Digo, com este beijo, que quero que ele fique bem. Que quero que ele cresça. Que quero que ele use a mente e as mãos, sua curiosa energia incansável, sua criatividade, a serviço de algo que alimente sua alma. Digo que quero que ele se lembre sempre de comer, de fazer bons pães, de prestar atenção ao que faz com seus dias, ao que põe para dentro do corpo, ao que o alimenta. Digo que o amo e que meu amor significa que eu quero que ele seja feliz, que seja inteiro. Meu amor significa que eu preciso deixá-lo ir.

Quando ele afasta os lábios e pressiona a ponta do nariz na minha bochecha, estou chorando, molhado e descabelado, e ele diz:

– Louis. Meu Deus, Louis. Não.

– Está tudo bem – digo. – É assim que as coisas são.

As mãos dele estão nos meus ombros, no meu pescoço, os polegares acariciando a minha boca, e eu faço carinho em seus braços, os músculos firmes e tensos. Brinco com seus pelos, desejando que tivéssemos mais tempo. Acho que não é justo não termos mais tempo. Não há ninguém com quem reclamar.

Meus dedos seguram a pulseira de couro no pulso dele, as letras do seu nome. Encontro o fecho e o abro com o polegar. A pulseira cai no chão e, quando me abaixo para pegar, damos uma cabeçada, porque ele se abaixou ao mesmo tempo que eu, para pegá-la para mim. Apenas mais uma coisa que ele faria por mim. Mais uma forma como ele quer me ajudar na tarefa de viver.

– Eu preciso ficar com isso.

Ele sorri e diz:

– Tudo bem.

Coloca a pulseira em mim, então beija meu braço, em cima do fecho, bem no meu pulso. Há estandartes dentro de mim também, dizendo que sou dele. Eu os levarei pelo resto dos meus dias.

– Se cuida – diz Harry. – Não deixe ninguém se safar com um papo furado qualquer.

– Pode deixar.

– Liam e Niall vão cuidar de você. E tente evitar que Zayn se autodestrua, se puder.

Zayn.

Zayn está acabado. Ele deixou Harry assumir a culpa por ele, saiu da cadeia e foi direto para um bar. Não voltou para o apartamento e não atende às ligações de Harry. Apenas Liam parece saber o que ele anda fazendo. Ele falou com Zayn algumas vezes. Está preocupado com ele, mas nenhum de nós sabe o que fazer. Na verdade, não consigo pensar em Zayn no momento.

– Vou fazer o possível.

Minha voz está chorosa. Meu coração está tão cheio de cortes, de ferimentos... A cada segundo eu sangro mais um pouco. Harry encosta a cabeça no meu pescoço e me dá um beijo ali.

– Não chore por minha causa. Você vai ficar bem. Ótimo. Melhor do que ótimo. Você vai dormir muito mais também, o que é bom. Vai viver mais tempo.

Volte para mim.

As palavras gritam dentro de mim, mas mantenho a boca fechada e pouso as mãos no corpo dele, apenas para sentir seu calor e sua respiração. Não sei se algum dia voltarei a vê-lo.

– Prometa... – digo, embora tivesse decidido ficar calado. Embora tivesse jurado a mim mesmo que não faria nenhum pedido. – Prometa que você vai ser meu amigo. Prometa que vai me ligar, me mandar mensagens, me contar o que está acontecendo na sua vida. Prometa que, se acordar no meio da noite, se estiver sozinho, se precisar de alguém...

Ele levanta a cabeça e seca as minhas lágrimas de novo, desta vez com os polegares.

– Eu prometo.

– Você vai precisar de um amigo.

– É.

– Eu quero ser seu amigo, Harry.

Ele beija a ponta do meu nariz.

– Você já é, Louis Tomlinson.

Eu fecho os olhos. Apenas fecho os olhos, abro as mãos e solto a parte de trás da camisa dele.

– É melhor você ir para a fila.

– É.

– Mande uma mensagem quando chegar.

– Pode deixar.

– Diga à sua irmã que eu mandei um oi.

– Ela vai gostar disso.

Desta vez, quando ele me beija, não me permito tocá-lo em lugar nenhum além da boca. Os lábios dele são tão macios... Eles me dizem tudo o que eu disse a ele, e mais. Viva. Respire. Lute. Seja quem você é. Seja melhor. Seja forte.

– Não me espere – sussurra Harry, e me beija de novo. – Eu não quero que você espere.

Quando ele pega a mochila e vai embora, fico pensando no dia em que nos conhecemos. Em como ele parou o carro quase em cima dos meus pés. Em como me provocou, me fez sorrir, me fez desmaiar. Em como ele segurava aquela galinha de borracha idiota, sorrindo, perguntando Quer brincar?

Acho que talvez eu sempre tenha estado esperando por ele. Sempre. Não sei como vou conseguir parar.

D E P O I S

Ser um bom rapaz significa passar a vida toda desenvolvendo um radar bastante preciso para detectar qualquer coisa capaz de fazer com que as pessoas nos amem menos. Garotos como eu – ou como eu era em agosto passado – se alimentam de aprovação. Nós vivemos para isso. Então, quando somos atacados cruelmente por um cara que faz tudo o que pode para que nos sintamos sujas e repugnantes, nossa primeira reação é sempre assumir a culpa.

Minha culpa, dizemos. Minha culpa, minha culpa, minha culpa.

É preciso um tipo especial de pessoa para tirar as mãos da frente dos nossos olhos e nos mostrar o que estamos vendo de verdade. De quem é a culpa. Que exercício inútil a culpa pode ser. Harry me ensinou a fazer pão. Me empurrou para cima de um telhado e me beijou até que eu visse estrelas. Ele me ensinou que vale a pena ir mais fundo. Porque uma mensagem de texto é capaz de nos tirar o chão. Uma decisão ruim, um flash de uma câmera e a parte ensolarada e perfeita da nossa juventude está acabada. Então podemos decidir. Olhamos ao redor, remexemos nos escombros, fazemos nossas escolhas.

Nos armamos de amor, amigos, conhecimento. Descobrimos quem somos. O que queremos. Descobrimos e vamos atrás, a qualquer preço. E isso às vezes significa que devemos nos permitir ficar assustados. É preciso virar à esquerda, assumir riscos e cometer erros, porque, de outra forma, como encontrar amigos que nos ensinarão a fazer uma defesa, a beber licor de caramelo só por beber, a ficar só de cueca e dançar?

Quando temos a chance de ir mais fundo, precisamos agarrar essa chance de qualquer maneira. Agarrar sua camisa com força, até a chance estar nu, em contato com nosso corpo, e estarmos famintos e satisfeitos, desesperados e saciados, tontos e centrados.

Precisamos fazer isso, porque a feiura está em toda parte. Porque a vida não é justa. Porque o mundo é um lugar seriamente fodido. Precisamos fazer isso porque a beleza está lá fora e vale qualquer sacrifício para aproveitá-la.

Vale a pena, mesmo que não consigamos mantê-la.

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Espero que tenham gostado!! Dei muito duro para readaptar essa história 2 vezes, mas valeu totalmente a pena.

Não se esqueçam de ler a sequência de Profundo, se chama Intenso e está disponível no meu perfil. Beijos galera

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