CAPÍTULO 2 - Susan

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E sobrevivendo desse jeito que, alguns dias atrás, tive a brilhante ideia de fazer uma viagem de 5 anos para o Brasil. Há cinco meses atrás, vasculhando entre as coisas do meu pai, encontrei um folheto escondido na gaveta sobre um projeto de inclusão para alunos do exterior cursarem o ensino superior em São Paulo. Dentre os cursos ministrados, acabei encontrado um que se enquadrava na temática química e cosméticos. Então, juntei o útil ao agradável, fiz todas as etapas online e, duas semanas atrás, acabei sendo convocada.

Nesse momento, lembrei que papai ainda se encontrava ao meu lado e me censurei mentalmente por ignorá-lo.

- Pai, vou dormir um pouco e descansar a mente. - Falei, levantado da cadeira da bancada.

- Tudo bem, querida. Ainda tenho trabalho para terminar. Vejo você depois que acordar. - Ele se ergueu e guardou o resto de sorvete na geladeira.

Acenei sorrindo e segui em direção à escadaria de casa.

Encontrava-me numa bela encruzilhada: abandonar tudo na Itália e tentar uma vida no Brasil ou continuar por aqui e apaziguar todos os meus empecilhos, com papai ao meu lado. A resposta parece meio óbvia, mas eu não quero deixar o meu melhor amigo. Além do mais, tenho plena certeza que ele não apoiaria minha viagem. Papai sempre prezou muito a segurança da família e estar fora de sua vista seria uma falta bem grave. Eu acho completamente exagerado todo esse cuidado.

Subindo para o calor familiar do meu quarto, continuo divagando em pensamentos. Quando abri a porta, vi que Smigool estava confortavelmente deitado na minha grande cama de casal, quietinho demais para o meu gosto.

- Por que eu estou com a sensação de que você andou fazendo merda? - Falei, alisando sua cabeça escura e branca.

Smigool era um São Bernardo enorme e peludo que comia mais do que eu mesma. Na maioria das vezes, realmente acho que ele fica possuído por alguma entidade do além, já que não é fisicamente possível um cachorro fazer tanta bagunça assim. Desde que me recordo, ele faz parte da família, mas diferente dos outros cães de guarda, Smigool era dócil. Dócil e atentado. Uma combinação um tanto interessante.

Vasculhando entre as coisas do quarto, descobri a causa da sua quietude suspeita: os adoráveis vestidos de luxo de Susany se encontravam mastigados debaixo da minha cama. Eu deveria gritar e brigar com meu querido cachorrão, porém minha deusa interior estava celebrando e dizendo: "Viu, Susan?! Smigool teve coragem para fazer o que você sempre sonhou em destruir"

- Bom garoto! - Falei sorrindo. Ele apenas sacudiu a cauda e mostrou sua grande língua babada, como se dissesse: "Eu sei, humana!"

Deitei ao seu lado na espaçosa cama, porém, antes mesmo de descansar os olhos e me entregar nos braços de Morfeu, meu celular tocou. Praguejando, atendi sem ver o identificador de chamada.

- Alô? - Bocejei.

- Pelo amor de Deus, Susan! Não é hora de dormir - Susy praticamente berrou ao telefone. - Onde você se enfiou, pequena rata? Preciso te contar uma novidade bombástica.

Eu não sabia se ficava chocada por sua ousadia em me xingar tão abertamente ou por ela estar me telefonando. Susany nunca ligava, nem mandava mensagem. Nunca! Só podia ser carma. Com certeza, na minha vida passada, eu fui uma pessoa tenebrosa que assassinava cachorros e dava os restos para pombos comerem. Agora Deus está me culpando por fazer a desentendida. Suspirei e sentei na cama.

- Susany, eu estou em casa. - Massageei a têmpora que mostrava sinais de uma futura dor de cabeça. - O que você quer agora? Completar o estrago depois dessa manhã horrorosa?

- A culpa foi sua! Ninguém mandou dormir com o pai da Ada. - Comentou ironicamente.

- Eu sei e você também sabe que a pessoa nas fotos não era eu. - Levantei o tom de voz. - Era você, Susany! - Acusei. - Como teve coragem de dormir com um cara que tem a idade para ser nosso pai? Como pode fazer isso com sua amiga? Você tem noção de que ele poderia estar na cadeia agora? Você é menor de idade, sua retardada!

As Damas de (Des)HonraWhere stories live. Discover now