A N T E S

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L O U I S

Às vezes detesto o garoto que eu era naquela época. É como ver um filme de terror e não conseguir evitar desprezo pela virgem que vai dar uma volta no bosque de madrugada. Como ela pode ser tão burra? Não sabe que está prestes a ser morta a machadadas?

Pois deveria saber. É por isso que é tão difícil assistir a filmes desse tipo. Queremos que ela saiba. Queremos que se defenda e a desprezamos pelo perigo não passar pela cabeça dela, mesmo que a culpa seja obviamente do cara que a mata. A questão é que o filme faz com que o criminoso pareça uma força da natureza – irrefreável –, e a virgem fica sendo a idiota que não checou a previsão do tempo antes de sair à noite, para verificar se havia um alerta para assassinatos em série.

Nos últimos tempos, se alguém me mandasse uma mensagem de texto apenas com ahmeudeus! escrito, eu não me perguntaria se o que estava prestes a descobrir seria ruim. Só iria querer saber quão ruim seria e quanto tempo eu levaria para me arrastar para longe do poço em que estivesse prestes a cair, qualquer que fosse.

Mas em agosto do meu segundo ano no Putnam College eu não me preocupei. Achei que Liam, meu melhor amigo e colega de quarto, talvez tivesse se distraído antes de terminar o raciocínio. Sequei os cabelos e me levantei para atirar a toalha molhada no cesto de roupa suja do closet. Errei. Enquanto eu a pegava para colocar no lugar, chegou outra mensagem no meu telefone, desta vez com um link. Você precisa ver isto, dizia. E então, imediatamente depois, Eu sinto muito.

Cliquei no link.

Acho que parte de mim já sabia. Porque ser um bom moço significa passar a vida toda desenvolvendo um radar bastante preciso para detectar qualquer coisa capaz de fazer com que as pessoas nos amem menos. Garotos como eu – ou como eu era em agosto – se alimentam de aprovação. Nós vivemos para isso. Então, quando fazemos algo idiota – ou, digamos, algo inacreditavelmente estúpido –, sabemos disso. Na tela apareceu uma foto minha, sem camiseta, com o pau do Nate na boca. Olhei para a imagem e respirei fundo. Fechei os olhos e senti o chão embaixo de mim se abrir.

Sei que pode parecer melodramático falar assim, mas não consigo pensar em outra forma de descrever a sensação. Em um minuto eu estava com os pés no chão – um garoto bem-sucedido de 19 anos louco por política, a caminho da faculdade de direito e de ganhar o mundo – e, no instante seguinte, me encontrava em queda livre.

Eu me apoiei na mesa. Não conseguia respirar direito. Não demorei nem um segundo para entender a gravidade da situação. A compreensão imediata percorreu uma espécie de atalho entre os meus olhos e a área do cérebro que fez uma lista silenciosa e particular das consequências daquelas fotos no instante em que Nate as tirou.

Todo mundo vai ver você, zombar de você, odiar você.

Você não vai entrar para a faculdade de direito.

Você nunca vai conseguir uma bolsa de estudos.

Você nunca será juíz ou ganhará uma eleição.

Isto muda tudo. Depois de ver aquelas fotos... fiquei arrasado. Imediatamente. Porque eu deveria saber. Naquela noite, quando fiz um boquete em Nate e ele levantou o iPhone no ar, mirando a minha cabeça, meu radar de bom moço estava funcionando direitinho. Não é uma boa ideia, o radar me disse. Péssima ideia. Mas eu ignorei o sinal, porque Nate estava a fim e eu achava que, se concordasse, ele acabaria deixando aquilo de lado. Você confia nele, eu disse a mim mesmo. Nate jamais faria nada de mais com as fotos. Mas ele fez. Só pode ter feito.

O site me identificava como Louis Tomlinson, do Putnam College, em Iowa, e Nate era o único que tinha aquelas fotos. Ou ele as pôs lá ou as deu a alguém que fez isso. Havia uma foto de rosto, sorrindo. Uma com biquinho que eu havia mandado de dentro do carro só para fazer graça. Outra usando minha cueca boxer nova, tirada na frente do espelho do meu quarto, encolhendo a barriga e estufando o peito porque queria parecer sexy. Eu queria muito ser sexy para ele. E havia as outras, ainda mais safadas. Aquelas para as quais eu quase não conseguia olhar. Três delas.

Abaixo de todas, mais uma de rosto, com um balão de história em quadrinhos dizendo: Meu nome é Louis Tomlinson! Sou uma bicha frígida que precisa ser COMIDO!!!

Eu não conseguia chorar. Não conseguia respirar. Não conseguia acreditar naquilo.

A página tinha 462 comentários. Quatrocentos. E sessenta. E dois.

Se alguém tivesse me perguntado dez minutos antes como eu me sentia em relação a Nate, eu teria respondido Ah, não tenho ressentimentos. Depois de três anos juntos, apenas tínhamos nos afastado. Acho que foi culpa da faculdade. No final do nosso primeiro ano, eu havia começado a achar que não tínhamos mais tanto em comum. No ensino médio, eu nunca havia saído com ninguém até ele me convidar para um encontro – demorei a desabrochar, como dizia meu pai. Nate era bonito, popular, inteligente. Fiquei lisonjeado por ser notado por um garoto como ele.

Mas no Putnam passei a ter a impressão de que faltava algo entre nós. Química. Uma ligação mais profunda. Eu havia terminado o namoro com ele antes da volta às aulas. Dividimos uma pizza com refrigerante e eu tentei explicar meu raciocínio sem ferir seus sentimentos. Achava que tinha me saído muito bem, porque, no fim do jantar, ele estava sorridente e agradável de novo.

Então, respondendo à pergunta anterior, eu teria dito que ele era um cara legal. Que ainda éramos amigos. Assim, embora eu não estivesse exatamente surpresa, ao mesmo tempo estava, sim. Eu tinha obedecido às regras, me esforçado para tirar boas notas, namorado um garoto legal e o havia feito esperar bastante até fazermos sexo. Aquilo não devia estar acontecendo. Eu não imaginava que meu par no baile de formatura, meu primeiro namorado, meu primeiro homem, usaria a internet para me chamar de viado viciado em porra na cara e diria o nome da minha faculdade e da minha escola logo abaixo de uma foto de boquete.

Quem imagina uma coisa dessas?

Afundei na cadeira e rolei as primeiras telas de comentários. E as seguintes. Uma tela após outra.

Ele tem uma bunda bonita

Eu pegava

*fap fap fap fap vlw Louis, seu puto!*

Que viado mais feio. Eu quero mais bunda!

Cada palavra que eu lia – cada termo nojento que algum cretino teclava sobre mim em um porão qualquer – me fazia pensar: a culpa é minha.

Minha culpa, minha culpa, minha culpa.

Eu nunca deveria ter deixado Nate tirar as fotos. Sabia disso. Sabia no momento em que ele as tirou, sabia depois e sabia quando terminamos e eu tive um impulso fugaz e urgente de implorar que ele me deixasse apagar tudo. Um impulso que eu havia ignorado por não querer ofendê-lo. Eu não quis ser grosseiro.

Fiquei ali sentado por um longo tempo, rolando as páginas e lendo, secando as lágrimas com as costas da mão. Eu ofegava mais do que respirava, surtava mais do que raciocinava; estava desorientado demais para fazer qualquer coisa parecida com um plano coerente. Acho que eu estava em luto pelo fim de algo que nem sabia que tinha acabado. Minha juventude, talvez. A parte ensolarada e perfeita da minha vida.

Só quando Liam me mandou outra mensagem – Vc tá bem? – que eu realmente compreendi. Pensei nele voltando para o quarto depois de ter visto. Ele saberia, e eu teria que encará-lo. Pensei que não seria apenas Liam. Seria todo mundo.

Então me dei conta de que eu nunca mais ficaria bem de novo.

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Voltamos a programação normal, galera! Espero que não excluam dessa vez k

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{Adaptação da obra "Profundo" por Robin York; todos os direitos reservados ao autor}

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