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A semana passou tranquila. Logo, já era sexta-feira novamente, e dessa vez, Alice havia me convencido a ir em uma festa com ela.

Quando conheci Alice, ela ainda era uma criança – e bem, eu também. Ela não foi meu primeiro amor ou algo do tipo, só era a garota que brigava comigo por razão alguma. Assim que chegou a adolescência, ela descobriu que com um estalar de dedos, poderia fazer outros garotos cairem aos pés dela. E então começamos a nos entender de verdade: eu lhe apresentava aos meus amigos, e ela, me apresentou ao lápis de olho.

Estava em seu dormitório para buscá-la, enquanto ela terminava sua maquiagem. Alice aproveitou para me ajeitar também.

– Você está incrivelmente gato com essa estrelinha. – disse ela, tirando o excesso de blush das minhas bochecha.

– Grato. – respondo, fazendo careta – Blake irá surtar quando te ver com essa blusa.

– Obrigada por fazer o papel de minha melhor amiga.

– Se você é tão insuportável ao ponto de não ter uma, eu tenho que fazer algo, não? – ela mostra a língua – Ei, cade a sua colega de quarto?

– Carmen? Ela quase nunca está aqui de noite. Sextas e Sábados significam não vê-la o dia inteiro.

– Hm. – digo, para não deixar a resposta voando. Me lembrei da noite em que conheci Carmen, no fliperama. Será que ela passa essas dias lá? – Podemos ir agora?

– Podemos. Cara, eu sou linda! – exclama, se vendo no espelho – Blake que lute.

– Blake que lute. – repito, abrindo a porta.

Perco Alice de vista em 10 minutos. Mas, em compensação, encontro alguém que não queria ver de forma alguma. Megan, minha (quase, pois não chegamos a namorar de verdade) ex.

– Oi. – ela diz, bebendo algo em um canudinho.

– Oi, Megan. – respondo, um tanto quanto desconfortável.

– Quanto tempo. Senti sua falta. – mentira! Megan nunca sentiria minha falta, do jeito que é narcisista.

– Não posso dizer o mesmo. Mas foi bom te ver. Até mais. – fujo o mais rápido possível, mas ainda consigo ouvi-la bufando de raiva. Megan era doida! Além de tratar mal meus amigos, tentava o tempo todo me controlar. Dizia que se eu quisesse parecer um personagem emo de anime, deveria voltar para o japão de vez. Eu sou do Canada.

Me misturo com algumas pessoas, que eu conhecia graças à faculdade. Quando começo a ficar entediado, decido procurar por Alice, para ver como estão as coisas — e talvez, por sorte, se ela gostaria de dar o fora. Passo uma olhada pelo cômodo onde estava, depois na pista de dança. "Talvez ela esteja na sacada", pensei. Me enganei. Mas, quem encontrei lá estava longe do que eu esperava ver, fazendo uma coisa que eu não a imaginaria fazendo em um milhão de anos.

– Noen! – ela exclama ao me ver – Bela estrelinha.

– Oi, Carmen. – digo, e ela franze a sobrancelha – Belo cigarro.

– Então descobriu o meu nome, é?

– Sim, descobri.

– Formidável. – ela simula uma reverência, tragando o cigarro.

– Você viu a Alice? – pergunto.

– Alice?

– Sua colega de quarto.

– Ah, essa Alice! Ela é sua namorada?

– Não. Mas você a viu?

– Não, me desculpe. Talvez esteja com Blake. Pergunte para uma de suas tietes.

– Perguntarei. Obrigado.

– Sem problemas. – ela se vira de costas, quase desaparecendo na fumaça do cigarro.

– Ei, por que você fuma? – deixo escapar, me arrependendo em seguida.

– Perdão?

– Por que você fuma.

– Ah. Se espera uma resposta como a de Alasca Young, sinto muito, mas não é o que obterá.

– Certo. – sorrio com a referência – Mas por que?

– Por que quer saber? – se vira para mim novamente, com os olhos semi serrados.

– Isso pode te matar.

– Se importaria?

– O que?

– Se eu morresse?

– Não sei, não te conheço ainda. Talvez. Mas preciso do seu número, para ter certeza. 

– Esperto. – ela ri coma voz meio rouca – Não acho que vou te dar meu número.

– Tudo bem. Posso saber o motivo?

– Você não quer ser como eu, Noen. – ela caminha para perto.

– Tem razão. Não quero ser como você. Quero saber quem é você.

Ela para, se posicionando a centímetros de distância do meu corpo. Consigo sentir sua respiração e o cheiro forte de cigarro. Franzo as sobrancelhas. Não era o típico cheiro de cigarro. Tinha um cheiro de... morango! Existiam cigarros de morango?

– Certo. Faça bom uso, Noen. – ela pega minha mão e tira uma caneta do bolso, anotando seu número nela. Suas mãos estavam frias, com as unhas pintadas de vermelho, azul e amarelo. Reprimo a risada, pois sinto muitas cócegas na mão. Então apenas sorrio, sem mostrar desespero.

– Farei, Carmen.

𝐛𝐚𝐜𝐤 𝐩𝐨𝐜𝐤𝐞𝐭 | ocWhere stories live. Discover now