O ambulante e o sabiá

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Os dois costumavam a acordar às 5 e meia. Às vezes, antes das cinco. Precisavam alimentar as crias e os rebentos que não cessavam de querer, de chorar de piar por um pouco mais. Queriam comida, queriam liberdade. 

Numa cidade como aquela: grande, cheia perigos e imprevistos, eles pareciam pequenos. E de fato, eram. Eram peças de um intricado e confuso quebra-cabeça desorganizado. Peças que faziam parte da engrenagem pesada da cidade. Parafusos que se soltassem, outros haveriam de substituí-los facilmente. 

Apesar da imagem frágil e suscetível, os dois eram perseverantes. Ambos se conduziam pela cidade, por seus próprios meios. Independentes, não temiam voar mais longe se precisassem. Tudo para ter seu ganha-pão ( ganha-migalha, mesmo) Mesmo muito próximos ao solo e suas ameças, iam. Sabiam se defender muito bem, mas se ameaçados, escondiam-se. 

Para muitos dali, eles eram os principais contribuidores para os problemas das cidades: eram barulhentos demais e ocupavam espaço. Para alguns, deviam ser exterminados e para outros, realocados. Para poucos, eles eram, de verdade, notados. Se assemelhavam a arvores. O fato é que a cidade já não tem espaço para mais intrigas, mais problemas, mais dilemas... 

Eram de menos, mas quando se somavam, eram demais.

Entre eles, a disputa era  acirrada. Deviam obedecer regras inventadas por outros, que não eram de sua espécie e jamais entenderiam.

Até que fossem exterminados, e em um futuro muito mais próximo do que o imaginado, seriam. Pois as espécies se extinguem, os cantos se emudecem e tudo vira cenário e som de cidade grande. 





O ambulante e o sabiáHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin