Capítulo 14

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Mia
Acordo assustada quando Justine me grita. Axel estava ardendo em febre. Eu nunca me senti tão impotente, eu quero ajudá-lo, mas eu não tenho nada. Entro em desespero, eu preciso pensar em algo.
- Mia - saio do transe quando ela me grita.
- Vamos limpar a ferida e trocar esse pano. - Ela me encara desesperada, seus olhos marejam - Desculpa, eu não posso fazer muita coisa agora. - Vejo Molly acordando, ela percebe que algo não está certo.
- Ele piorou? - Fazemos que sim com a cabeça. Ainda não amanheceu completamente está mais frio que o normal, olho para o Max que ainda dorme.
- chama ele precisamos ir - digo em total desespero. - precisamos chegar na comunidade que você falou, ele não vai aguentar muito tempo. -digo a molly que apenas concorda com a cabeça.
- nós vamos caminhar juntos até a metade do caminho, são 2 horas de caminhada, mas com ele assim vai demorar pelo menos três. Vamos juntos até a metade do caminho, mas o restante vou com Max o mais rápido possível para pedir ajuda. - Concordamos e Molly acorda Max e explica para ele o que está acontecendo. Faço os procedimentos na perna de Axel e o hidratamos bastante. Deve ser o suficiente para ele ir razoavelmente bem.
-preciso falar algo a vocês- Molly diz parando na nossa frente antes de irmos - estamos levando caça, isso deve ajudar, mas não é garantia de que eles irão aceitar. Vou precisar contar a eles quem vocês são.
- como assim? - Justine pergunta sem acreditar- sabe que isso é perigoso você não pode falar. Qualquer um pode nos entregar.
-eu sei, mas sabe que eles são uma comunidade grande, sabe que se descobrir que estamos mentindo nunca mais vou poder voltar lá, nunca mais vão me ajudar. Eu preciso contar, não posso chegar lá e mentir, mas é provável que eles entendam e que nos ajudem mesmo assim.
- não temos opção - diga encarando Justine.- ele precisa de ajuda. - ela concorda e continuamos nosso percurso. Agora muito mais complicado hoje temos que praticamente arrastar Axel.
Depois de uma hora e meia de muito esforço, Molly e Max começam ir na frente sem nós, para tentar conseguir ajuda, nosso trabalho ficou bem mais difícil sem eles.
- como é essa comunidade? Você fala como se fosse muito importante. - Pergunto a Justine.
- eles são muito importantes. Eles são a única comunidade que decidiram não viver esperando algo dos governos, criaram seus próprios costumes, suas próprias regras, tentaram desenvolver seus conhecimentos e é o único lugar que possui um mínimo de decência fora dos muros para ajudá-lo. Diferente das outras comunidades que decidiram viver esperando por algo que nunca vai acontecer.
- como eles fazem isso? Eu sei que vocês não têm metade do que a gente tem lá dentro. Como consegue fazer uma medicina aqui fora?
- a natureza é mais poderosa do que a gente pensa. Eles aprenderam que ela pode fazer tudo, ela pode destruir, pode criar, pode curar. É por isso que as pessoas aqui fora entendem a importância disso tudo diferente de vocês, a gente sabe que é a única coisa que pode nos dar uma realidade um pouco diferente do que estão nos submetendo. - Os olhos dela marejam - Eu nunca fui lá sabia? Mas eu sempre escutei histórias. Eu sempre quis conhecer, Molly sempre me falou como eles eram unidos e tinha uma organização invejável, como chegar lá era outro mundo era uma ponta de esperança de que nem tudo estava perdido. Eu sempre quis conhecer esse lugar capaz de criar esperança.
- Vamos conhecer - Digo e mando um sorriso gentil a ela. Desde que me falaram dessa comunidade o meu desejo em conhecê-la cresceu. Eu queria muito entrar em contato com uma nova medicina.
Eu não sei quanto tempo passou, mas logo eles apareceram acompanhados de homens que vestiam as típicas roupas fornecidas as pessoas da comunidade. Eles eram fortes e fariam o nosso trabalho de forma muito mais fácil com a maca improvisada de madeira que eles carregavam. Entregamos Axel e eu agradeci, mas um pouco e eu iria com ele naquela maca. Abraço Max.
- Ele vai ficar bem - Max sussurra em meu ouvido. Faço que sim com a cabeça e nós continuamos andando, vou apoiada nele.
Quando chegamos meus olhos se arregalam, pequenas construções de madeiras se encontram atrás das casas e nelas estão escrito várias nomes de referência a alas médicas. " Enfermaria" "UTI" entre outros. Justine me encara e sorrir. Além das pequenas construções as casas não parecem tão deteriorada como as das outras comunidades, as cores são diferentes e consigo ver algumas plantações próximas, como pequenas hortas e singelas flores. Além disso, parecia que ali vivia muitas pessoas, as roupas limpas também me chamaram atenção.
- As roupas são limpas- Digo a Justine e Molly também escuta.
- Muitos lagos próximos, eles se organizam para fazer as lavagens, arriscado, mas eles gostam de terem roupas limpas. Todo mundo gosta na verdade.
- Eu sinto saudades disso. - Molly revira os olhos quando digo.
_ Preciso falar com você - Ela diz.
- vou acompanhar o Axel - Justine diz se retirando, ainda com olhos explorando cada canto daquele lugar.
- O que foi? - Pergunto cruzando os braços.
- Falei de você para eles, você pesou muito na escolha deles de nos ajudarem, querem que você ajude com os doentes e querem aprender com você.
- Tudo bem.
- Apenas os líderes sabem a verdade sobre vocês então calada.
- Ok.
- Estão esperando para você ajudar com o Axel. - Concordo e vou até a pequena casa de madeira que se encontra Axel. Uma mulher de cabelos grisalhos, cabelos trançados, que aparenta não ter menos que 60 anos se aproxima. Justine nos observa.
- Você é a garota que veio dos muros?
- Sim.
- Vou ensinar você como cuidamos dos machucados.
Ouço atentamente tudo que ela explica, a função de cada planta e até mesmo casca de frutas. Mas o que mais me impressionou com certeza foi a forma que eles conseguem extrair a penicilina, mesmo sem equipamentos. Ajudo ela em cada procedimento utilizado com Axel.
- Como posso aprender mais sobre isso? - Pergunto e ela sorrir.
- Dessa forma, nossos conhecimentos não estão registrado em livros, mas em cada uma dessas pessoas.
- Então vai ser um prazer ajudá-los. - Digo. Observo o paciente que acaba de chegar, eles parece incomodado com as enormes feridas em sua mão.
- Pode limpar? - Nadja pergunta ao me ver olhando para elas. Concordo.
- Olá, posso ajudá-lo com essas feridas? - Ele faz que sim. - Está sentindo muita dor?
- Não consigo trabalhar de tanta dor.
- Então senhor...
- Almir.
- Senhor Almir, vamos colocar alguns remédios e fazer um curativo, mas elas só vão melhorar se o senhor não trabalhar por alguns dias. - Digo e instantaneamente Justine e Nadja me encaram como se eu fosse completamente sem noção.
- A senhorita sabe que não temos essa opção. Se não trabalhar, eles cortam meus suprimentos.
- Talvez o senhor possa conversar com eles e tentar explicar...
- Mia - Nadja diz colocando a mão sobre meu ombro - Você pode terminar o curativo do Axel? Eu vou terminar com o senhor Almir. - Concordo e me levanto. - Senhor Almir, pensei que não viria hoje, parecem pior do que ontem.
Aquilo foi como uma facada no coração, não era a primeira vez e com certeza aquelas feridas são de anos e anos de trabalho pesado. Me sento ao lado de Justine. Ela me abraça. Me derramo em lágrimas.
- As feridas nunca vão sarar - sussurro para ela.
- Eu sei - Ela me encara e limpa minhas lágrimas- Nada é justo aqui fora.
- Eu não sei se consigo lidar com isso, eu quero ir naquele muro e pedir que considerem, quero implorar. - continuo abraçada com ela chorando.
Quando o senhor Almir vai embora, Nadja se aproxima.
- Não está mais no seu paraíso. - Ela me encara por um tempo pensativa- recebemos pessoas de todos os cantos,  tentamos ajudar a todos, mas nossa equipe ainda é pequena, você é talentosa, seria útil aqui. - Não sei porquê, mas naquele momento tudo o que eu quis foi aceitar.
- Preciso pensar.
- Por enquanto, tem muito mais que você pode conhecer, inclusive outras histórias.
Continuo acompanhando Nadja pelas outras casas de madeira e eu jamais vou conseguir explicar o impacto que aquilo me causou, o mais cruel foi chegar a ala dos pacientes com câncer. O câncer de pele devasta as pessoas aqui fora. Eu quero ajudar cada uma dessas pessoas. Eu entendi porque aqui é o local de esperança para muitas pessoas.
Quando tenho um descanso fico junto a Justine, Axel, Max e Molly. Sabíamos que logo ele acordaria.
- Será que Trenx está bem? - Pergunto quebrando o silêncio entre nós.
- Espero que sim - Diz Max. Molly e Justine se encaram.
- Não vamos comentar - Molly diz e eu reviro os olhos. - mas o amigo dele com certeza.
- Quem? - Escutamos Axel perguntar.
- Você acordou - Justine diz toda feliz. Coloco minha mão sobre sua testa e ele parece sem febre.
- Vai sobreviver - Digo e ele sorrir.
- Precisa melhorar logo - Molly diz quebrando nosso clima de felicidade. - Não me olhem assim, eles não querem confusão e logo os militares vão aparecer por aqui.
- Podemos nos esconder.
- Mia, os militares daqui aceitam tudo isso, mas não podemos falar o mesmo sobre os outros. Essa é a vida deles e não podemos arruinar isso.
Alguém bate na porta e vemos Nadja. - Temos uma festa para nossos convidados. - Nos encaramos surpresos.
- Mas e o Axel? - digo.
- Vão por favor, eu quero dormir mais um pouco. - Justine fica relutante, mas logo cede.
Quando saímos vemos uma fogueira acesa, algumas pessoas ao redor com instrumentos improvisados com baldes e latas. Um homem começa a cantar, eu não conheço aquela música, mas eu realmente gostei. Fala sobre uma ultima noite com a pessoa que ama.
Uma noite pra viver tudo
Uma noite acordados
Uma noite pra roubar um banco
Rasgar a roupa apaixonados
Uma noite depois noite
Em que a gente termina
Nosso pacto, a última noite
E a melhor de nossas vidas.

Dançamos a noite inteira, aquilo foi mágico, um dia feliz no meio do inferno que estamos vivendo.
- Estão nós chamando - Molly diz enquanto se aproxima quando já estávamos jogados no chão mortos de cansados.
- Quem? - Pergunto.
- Os líderes - Ela parece tensa e logo todos a acompanhamos para a casa em que eles estavam reunidos. Eles estão sentados em uma mesa e outros quatro lugares estão livres para nós.
- Algum problema? - Justine pergunta.
- Queremos a ajuda de vocês.
- Com o quê? - Max pergunta.
- Queremos derrubar o governo. - fico em estado de choque, eu não esperava por aquilo.

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