CAPÍTULO 2 - Susan

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"É assim mesmo que vai ser?

É assim que a gente vai dizer 'adeus'?

Devia ter percebido quando você apareceu

Que você ia me fazer chorar

Me parte o coração ver você por aí

Porque eu sei que você está vivendo uma mentira

Mas tudo bem, amor, porque com o tempo você vai ver

Que tudo que vai, que vai, que vai

Acaba voltando ..."

What Goes Around Comes Around - Justin Timberlake

Concentrada nos meus devaneios, assistia, de forma superficial, meu pai se sujando com o restante do nosso sorvete. Pelo menos o momento serviu para descontrair e esquecer as intrigas que nos cercam.

Nunca entendi o real motivo do ódio de Susy por mim. Somos irmãs! Sangue do mesmo sangue, dividimos o mesmo útero. Éramos amigas ainda pequenas e compartilhavamos da ligação única que existia entre gêmeos, mas, pelo visto, eu não fui boa o suficiente para que ela mantivesse essa relação comigo. De uma hora para outra, magicamente, Susy decidiu como meta de vida infernizar o restante da minha. Cheguei a pensar que tudo não passava de um transtorno de bipolaridade, porém, quando esse comportamento raivoso dela se perpetuou comigo, entendi que minha própria irmã me odiava.

Para completar o enredo dramático, Susany cresceu ainda mais e passou a desejar o corpo perfeito enquanto eu preferia a companhia dos meus livros de química. Desenvolvi meu primeiro creme de pele aos 12 anos de forma totalmente sustentável, a partir de folhas e flores da avelã. Eu sou meio que considerada a super cientista da escola pelos meus, não tão queridos assim, professores. Claro que meu pai ficou orgulhoso, até mesmo porque eu estava seguindo sua área, já minha mãe achava tudo perda de tempo e passou a influenciar Susy na carreira de modelo.

Foi nesses desencontros da vida que Susy ficou linda e esbelta. Uma loira com poderosos olhos verdes e grandes atributos naturais a frente e atrás. 1,70 de pura gostosura, aos contrários dos meus 1,70 de pura comilança. Durante esse tempo, meio que reneguei alguns cuidados da beleza e fiquei parecendo a própria Helga G. Pataki. Mas eu estou feliz comigo mesma, então não me incomodo com o que os outros falam, certo? Errado! Não poderia estar mais errada.

Meu inferno pessoal começou quando Susany percebeu que me humilhar só em casa já não era mais suficiente. Então vieram os xingamentos, as ofensas, a violência na escola, e os outros estudantes, como grande parte é "Maria vai com as outras", também perceberam o quão "maravilhoso" era me ofender. E, como já dizia as doutrinas populares da vida, nada é tão ruim que não possa ser piorado. Susy decidiu se juntar com a dupla imbatível de cadelas de raça ruim, o Timão e Pumba adolescentes, que, infelizmente, já tivemos o desprazer de conhecer: Ada e Lucile.

A pior delas, depois de Susany claro, é a Lucile. Pelo nome já temos uma bela noção do caráter da pessoa, não duvidaria que esse seja derivado de Lúcifer. A cidadã foi capaz de tirar uma foto minha no banho, depois da educação física, e publicar no jornal da escola. Pelo menos, ela levou uma suspensão de duas semanas, o que prova que, de pouquinho em pouquinho, os humilhados estão sendo exaltados. Já Ada é considerada a Anastasia Tremaine de Cinderela: uma nojenta de marca maior no primeiro filme, mas, relativamente, uma pessoa boa no segundo. Eu acho que ela é a única que não apoiava completamente os meus maus-tratos diários, mas também não fazia nada que acabasse com o bullying. E agora mesmo que Ada não fará nada, já que, ao que tudo indica, eu dormi com o pai dela.

As Damas de (Des)HonraМесто, где живут истории. Откройте их для себя