CAPÍTULO 10 - Susan

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"Quando eu te vi pela primeira vez

Me encantei com o seu jeitinho de ser

Seu olhar tão lindo me fez viajar

Vi no seu sorriso imenso mar ..."

Grades Do Coração - Grupo Revelação

 

- Você pode dormir aqui se quiser, Mel. - Tentava convencer minha amiga a dividir o imenso quarto comigo.

Seria melhor não deixá-la sozinha com uma Susany solta pela mansão. Eu estava preocupada com o bem-estar da minha irmã, já que enfrentar Mel furiosa resultaria em, pelo menos, três cirurgias plásticas na cara.

- Relaxa, flor. Vai dar tudo certo! Não vou destruir a noiva ainda. - Deveria me preocupar com esse "ainda" na frase, mas eu também queria ver o circo pegando fogo. Mel sentou na enorme cama.

O quarto continuava o mesmo, nada tinha mudado. Por um momento, cheguei a pensar que mamãe e Susy deveriam tê-lo transformado em algum tipo de salão de beleza ou spa. Mas a surpresa foi tamanha ao perceber que tudo permanecia do mesmo jeito, como se eu tivesse saído da Itália ontem.

Imersa em pensamentos, escutei alguém bater na porta do quarto e fui atender. Antes de notar quem era nosso convidado, já me encontrava nos braços de papai. Seu perfume familiar de Acqua di Selva rodava pelo ambiente; sua cabeleira grisalha estava tão cheia quanto meses atrás; seus 1,87 de músculos mais encorpados do que eu achei ser possível. Mesmo beirando aos cinquenta e cinco anos, ele continuava sendo um dos homens mais bonitos que já vira.

Meu pai e meu melhor amigo. Eu sentia falta dos apertados e calorosos abraços toda manhã, do grande sorriso de bom dia, dos conselhos rotineiros quando o mundo parecia errado. Eu havia sentido falta do meu pai.

Nossa ligação terminou mais rápido do que queria. Ele pôs suas grandes mãos no meu rosto e sorriu daquele jeito que iluminava a escuridão.

- Minha menininha, que saudades eu estava de você! - Abraçou-me de novo. - Você ficou mais bonita nesses meses.

-São seus olhos, papai. - Beijei sua bochecha, puxando-o para dentro do quarto. - Como o senhor está?

- Bem melhor, principalmente, sabendo que está aqui.

- Eu preciso te apresentar uma pessoa. - Arrastei-o até Mel.

Minha amiga havia se levando e estava parada tensa ao lado da cama. Seu corpo mostrava sinais evidentes de inquietude. Percebi o quanto estava nervosa, chegava ao ponto de ser cômico. Mel Cardoso com medo de conhecer meu pai? Coloquei a mão no seu ombro.

- Fica calma, raio de sol! É apenas meu pai. - Ela acenou e se aproximou do grande homem.

- É uma honra conhecê-lo, senhor! - Caramba, a doida só faltou bater continência.

- Você fez um ótimo trabalho cuidando da Susan durante esses anos, Mel. - Papai apertou sua mão com firmeza, respeitoso. Ela parecia emocionada pelo elogio. - Vou sempre estar em débito com você.

- Não precisa se preocupar, senhor! Eu só fiz meu dever.

A situação não poderia ser mais hilária, tanto que ambos esqueceram minha presença no quarto. Eu estava tentando entender de onde veio essa lealdade absurda, já que os dois haviam acabado de se conhecer. Mais inusitado que isso? Só escutar a própria voz num áudio qualquer e depois pedir desculpas as pessoas que já tiveram o desprazer de te ouvirem falando.

As Damas de (Des)HonraWhere stories live. Discover now