. Pode se tornar um Hobbie.

-É. Ok, vou fazer

-Vamos fazer loucuras? -Ele diz.

-Que tipo?

-Não sei. Vanos no meu quarto.

-O que quer dizer com isso? -Digo dando um risinho suspeito.

-Algo estranho. Mas antes, termine sua comida. -Diz ele apontando para meu prato ainda cheio. Agora que me dei conta de que não tinha comido nada ainda.

O Garoto da BibliotecaWhere stories live. Discover now