30. Flashback: Liz vai embora

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Liz estava indo embora. Era verdade.

O carro do seu pai já estava estacionado em frente à casa dos pais de Marcus, a última parada antes de seguirem direto para a Capital, a nova cidade onde o endereço de Liz seria assinado. Marcus engoliu um nó que se formou em sua garganta e deu dois passos à frente, para abraçar a garota que amava, e depois vê-la ir embora, sem ninguém saber realmente o que tinha acontecido entre eles.

Marcus a abraçou forte, e por mais tempo do que o de costume. Ninguém desconfiou. Todo mundo abraçou Liz por mais tempo que o rotineiro naquele dia. Era como se ela nunca mais fosse voltar — mas Marcus tinha uma promessa. Ela voltaria, tinha prometido.

Com um movimento rápido, aproveitando que Liz estava de frente para todo mundo, ele conseguiu enfiar o bilhete que escrevera horas antes, no bolso traseiro do Jeans dela. Ele colocou e logo tirou a mão, para ninguém perceber o movimento.

— Lê quando chegar lá — ele disse, no ouvido dela, e se afastou.

As despedidas seguiram, como toda despedida: com choro e promessas. Liz foi embora, mas Marcus não se sentiu tão triste quanto todo o resto. Ele sabia que em duas semanas iria vê-la novamente. E aí, quem sabe não mudaria o endereço também?

§§§§§

I know that I am here and you are there

But we still have our love, just like the moon and sun

... I've been to heaven and I've been to hell

But nothing feels like home like you, babe*

Ouve essa música. Eu tô ouvindo e pensando em vc. Vou p a capital de carro dia 10. Vou chegar umas 11h da manhã. Me encontra em frente à praça do cordel, no centro.

Já to c sdds ♥

Ass: Marc

§§§§§

Marcus começava a se sentir inquieto. Fazia dois dias que Liz tinha ido embora, e não respondera nenhuma de suas mensagens. Ele queria saber o que ela pensou do bilhete, se realmente iria, se estava sentindo falta dele. Imaginou que estivesse sem internet instalada na casa nova, mas mesmo assim estranhou o silêncio. Queria pelo menos um sinal de fumaça dizendo que estava tudo bem.

— Clara. — Ele chamou a irmã.

— Fala! — Ela levantou os olhos do computador e deu atenção ao irmão.

— Você tem falado com Liz?

— Não, até agora não sei dela.

Ele se aquietou com a resposta e se convenceu de que era mesmo a internet em falta.

§§§§§

Agora ele estava irritado. E chateado.

E inquieto.

E estressado.

Estava sentindo muitas coisas, nenhuma delas trazia um sorriso ao seu rosto — e ele pensou que nesses dias pós-partida-de-Liz, ele se sentiria ansioso, feliz, empolgado e esperançoso. Tudo o contrário do que vinha sentindo de verdade.

Liz tinha enviado uma mensagem para Clara, ele viu no celular da irmã, mesmo que ela tenha negado. Marcus leu um pedaço, só o começo da mensagem, mas Clara jurou de pés juntinhos que era uma mensagem antiga.

Já estavam no dia 09, em menos de vinte e quatro horas ele estaria indo para a Capital, e nada tinha dado certo até ali.

Ele continuou mandando mensagens para Liz, agora sentindo como se tivesse falando com a parede. Ligava para ela, e o chamado do telefone começava a lhe dar dor de cabeça cada vez que o barulho ecoava em seu ouvido, só para depois parar abruptamente, sem ser interrompido pelo som da voz dela. Só era interrompido por uma voz robótica lhe dizendo que a mensagem estaria indo para a caixa postal.

"Quem ouve caixa postal?", ele pensou, mas mesmo assim deixou uma mensagem lá.

"Liz, sou eu, Marc. Tô sentindo sua falta, não sei o que você anda fazendo por aí... a vida na capital deve estar te deixando ocupada. Sei lá. Já te liguei um monte de vezes. Queria falar contigo. Tô indo aí, como disse no bilhete. Você leu? Você não pode responder agora. Enfim... me liga."

Mas Liz não ouviu a mensagem, não retornou a ligação nem enviou nenhum sinal de vida. Não para ele.

Na manhã seguinte, às sete horas quase em ponto, como Marcus nunca tinha feito nada na vida, ele saiu de casa, rumo ao carro recém comprado, de segunda ou terceira mão.

Chamou Clara para ir com ele, mas ela estava mais ocupada passando o fim de semana com o namorado, Jonathan. Ele gostava de John, mas preferia não imaginá-lo com sua irmã mais nova.

Colocou o embrulho no qual tinha guardado o colar que comprou para ela — uma garrafinha transparente, com um pergaminho dentro, enrolado, escrito "Liz" várias vezes — no banco do carona, o carro na estrada e saiu.

A cada sinal vermelho, Marc olhava o telefone, em busca de uma mensagem. Estava tão perto do dia e da hora marcada, que imaginou que Liz lhe mandaria uma confirmação ali, no último minuto.

Marc discou o número de Liz, já memorizado na sua cabeça, e colocou no viva-voz, esperando.

Aquele era o último dia. A última chance. Ela tinha que atender dessa vez.

Mas não atendeu.

E Marcus ligou sete outras vezes durante o percurso.

Dentro do trajeto ainda cabia mais sete ligações, talvez oito ou nove. Mas Marcus não fez o percurso inteiro. Depois da sétima ligação, frustrado com os sentimentos, com o sumiço, com a realidade batendo em seu peito sem dó, ele esmurrou o volante do carro e berrou. Só gritou, sem formar nenhuma palavra. Estava parado num sinal de trânsito, e ao olhar para cima, viu a placa de retorno à Valentina. Ao lado estava a placa indicando a Capital. Ele seguiu em frente e virou à direita.

Retornou à cidade.

Chegou em casa às 11h.

Deveria estar com Liz. Deveria estar feliz.

Mas estava de volta à estaca zero.

Apagou o número dela de sua agenda, excluiu todas as mensagens e dormiu pelo resto do dia. 

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EU AMO ESSE FLASHBACK MAS ESSE FLASHBACK ME MATA.

tradução do bilhete de marcus:

Eu sei que eu estou aqui e você está aí, 

mas ainda temos nosso amor, como o sol e a lua;

... eu já fui ao paraíso e já fui ao inferno, 

mas nada faz me sentir em casa como você. 

<3

A música se chama I Love You More Than You'll Ever Know (eu te amo mais do que você jamais saberá), do NeverShoutNever.

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Eu tenho certeza de que se Liz e Marcus fossem um álbum da taylor swift seriam o RED. HAHAHAH 

Liz e a Lista do NuncaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora