— Então, eu falei com a Srta. Ewing sobre você, mas me perdi nas datas. Acho que eu deveria parar de misturar bebidas pesadas. Às vezes não lembro se beijei alguém, se fiz algo errado, se deixei Alien e Tea sem comida. Seria possível ter Alzheimer com vinte e seis anos?

— Phill, você está divagando... — falei. Sentia meu pé grudando no jornal, mas não me movi. Provavelmente sairia com alguma folha presa na minha sola.

— Seu primeiro dia é hoje — ele avisou.

Inconscientemente já tinha levado uma mão para minha testa, mas abaixei o punho antes que sujasse meu cabelo de tinta. Achava muito difícil confiar em datas e horários que Phill estabelecia, porque nem sempre estavam certas. Eu pensei que meu primeiro dia seria dali a uma semana, porque ele me deixara com tempo para pensar. Além de não ter nenhum tempinho para considerar a proposta, agora precisava correr para chegar na casa da mulher, senão perderia a oportunidade.

— Meu Deus, Phill! — exclamei. — Você é impossível, hein?

— Desculpa, meu amor. Eu realmente me esqueci disso. Na minha mente, você só começaria, sei lá, bem depois. Estamos em novembro e temos as datas comemorativas, algumas sem trabalho e aula, outras bem agitadas. Eu só esqueci mesmo — ele falava meio culpado enquanto alguns ruídos de pneus raspando e buzinas altas ressoavam no fundo.

— Me passa o endereço por mensagem, ok? Eu só vou arrumar as coisas aqui e estou saindo de casa — avisei.

Ele concordou e eu só desliguei a ligação. Eu não teria tempo sequer de tomar um banho, porque, pelo visto, estava muito atrasada. Normalmente minhas aulas começavam cedo, antes do almoço, mas agora estávamos no horário do chá da tarde! Corri para o banheiro para tirar o máximo de sujeira da minha roupa e pentear o cabelo de maneira que eu parecesse apresentável.

Coloquei meus sapatos, peguei um casaco impermeável e meu teclado no suporte do quarto, procurei por um tempo a chave da moto e sai correndo para fora. Tudo muito depressa. Sequer consegui dar uma última olhadinha no espelho. Se a tal Srta. Ewing era rica e poderosa e sei lá o quê, possivelmente queria alguém ajeitado e normal para dar aula aos filhos. Mas, pensando bem, meu melhor amigo não se encaixava em "ajeitado", tampouco em "normal", então achei que eu estava segura.

Eu amava pilotar minha moto, mas nunca com o teclado preso nas costas. Sentia-me desconfortável e perdia o equilíbrio muito fácil. Exatamente por isso que não levava ninguém comigo. A última vez havia sido no início do ano, quando um aluno batera o carro e precisava urgentemente chegar em sua audição em Londres. Eu fiz pela necessidade, mas tinha muito medo de derrubar alguém.

A moto também não era nada estilosa, mesmo que o filho de uma colega da faculdade houvesse colocado um punhado de figurinhas que, segundo ele, protegeriam-me de possíveis acidentes. Quando descobriam que eu pilotava uma moto, por exemplo, ficavam bem animadinhos pensando que eu tinha uma Harley Davidson. Mas depois de conhecerem a peça rara — ou lata velha —, ficavam meio sem jeito.

Eu queria ser uma motociclista linda, tatuada, estilosa e cabelos sedosos para que voassem em câmera lenta quando eu tirasse o capacete, mas isso não acontecia. No lugar disso, eu não tinha dinheiro para pintarem meu corpo, meus cabelos quase nunca se moviam e quase nenhuma maquiagem se dava com a minha pele, porque eu tinha alergia a tudo.

Felizmente a casa da mulher não ficava muito longe. Tudo bem que a falta de trânsito me ajudara, mas consegui chegar em vinte minutos. Passei entre carros e ônibus para chegar o quão antes. Ainda assim, estava completamente atrasada. Eu queria esfolar meu melhor amigo, mas tentaria fazer isso depois. Antes, precisava me atentar à aula (que não havia preparado) e conhecer as criancinhas, que eu torcia para que fossem legais e eficientes para a idade.

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