— Dash me falou isso — Chris contou.

O adolescente puxou os fones para baixo com uma expressão confusa.

— Eu ouvi meu nome.

— Você me disse que uma apresentação com resultados ruins não me define — Chris repetiu.

Dash sorriu e concordou, mas puxou os fones de volta. Ele era um pouco distante e quase não conversamos ao decorrer dos dias, apesar do nosso contato na véspera de Natal. Mas ele não me parecia um garoto ruim também. Naquela idade, com os hormônios se misturando em uma sopa conflituosa, o mínimo podia ser o fim do mundo. Eu o entendia, porque já tive uma fase assim — e ainda precisava lutar contra as últimas células restantes.

Eu e a família falamos pouco ao caminho do teatro. Srta. Ewing estava muito elegante em sua calça jeans e blazer claro, o qual combinava com os saltos de cor amarela. Se eu não estivesse atenta em seus movimentos, suspeitaria que a mulher havia viajado para outra dimensão. Ela parecia muito alheia de tudo, mas eu sabia que estava em vigilância: o olhar sorrateiro no espelho para ter a certeza que as crianças estavam bem, a virada sutil de queixo para me avaliar, a atenção dobrada antes de atravessar uma rua. Ela só estava quieta.

Eu esperava voltar ao meu apartamento antes da Virada do Ano. Eu não pensei que demoraria tanto para que descobrissem a identidade do meu perseguidor. Srta. Ewing não falava mais sobre isso, porque, possivelmente, seu ajudante não chegara em nenhuma resposta. Eu desejava tê-las em breve, porque não era como se pudesse morar com eles — eles já haviam feito muito. Eu estava quase desistindo de ficar pela mansão e mandando-me de volta para casa, mas um medinho permanecia dentro de mim e me alertava sobre não ser descuidadosa.

Srta. Ewing estacionou em uma ótima vaga. Havia poucos carros espalhados ao redor, mas eu não fiquei esperançosa com a possibilidade de ter poucas pessoas competindo. Sempre havia uma boa quantidade de gente fazendo as audições no final de ano. Até mesmo gente de outra cidade. Raramente via o teatro vazio naquele período, porque tínhamos certa tradição em se apresentar. Alguns apareciam com a esperança de conseguir uma vaga no elenco, mas outros só faziam pela experiência e pelo prazer. Eu esperava que Delilah estivesse na linha entre os dois.

Os lugares eram excelentes, porque tínhamos plena visão do palco inteiro. Ainda assim, vi Srta. Ewing colocando os óculos de gatinho. Eu tinha sorte de não ter nenhum problema nas vistas, mas adoraria parecer séria, responsável e sensual como a mulher aparentava só em tê-los colocado na face. Sentei-me à esquerda dela, enquanto Dash se acomodava no outro assento livre do meu lado.

Alguns instrumentos estavam espalhados pela extensão do palco. Entramos bem no final da audição de um garotinho de, no máximo, doze anos. O violino pendia em suas mãos, mas ele se demonstrava muito confiante e habilidoso. Movia-se de acordo com as notas: ora calmo, ora agitado. Fiquei entretida com a apresentação e aplaudi com vigor no encerramento. Ele cumprimentou a plateia e saltitou para fora do palco.

Apenas depois de outras três apresentações muito bem executadas (nada de extraordinárias, mas memoráveis) que um homem chamou:

— Delilah Beckett.

Anotei mentalmente o sobrenome, porque Srta. Ewing não o levava consigo, sequer o havia me apresentado antes. Eu gostaria de saber se ela nunca se casara ou se passara por um divórcio. Pensando bem, quase não sabia do seu passado, e depois de mastigar tudo o que Damian me fofocara, desejava descobrir cada vez mais a respeito daquela mulher. Ela aparentava ser muito profunda, mas não tive nenhuma oportunidade de explorar suas águas.

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