Capítulo 198 - Gigantes e Ananicos

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Frio.

Era o que Kleist sentia ao acordar. Estava com seu corpo inerte, sentindo-se nas nuvens. Com as mãos, apoiou-se no solo, mas a sentiu afundar, assim como os pés. Mesmo assim, conseguiu se firmar e erguer.

Ele estava em meio a uma intensa nevasca. De imediato, suas chamas amarelas ondularam pelo seu corpo, protegendo-o do intenso frio. A nevasca era tão furiosa que parecia empurrar o corpo e não era possível enxergar além do que alguns palmos a sua frente, com exceção das formas negras das gigantes montanhas. Então, fechou os olhos, tentando sentir a presença dos Selos, da arcanjo ou de qualquer demônio, todavia nada sentiu. Praguejando antecipadamente pelo tempo que irá perder andando nesta maldita neve, o Selo seguiu adiante.

A cada passo, a neve derretia sobre seus pés. Ele simplesmente era um ponto amarelo e cálido em meio ao todo branco e álgido, emanando luz na escuridão. Não se sabia ao certo o quanto tempo de caminhada já fizera, mas há muito sentia que estava sendo observado. O mais estranho, constatava Kleist, era que não conseguia sentir presença alguma. Jogado em um mundo em que não conhecia e sendo observado por um ser que não sabia distinguir se era demônio ou não, o Selo preferiu fazer nada, pois poderia estar sendo estudado. Não obstante, o que mais o incomodava é o tempo em vão que andava. Não sabia se os outros também percorriam por ali, ou se haviam demônios. Talvez Lúcifer esteja nós tirando da guerra, pensava Kleist, e parece estar funcionando.

Eis que uma montanha de neve se ergue na frente dele! Notando imediatamente que era um ser daquele mundo — que poderia ser muito bem um demônio —, Kleist deu um salto para trás e levou a mão a espada. Ao observá-lo por mais um instante, ele desprendeu os dedos do punho da espada e saiu da posição de ataque. A enorme criatura, no entanto, ergueu sua enorme mão e redirecionou a um golpe.

Kleist não moveu sequer um músculo.

A mão subitamente parou a centímetros de seu corpo, esvoaçando a neve ao seu redor. As labaredas amarelas a lambeu, porém não queimaram, porque não era esta intenção de seu portador. A grande mão recuou, e as chamas se intensificou para iluminar mais.

Era um gigante de gelo de oito metros. Seu corpo era robusto, meio humanoide e completamente formado por gelo, com partes lisas, irregulares, encrustadas e, nas costas, com diversas estacas brotando. O formato da cabeça e da face se assemelhava em muito a humano, porém feita de gelo e sem nariz e ouvido. No centro do peito, um brilho azul intenso emana por dentro de todo o gelo. Em um dos ombros, Kleist notou a presença de um pequeno ser de centímetros, arredondado, completamente coberto por pelos brancos e olhos azuis que brilhavam muito.

— Por que não me atacou? — perguntou o gigante, e surpreendeu Kleist por falar sua língua. Era uma voz fina, bela e suave, o que o levou a acreditar que era a criatura pequena no ombro que dizia isto. Em sua cabeça, Kleist o apelidou de ananico.

— Porque não senti nenhuma intenção maligna emanar de vocês.

— Quem é você? Se parece tanto com Lúcifer, mas é tão diferente...

— Eu vim do mesmo mundo que o dele. Porém, sou um nephilim e um dos Cinco Selos, Guerra.

— Sim... Selos... Ouvi falar de vocês. Os demônios os temem. O que lhe traz aqui, Guerra?

— Viemos matar Lúcifer, mas ele nos separou. Agora estou aqui. Sabe onde posso encontrá-lo?

— Não. Ele vive além deste mundo. Porém, Lúcifer deixa seus demônios aqui para escravizar meus semelhantes.

— Para que vocês são escravizados? — questionou o Selo com certa preocupação.

— Há um minério, cujo demônios chamam de vidro-falso, que é essencial para nossa sobrevivência, pois nos alimentamos de sua energia. Os demônios, porém, descobriram que é um minério formidável para forjar armas. Para extraí-los é um trabalho pesado, e os meus semelhantes são escravizados para este afim.

Os Cinco Selos 2Where stories live. Discover now