Capítulo 202 - Labirinto

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Em um avanço desenfreado, Pietra adentrou na montanha, com suas chamas verdes iluminando o caminho ao lamber as paredes. Lá dentro, haviam trilhos e carrinhos, abarrotados do minério que seria utilizado para criar armamentos, armaduras e dispositivos. Eram os reptilianos que faziam todo o trabalho árduo, retirando lascas de minério das rochas durantes horas, ou dias, com picaretas toscas e sem nem mesmo terem direito a pausa. Logo na entrada, ela já começou a se sentir sufocada por dentro das minas, e ficou ainda mais irritada ao imaginar o que aquele povo passava de forma tão desprezível.

Para a sorte do Selo, mas para o azar de seus inimigos, ainda haviam demônios no interior da mina, e ela não hesitou esmagá-los com golpes pesados e únicos desferidos com seu machado, assim descontando toda sua raiva. Os reptilianos, é claro, tinham ainda mais sorte, e aproveitavam para fugir no mesmo instante.

Depois de muito tempo seguindo correndo sem parar e golpeando tudo o que fedia a demônio em sua frente, Pietra finalmente parou ao constar que estava completamente perdida. Túneis filho da puta!, pensou, e não estava errada. Os túneis não detinham padrão algum, feitos em direções e proporções aleatórias. Uns eram muitos logos ou curtos, variando de amplos a muito estreitos. Uns se bifurcavam, outros chegavam a ter até mais de cinco caminhos diferentes a seguir. Porém, o ar pesado e rarefeito era o mesmo, precedido por um odor acre, no qual ela não fazia a mínima ideia do que era — e talvez fosse melhor assim.

Os pelos de sua nuca se ouriçam quando a presença poderosa do Dedo percorreu pelo seu corpo como uma fria e leve brisa, chamando sua atenção para a direção certa. Como resposta, Pietra abriu um sorriso mordaz.

— Ah... quanta generosidade. Irei garantir que se arrependa disto, demônio.

Agora, com certa cautela, Pietra seguiu pelo caminho em que a presença percorria. A todo momento o chão era irregular, com exceção sob os trilhos, que eram relaxadamente colocados. No caminho, encontrou com vários reptilianos mortos, e até mesmo ossadas. Demônios também jaziam entre eles, em menor quantidade, porém, e as perfurações e picaretas cravadas em seus corpos sinalizavam que os reptilianos os enfrentaram em uma tentativa de fuga recente. Liberdade é o direito de qualquer raça, pensava Pietra, e é uma pena que demônios não sabem utilizá-la. Às vezes questiono sobre a minha liberdade, pois tudo sempre me leva ao mesmo caminho de destruição e sangue. Acho que os outros pensam nisso também, e talvez seja por isso que nos agarramos tanto a vida humana... nos agarramos tanto nas criações de Edward e Mikaela. Deckard e Miana... os primeiros de nossa raça que nasceram não vindo de uma necessidade de caos, e sim do que os humanos chamam de amor. Mas, infelizmente, nosso sangue sujo ainda corre em suas veias. Ela mordeu o lábio. Eles são o nosso futuro, portanto, mesmo que eu morra, farei meu mentor ruir. Começando por este demônio... seu "dedo".

Enquanto monologava, a presença do inimigo levou Pietra em um caminho que se finalizava em uma cavidade ainda no interior da mina, que já constatara há muito estar quilômetros sob a superfície. Sair desse labirinto vai ser uma merda, pensou. Ela caminhou até a borda, fintando a queda de muitos metros. Era tão profundo que, dali, só conseguia enxergar pequenos pontos de luz vindo de baixo.

Várias outras passagens também se finalizavam naquela cavidade, tantas que ficavam sobrepostas em andares, e Pietra estava no primeiro do topo. Era possível descer pelo caminho circular que se fazia por todos os andares, dando a volta em toda a circunferência do oco até seu fim. Contudo, o Selo optou pelo caminho mais rápido e prático: saltou para a queda livre.

A todo momento seu corpo se manteve ereto, cortando o ar com seus cabelos ondulando intensamente. Dada a velocidade, ela não conseguiu observar nada que a chamasse atenção entre os andares. Chegando ao fim, Pietra flexionou os joelhos e chocou-se contra o solo, erguendo uma cortina de poeira. Agora, em sua frente, uma enorme porta, com diversas criaturas demoníacas talhadas em sua superfície, se erguia. Pelas frestas, a nephilim sentia o odor sujo e a presença do demônio exalando poderosamente.

Os Cinco Selos 2Where stories live. Discover now