S E T E M B R O

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L O U I S

Duas semanas e meia depois de as fotos aparecerem na internet, está tudo sob controle. Até eu sair da aula de latim e entrar no cotovelo de Harry Styles. Estou caminhando de cabeça baixa, concentrado na próxima eleição para o diretório acadêmico. Tinha pensado em concorrer este ano para representar meu alojamento, mas agora não vejo como isso seria possível. A garota que está concorrendo é... Bem, estou tentando não ser maldoso. Ela não é minha primeira escolha. Eu sou minha primeira escolha.

Passo pela porta e sigo para a direita, para longe da maioria dos outros alunos. Eu costumava ir para a esquerda, mas Nate tem aula de macroeconomia na sala ao lado da minha e não quero cruzar com ele. Comecei, então, a pegar a direita e seguir para o refeitório pelo lado de fora do prédio. Hoje, porém, meu caminho não está deserto – o corredor está lotado. No entanto, como estou de cabeça baixa, não percebo até dar um encontrão nas costas de alguém.

Minha mochila cai no chão. Eu me abaixo para pegá-la, pedindo desculpas, e só então reparo quantas pernas andam por aquele corredor. Começo a me perguntar o que está acontecendo. Ainda estou tentando descobrir quando me levanto de novo e meu nariz colide com algo. No momento do golpe, não entendo que foi com a parte de um corpo, nem sei a quem ela pertence. Só percebo a agitação à minha frente. E a dor no meu nariz.

Ah, meu Deus, como dói.

Levo a mão em concha ao nariz, para protegê-lo, e desabo, abaixando a cabeça e me encolhendo. Meus olhos se enchem de lágrimas por causa da pancada. Sinto um líquido morno escorrer pelos meus lábios. Coloco a língua para fora para lambê-lo antes de compreender que – argh, sangue – estou sangrando. Então o líquido continua a correr e chega a meu queixo. Eu nem me importo, porque meu nariz não para de latejar.

Eu nunca fui atingido no rosto antes. É absolutamente TERRÍVEL.

Sei que há algo que eu deveria estar fazendo em vez de ficar apertando o nariz, como se meus dedos tivessem o poder de conter o sangramento. Piscando, confuso, olho ao redor para ver no que bati e por que essa coisa me odiava tanto. Considerando o estado do meu nariz, imagino que seja uma parede de tijolos ou um monstro com blocos de concreto no lugar das mãos.

Em vez disso, vejo grandes corpos masculinos empurrando uns aos outros e grunhindo. Há bastante espaço ao redor deles, mas eu o invadi, o que provavelmente explica por que fui atingido e também por que estou em uma posição perfeita para ver o soco vindo. Eu não o vejo chegar ao alvo. O homem que o recebe está de costas para mim, de frente para o sujeito que o desfere. O golpe seco de pele contra osso faz meu estômago revirar. O cara cai bem na minha frente. O outro monta nele, com o peito arfando, inclinado de tal modo que eu só consigo ver o topo de sua cabeça. Ele parece prestes a dar mais um golpe, e eu realmente não quero que faça isso, porque é tudo tão brutal que acho que não sou capaz de suportar. Então ouço um barulho terrível – um som agudo, esganiçado e ofegante –, e o cara que está por cima do outro olha para mim.

Ah, meu Deus. Fui eu que fiz o barulho. Aquele grito estridente era meu.

Agora é que não consigo respirar mesmo, porque o cara que me encara é o Harry e o rosto em que ele bateu com tanta força é o do Nate. Harry arregala os olhos.

– Meu Deus, Louis, eu bati em você?

Ele se levanta, se aproxima e me estende a mão. Parece que esqueceu completamente que está destruindo Nate. Seu olhar, a mão que ele me oferece... Tudo é tão parecido com nosso primeiro contato, há mais de um ano, que eu tenho uma espécie de déjà-vu. Minhas pernas bambeiam, o que me irrita. Meu corpo é o inimigo agora – meus joelhos fracos, o som agudo que minha garganta resolveu emitir, meu nariz cheio de sangue, a dor latejante no meu rosto. Sem falar no meu coração, que está tentando saltar do peito, tamanha a força das batidas.

ProfundoWhere stories live. Discover now