F É R I A S D E I N V E R N O

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É um bom livro, e não quero que seja estragado. Dois deles estão na porta, um cara gorducho com cabelos loiros encaracolados e uniforme do departamento de polícia de Putnam e outro mais magro e mais baixo, negro, vestindo uma camisa polo do departamento de segurança da Universidade de Putnam.

– Você é Harry Styles? – pergunta o loiro.

– Sou.

– Meu nome é Jason Morrow, da polícia de Putnam, e este é Kevin Yates, da equipe de segurança do campus. Recebemos uma denúncia anônima de que você está envolvido com a venda ilegal de maconha. Precisamos dar uma olhada no seu apartamento.

Percebo, pela forma como ele diz isso, que o blefe normalmente funciona. Eles batem na porta de dois, três alunos da universidade por ano, sempre que aparece uma queixa séria. Agem de maneira civilizada e gentil e os garotos fazem o que eles querem. Não deixei nada no apartamento para eles encontrarem, porque, apesar do que Nate parece pensar, não sou idiota. A quantidade total de maconha que possuo por si só representa uma contravenção grave, caso possam provar que é para vender. O que, é claro, eles podem, porque ninguém seria capaz de fumar tanto e continuar sendo um ser humano funcional.

Mas deixo tudo em um armário no centro recreativo e vou pegando aos poucos, duas ou três vezes por semana, quando apareço por lá para correr e fazer musculação. Tomo banho e pego uma pequena quantidade, algo que eu saiba que vou conseguir vender. Não planto nada no campus desde o começo do ano passado, quando fiz isso mais para me exibir do que outra coisa. Só queria que as pessoas comentassem: Foi ele o cara que plantou aquela erva da boa. Ele é o cara que pode conseguir para você. Depois da primeira colheita, encerrei a produção. Arriscado demais. Eu sei em que me meti. Conheço os meus direitos.

– Não – digo para o policial na porta.

Não, ele não pode entrar. Não, eu não posso sair.

Estou preso nesta confusão que eu mesmo criei, e tenho um mês longe daqui – longe dele – para descobrir como vou escapar. Minha mãe envolve meu pescoço com o braço por trás para plantar um beijo na minha orelha, mas erra a mira e acaba beijando meu boné.

– Eca, mãe. Você está cheirando a carne cozida.

Ela acabou de voltar de um turno na prisão. Nunca vi a lanchonete onde ela trabalha, mas, se o cheiro com que ela chega é um indicativo, não estou perdendo muita coisa. De qualquer forma, não me incomodo com o beijo. Suas roupas recendem a comida, mas consigo sentir o cheiro da sua pele também, algum sabonete ou hidratante floral. O balcão do banheiro de Bo está lotado com os produtos de beleza dela.

Passei tanto tempo longe que as impressões mais fortes que tive quando cheguei, há dois dias, foram os odores. Fumaça velha de cigarro, o purificador de ar elétrico, o ar que sai do sofá quando nos sentamos, que cheira a pelo de cachorro e espuma velha misturados com aromatizante. Na primeira vez que minha mãe me abraçou desde que cheguei, seu cheiro fez minha garganta fechar, uma reação física que não foi exatamente em forma de lágrimas nem alergia. O garoto dentro de mim dizendo Mamãe ao mesmo tempo que minhas mãos queriam empurrá-la e pôr alguma distância entre nós.

– Não consigo parar de pensar em como é maravilhoso ter você de volta.

– Largue o garoto – ordena Bo do outro lado da mesa. – Ele está velho demais para essa palhaçada.

Minha mãe tira meu boné e ajeita meus cabelos amassados.

– Ele é o meu bebê. Está com fome, Haz? Posso fazer um ensopado, se você quiser.

Ela está preparando todos os meus pratos preferidos.

– Não, já comi na cidade. Fui com Gemma ao Arby’s depois que voltamos de Bandon.

ProfundoWhere stories live. Discover now