Prólogo.

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Camila Cabello

Alguns diriam que ela era o próprio demônio na terra.

Eu, por outro lado, tinha a mais absoluta certeza que se o diabo estivesse presente, cederia aos seus caprichos por medo.

A verdade, é que minha chefe nunca foi uma pessoa fácil de se lidar, sequer se dispunha a isso. Parecia que a mesma tinha um fascínio pelo difícil. Algum tipo de prazer inexplicável em ver as pessoas gaguejando á sua frente.

- Foi uma pergunta simples senhorita Jenkins.

- Desculpe eu... - Engoliu o seco em nervosismo, trocando o peso de perna logo em seguida - Acho que não entendi.

- Você é burra? - Jauregui repetiu a pergunta anterior, mantendo o semblante ameno - Ou isso é algum tipo de atuação?

- Não, eu só pensei que...

- Qual seu cargo, senhorita Jenkins?

- Modelo.

- Então, sinto em te informar, mas você não é paga pra pensar, é paga por ser bonita - Afirmou erguendo a sobrancelha - Pode parecer algo horrivel de se dizer, mas é assim que o mundo da moda funciona, se não gostou, então não entre.

- Senhorita Jauregui, por favor me desculpe. Foi um acidente.

- Sei que foi, e é só por esse motivo que não irei te demitir imediatamente. Agora saia da minha sala.

Engolindo as lágrimas, a modelo ruiva se distanciou da mesa, provavelmente agradecendo aos céus por não ter sido demitida.

O crime dela?

Bem, eu não sabia ao certo, algo sobre derrubar café na tapeçaria de dez mil dólares que minha futura chefe tinha em seu escritório.

Assim que o som da porta de vidro foi ouvido, segurei com mais força minha caneta. Lauren tinha o poder de intimidar qualquer um com um simples olhar.

Ela suspirou pesado, antes de levar à mão ao telefone fixo de sua mesa e discar um número ainda desconhecido por mim.

- Dianne Jenkins, quero ela demitida até o final do dia.

Simples assim.

Em um simples telefonema ela havia tirado o emprego da moça que há segundos atrás implorava por perdão.

Abaixei o olhar pensativa, onde eu estava me metendo?

- Algum problema com isso? - A voz dela fez com que meus olhos se erguessem em uma velocidade impressionante.

- Hãm, não, senhorita Jaurrgui, nenhum.

- Ótimo. - Ela então fez uma breve pausa para analisar o meu currículo por cima. Não pareceu se importar em realmente ler antes de amassar na minha frente e jogar na lata de lixo ao lado da mesa - Você sabe o porquê de eu analisar as candidatas á minha assistente pessoalmente?

Neguei instintivamente com a cabeça e a vi se inclinar sobre a mesa.

- Porquê eu odeio erros. Mas, admito que eu mesma venho falhando na minha função uma vez que nenhuma das garotas aguentam o tranco...

Eu não sabia se poderia responder á observação dela, acredite, eu tinha algo interessante a acrescentar. Provavelmente falaria se aquela fosse uma entrevista comum, e se eu não tivesse acabado de ver uma garota sendo demitida por derrubar café.

- Me diga uma coisa senhorita... - gesticulou com as mãos.

- Cabello.

Se tivesse lido meu currículo saberia.

- Senhorita Cabello. Você precisa desse emprego? Ou está aqui por algum tipo de capricho?

Eu entendi o significado da pergunta. A clássica história de "milhares de garotas matariam por esse emprego". Bem, elas que afiassem seus machados e facas bem longe de mim, eu não era uma delas.

Na verdade, talvez fosse, mas não pelos mesmos motivos.

- Eu não estaria aqui se não precisasse, senhorita - Tentei soar educada em minha resposta.

- O que quer fazer da vida? Creio que seu sonho não seja ser minha assistente.

- Bem, na verdade, eu acabei de terminar a faculdade de administração... - Eu ia continuar, mas ela me interrompeu.

- Você é de Nova York?

- Não, cresci em Miami. Me mudei pela faculdade.

- Tem família aqui? Amigos?

- Também não. Ainda sou nova em Manhattan, não conheço ninguém...

Ela se recostou na cadeira me analisando, e a súbita sensação de que eu estava indo mal me atingiu em cheio.

- Isso quer dizer que está disponível vinte e quatro horas por dia.

- Bem, não vinte e quatro horas, mas...

- Isso não foi uma pergunta - Afirmou me cortando - Obrigada pela entrevista senhorita, alguém ligará para você amanhã, te dando um retorno.

Era isso?

E todo o discurso sobre o porquê d'eu querer trabalhar na empresa que havia ensaiado tantas vezes no chuveiro?

Me levantei calmamente, acertando minha saia ao meu corpo. Jauregui, não fez questão nenhuma de esconder o grande X que havia feito ao lado do meu nome impresso em uma de suas folhas de papel.

Internamente, meus olhos rolaram em descrença e eu me permiti dar as costas e sair da sala da editora chefe com a certeza de que aquele não era o meu lugar.

Breakaway (Camren)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora