Flashback: a noite da despedida

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Último dia em Valentina.

Liz estivera evitando esse dia o máximo que pôde. Nunca desejou tanto ter um vira-tempo como desejava agora. Voltar as horas e reviver esse dia quantas vezes quisesse, a fim de nunca finalizá-lo.

Mas, infelizmente, não era a Hermione, e seus amigos não eram bruxos com vassouras ou carros voadores que poderiam ir lhe visitar na Capital quando quisessem, e agora ela tinha que enfrentar essa despedida, de uma forma ou de outra.

Escolheu enfrentar esse dia festejando. Se não podia fazer mais nada, não desperdiçaria as últimas horas com os amigos chorando. Seria até bem de praxe para ela, mas, não. Chega de chororô, foi o que pensou.

— Não vai rolar — disse Juliana, amiga do curso de francês de Liz — não conseguimos as identidades falsas.

Mimi e Clara lamentaram, Liz apenas deu de ombros e aceitou.

— Tudo bem, tanto faz. O que importa é estarmos aqui.

— E é bem mais fácil conseguir bebidas nos barzinhos aqui do bairro mesmo — Mimi olhou pelo lado positivo.

— A gente pode mandar Marcus — Clara sugeriu. — Ele já é de maior, não vai ter problema.

Liz só observou enquanto Clara ligava para o irmão e pedia o favor. Pelo que Liz pôde ouvir, apenas um lado da ligação, parecia que Marcus estava chantageando-as em troca do favor.

— Ele perguntou se pode vir, também — Clara perguntou, tapando o fone do celular com a mão.

Liz estremeceu, mas disfarçou bem esfregando os braços para se livrar do vento frio de Valentina numa tarde de junho.

— 'Tá, tudo bem — cedeu.

Ela não planejava ver Marcus no último dia. Não queria ir embora com a imagem dele na cabeça. Preferia qualquer um, talvez Lucas, seu último "namorado" —ainda conta se tiver durado apenas um mês?— ou Gustavo, o irmão mais velho de Clara; ou qualquer um, menos Marcus. Ela sabia que se o visse iria embora de coração partido. Marcus sempre lhe causara esse tipo de sensação. Mesmo quando Liz estava beijando outra pessoa, alguma linha de pensamento caía em cima de Marcus.

Por vezes, achou que estava ficando louca. Como alguém pode passar tanto tempo assim apaixonada por um garoto? Só sendo muito idiota. Nem nos filmes de romance açucarados que ela costumava ver sempre que tinha uma chance, esse tipo de coisa acontecia.

Trinta ou quarenta minutos depois, lá estava Marcus com as bebidas. Cerveja e vodca e vinho. Ele só bebia vinho, e comprou duas garrafas. Saíram da casa de Clara, andando pelas ruas do condomínio Alamedas até chegarem no "bosque". Um lugar escondido, cercado de mato, mas com um balanço pendurado em uma das árvores e um lago minúsculo no meio. Parecia o tipo de lugar em que filmes de fantasia infantis diriam que moram as fadas, ou elfos, ou alguma criatura assim, mística. Ali era só o lugar onde adolescentes iam beber ou transar sem que ninguém os perturbasse.

Sentaram-se no chão à beira do lago, e Marcus ficou no balanço—meio apoiado, na verdade, com medo de que aquilo arrebentasse a qualquer minuto.

— Será que tem algum tipo de magia aqui? — perguntou Juliana.

— Devem ter bruxas — disse Marcus. — Ou lobisomens.

— Para, Marcus — queixou-se Mimi — Não começa a uivar aí, ou eu te derrubo desse negócio.

Marcus ensaiou um uivo, só para tirar sarro da garota.

Liz e a Lista do NuncaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora