Reconciliação.~09

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        Um dia depois do beijo as coisas não foram tão boas, pra começar o Caio não olhava para mim, ou eu não olhava para ele, não sei. Só sei que eu não conseguia manter meus olhos nele sem pensar no seu beijo e em como fui falsa com a Clara.
     
          Olhar para a Clara me trazia angustia também, ela ria para ele enquanto eu colocava o café na mesa, ela conversava com ele enquanto eu tirava a mesa. E ele sorria, e ele concordava. Será que ele não se culpa pelo que fez? Isso foi tão errado que as vezes saio do local pra poder respirar, eu lembrava de como fiquei quando soube da traição de Gisele e Alex.

    Depois de uma semana horrível com a família Matheis, hoje é domingo e a Estela está na minha casa, quer dizer, ela sempre esteve, ela vai fazer um almoço diz ela especial pois seu quase namorado(ficante) foi convidado e ele vai trazer sua filha, pois é, ele tem uma filha.

- Você acha que está bom olha: arroz refolgado, purê de batata, uma lasanha de frango, bifé, e suco natural. Para sobremesa sorvete de morango, ouvi falar que criança gosta de sorvete. - ela diz contando nos dedos as comidas.

- Estela, você está apaixonada?

- Lógico que não! - ela diz nervosa.

- Não minta pra mim.

- Eu gostei do beijo dele do...

- Me poupe da intimidade de vocês dois.

- Então eu gostei dele, quem sabe não vira namoro.

- Pra você fazer um almoço desses, se arrumar desse jeito, tenho certeza que sente algo com esse tal de Davi..

- Você acha que eu exagerei?

       Ela pergunta e vai se olhar em frente ao espelho do meu quarto, ela está tão bem vestida que eu até estranhei quando vi. Um vestido longo de cor verde e florido com uma tecido transparente na parte de baixo deixando suas canelas à mostra, uma sandalha baixa, e claro que uma mulher como ela não iria deixar escapar o decote no busto que a proposito, a deixou mais elegante e sexy ao mesmo tempo.

- Claro que não, Estela, você está deslumbrante! - respondo.

- Não exagera, Mell. Você também está linda!

           Olho para minha roupa e, bom, é bonita, estou com uma saia jeans com botões na frente, e uma blusa cinza de manga, nada de mais. Estela solta meu cabelo, suspira e diz:

- Queria tanto que o Caio te visse assim, bonita, sem aquelas roupas horríveis de empregada.

Reviro os olhos.

- Ele já me viu com outras roupas, Estela. E pare de falar sobre isso, o seu ficante vai chegar para o almoço e é disso que devemos falar.

- Amiga, por que ele não termina com a Clara?

         Penso na pergunta e sei exatamente a resposta. Ele só faz o que a mãe manda, ele basicamente está enganando a Clara, como saberei se ele  também quer me enganar?!

- Estela! - grito repreendendo ela, ela levanta as mãos em redenção e a companhia toca.

- Ai Meu Deus! - ela susurra enquanto se ajeita.

- Vai logo atender!

         Ela corre direto para sala, abre o trinco da porta, caminho atrás dela, ela respira fundo e abre a porta e logo um par de olhos azuis encaram a Estela que por sua vez abre um belo sorriso de orelha a orelha. Olho para baixo, a criança de mais ou menos 7 anos de idade está de mãos dadas com a do pai, os olhos azuis arregalados, assustados com a recepção.

             Ele entra já abraçando a minha amiga e beijando, a menina senta no sofá ainda desnorteada.

- Essa é a Mell, minha melhor amiga, Mell esse é o Davi. - ela nos apresenta.

- Óla, prazer em conhecer o tão falado Davi. - comprimentei.

- Prazer é meu! a Estela fala muito de você também. Ah..essa é minha sapeca Alice, Alice comprimente a tia Estela e a tia Mell.

- Ela não é minha tia, elas são irmãs da minha mãe? elas são suas irmãs? que eu saiba irmãos não se beijam na boca.

        Arregalamos os olhos. A menina é inteligente, vejo desespero nos olhos de Estela.

      Bom, para começar contando nosso desespero, digo, o desespero da Estela, devo começar com o escândalo da Alice na hora de almoçar. Já ouvir falar que criança é péssima pra comer, mas a Alice, ela deve querer morrer desnutrida. Na sobremesa Estela achou que iria acertar em cheio, quando ia servir, Davi percebeu e contou que a menina tinha alergia a corantes, eu avisei a Estela que ela tinha que fazer com a fruta, mas ela não me ouviu. O que salvou foi algumas uvas que tinha na geladeira (sim, a menina gosta de fruta), ou seja, Estela começou mal sua missão de conquistar sua enteada.

        Quando eles foram embora ela chorou no meu colo, depois de dois minutos disse que iria procurar na internet como se faz sorvete da fruta.

                            ***
         Estela saiu e já são quase dez da noite, mas eu nem penso em dormir, só quero ficar em meu mundinho, olhar as estrelas e, por mais que eu não queira, lembrar daquele beijo maldito que me trás mil e um pensamentos, minha barriga embrulha, minhas mãos soam só de lembrar.

           A campanhia toca me fazendo dar um pulo de susto. Desço as escadas do terraço e vou direto atender a porta. Assim que abro dois pares de olhos castanhos me fitam confusos, desesperados e aflitos.

- Oi. - ele diz depois de uma eternidade me encarando.

            Ele entra e eu fecho a porta atrás de mim, parece que tudo está no automático. Pareço nem sentir minhas pernas.

- O que veio fazer aqui? - pergunto. Pareço ter sido grossa? Depois que falei pareceu.

- Eu não consigo dormir, ou ao menos passar um dia inteiro sem pensar naquele dia.

- Eu também não. Só que de outra forma, da forma como você traiu sua namorada descaradamente, e em como fui capaz de participar disso.

      Ele põe as mãos no bolso abaixando o olhar.

- Não se sinta culpada, por favor.

- Como não? - cruzo os braços - Me diz como você conseguiu porque eu preciso saber.

- Me desculpa, aquela atitude não foi falsa, aquelas palavras também não, não me culpe por gostar tanto de você a ponto de preferir se sentir culpado.

          Fico em silêncio.

- Eu conversei com a Clara, na verdade, ela tomou atitude de vir falar comigo. Ela disse que sentia que algo estava errado em mim.

- O que?

- Ela disse que não me queria 50%, ela me quer inteiro, ela quer que eu a ame, porque seria recíproco. Ela me contou que ouvir você falar de mim é a mesma coisa de me ouvir falar de você, é confuso mas, os nossos olhos brilham. Ela me disse que os meus olhos não brilham quando falo com ela.

- E o que quer dizer?

- Quer dizer que ela terminou nosso namoro, quer dizer que, com palavras dela, eu estou livre pra viver o meu amor.

- Como posso acreditar nisso?

     Ele sorri.

- Ela vai conversar com você amanhã.

           Ele se aproxima e me dá um abraço, daqueles que te tiram do ar, que te aperta e que você sente todo cheiro sufocar. E ele me beijou, tão urgente. Melhor do que o primeiro, que será inesquecível, mas dessa vez foi nosso beijo, nosso cheiro misturado, com nossas mãos dadas e sorrisos estampados.
        

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