— Não! Eu faço anotações em outro lugar — Eleonora respondeu, acabando-se de rir. Ela parou em um momento. — Eu não acredito que estive dormindo com o inimigo todo esse tempo.

— Você deveria ter me interrogado mais — brinquei.

Peguei a xícara de volta e bebi do líquido quente bem devagar. Eu desejava receber o seu sorrisinho torto. Toda vez que a provocava assim, o canto de seus lábios se arqueavam de forma desigual. Ela parecia ainda mais jovem, desinibida e linda, mas eu não diria nada tão cedo. Se ela soubesse que me ganhava me dando um sorriso daqueles, com certeza usaria contra mim. Causávamos muito incêndios juntas.

— Estou muito ocupada — ela disse.

Eu ri pelo nariz.

— Ah, é?

— Estou comendo. — E mordeu um pedaço da panqueca encharcada.

Terminamos o café da manhã sob conversas aleatórias sobre piquenique, uvas e clima europeu. Saímos do restaurante de mãos dadas e fomos direto ao estacionamento, onde a moto estava nos aguardando com tudo já ajeitado.

Prometi que não sujaria meu tênis naquela viagem, porque só havia levado um par. Mas eu fiz o favor de molhá-lo no dia anterior quando fizemos uma caminhada pelo parque onde nos beijamos pela primeira vez. Eu não tinha culpa de ter chovido no percurso, porém não quis sair debaixo dos pingos grossos. Seria muita loucura ou crise de meia-idade querer beijá-la por minutos sem respirar debaixo de uma chuva forte? Parecia-me um clima extremamente romântico, e mesmo ganhando uma febre na madrugada graças ao temporal frio, valera muito a pena.

Agora precisava me acostumar com meu saltinho. Ainda bem que não eram finos ou altos, mas ainda assim me atrapalhavam de subir no veículo de duas rodas. Mas, antes que eu pudesse fazer o movimento vergonhoso e desajeitado para cima do veículo, Eleonora me barrou pondo uma mão na minha cintura.

— Não podemos ir embora sem comprar algo daqui — comentou, fingindo pensar. De acordo com sua sobrancelha contorcida e olhos nada perdidos, ela já sabia o que fazer. — Venha comigo.

Eu fui arrastada, mas meus pés agitados obedeciam os movimentos sem oscilar. Eles e Eleonora estavam de complô contra o restante do meu corpo enrijecido.

— O que você está aprontando?

— Confie em mim. Só um pouquinho — ela fez bico. Nitidamente eu confiava, senão não teria partido naquela viagem quase sem rumo. — Tem uma lojinha bem legal aqui perto.

— Vamos comprar algum souvenir?

— É, tipo isso. Mas eu vou comprar — avisou.

Eu não diria nada para contrariá-la. Quando ela decidia algo, nada e ninguém conseguiam fazê-la mudar de ideia. E eu também não queria que ela pensasse que eu estava pagando pela sua companhia. Sendo autoritária e mão leve, paguei tudo e mais um pouco na viagem. Eu não tinha nenhum problema com isso, mas tinha receio que ela achasse que era menos importante, considerando que éramos de classes sociais diferentes. Ela já havia comentando a respeito, tanto que eu só podia incentivá-la a fazer outras coisas e pagasse sozinha seja lá o que desejasse.

E eu não era nenhuma... Qual era o nome daquelas mulheres que proporcionavam diversas regalias que o dinheiro podia comprar para acompanhantes mais novinhos de acordo com o nível de merecimento deles? Sugar mommy!

Péssimo apelido, péssimo relacionamento. Claro que eu não podia julgar quem gostava desse tipo de "divertimento". E eu realmente desejava mimar quem eu gostava, especialmente Eleonora. Mas ela não aceitaria tais ofertas ou presentes caros, e eu também não me sentiria bem fazendo isso... Eu não a estava comprando! Ela devia permanecer do meu lado porque gostava da minha companhia, e não da minha estabilidade econômica.

Souvenir | Romance Lésbico (Completo na Amazon)Where stories live. Discover now