– Ele não pode tratar você assim! Não está certo!

Ele me convenceu a ligar para Harry. Deixei um recado furioso na caixa postal. Mandei outra mensagem de texto, exigindo que ele entrasse em contato. Liam agarrou o telefone da minha mão e o chamou de “escroto”, pelo que eu pedi desculpas depois, mas mesmo assim ele não me respondeu. Não consegui dormir depois disso. Enquanto Liam roncava baixinho na cama dele, peguei meu celular e digitei: Estou me sentindo péssimo pelo que aconteceu no telhado.

Estou me sentindo sujo.

Envergonhado.

Por que você não está falando comigo?

De manhã, queria poder apagar aquelas mensagens. Meio dramático demais, não é, Louis?

Mas elas haviam sido enviados e pronto. Ele me responde na terça depois da aula. O celular toca quando estou deitado de bruços, olhando fixamente para as unhas das mãos e tentando reunir algum ânimo para almoçar.

Não tem nada de sujo naquilo, ele escreve.

Uma frase inteira. Que tal?

Então por que está me evitando?

Não estou. Estou ocupado.

Isso nunca atrapalhou você antes.

Desculpe.

Espero para ver se ele vai me dar uma explicação melhor, mas isso não acontece e eu estou de saco cheio. De saco cheio dele. De saco cheio de mim mesmo também. Como estou permitindo que isto aconteça? Depois do que Nate fez, eu não deixei a tristeza me derrubar. Eu agi. Agora, um beijo de Harry e eu fico reduzido a esta pessoa que implora atenção através de mensagens de texto? Foda-se.

Venha até o meu quarto para conversarmos, escrevo. Agora.

Tenho aula.

Olho para o relógio.

Só daqui a uma hora.

Por um instante, nenhuma resposta. Repasso os balões verdes e azuis da nossa conversa, tentando me reconhecer naquelas exigências. Tentando reconhecer o Harry que massageou o meu pescoço na casa dele, que pôs a mão na minha coxa e me perguntou o que devia fazer a respeito de mim. O Harry que disse “Isto também é totalmente culpa minha” pouco antes de me beijar enlouquecidamente.

Ok, ele responde.

Então fico esperando. Tudo bem: visto uma calça jeans, ajeito os cabelos e então fico esperando. Não sei por que costumamos usar como exemplo de demora o tempo que a água na panela leva para ferver. Seria melhor usarmos o tempo que o garoto que beijamos no telhado demora para chegar e se explicar. Péssima comparação, eu sei. Por fim, depois de uma eternidade, ele bate duas vezes. Abro a porta e fico paralisado. Os olhos claros são os de Harry, o rosto é o de Harry, e eu penso como pude ficar dez dias inteiros sem vê-lo. Como pude me esquecer do efeito que ele causa em mim?

Eu quero afundar nele, enrolar meus dedos nos dele, beijar seus olhos e lhe dar boas-vindas.

Mas não faço isso. Não estou louco. Porém a vontade está ali, opressiva como uma mão me puxando para baixo. É meio bonita também. Desvio o olhar, desesperado para me controlar. Ele está usando um casaco que à primeira vista parece cinza, mas quando me aproximo vejo que é preto e branco, com listras bem finas, numa estampa tipo chevron. Não consigo imaginar onde alguém arranjaria um casaco como aquele, exceto talvez no armário do meu avô. Deveria ser estranho ou feio, mas, como tudo o que Harry veste, faz com que pareça sexy. Como se casacos de velho fossem a tendência da moda.

ProfundoWhere stories live. Discover now