01 | faith gwyneth

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— Eu não sei se os outros gatos cheiram mal. Eu dou banhos em Cash com frequência. Eu prometo.

Fiz menção de atravessar a porta mas Kiera moveu o corpo esguio, barrando-me. Eu respirei fundo, soltando o ar lentamente de meus pulmões. Eu não estava surpresa. Esta fraternidade era composta por garotas exigentes e elegantes, as vagas eram disputadas e havia uma enorme burocracia por trás da seleção de companheiras de quarto. Elas analisavam fichas escolares e antecedentes familiares. Como eu disse, uma enorme burocracia. Mas eu jamais iria abrir mão de meu animal de estimação.

— É uma regra, Faith. Não iremos mudá-la por você. Dara teve que abrir mão de seu Golden Retriever no ano passado. Se você quiser, posso arranjar o endereço da casa de adoção em que ela o deixou...

— Obrigada mas não será necessário — eu a interrompi. — Não estou deixando Cash para a adoção.

— Bom, é uma pena. — Kiera bocejou, encarando as unhas compridas pintadas de um rosa neon. — Adoraríamos tê-la aqui, Gwyneth. Parece que você vai ter que se mudar para outra fraternidade. Como a Kappa Tau Gamma. Eles aceitam o drama de animaizinhos.

Meus ombros caíram em derrota. Eu abri outro de meus sorrisos forçados.

— Bom, até mais, Kiera. Acharei outro lugar para me instalar.

Quando sentei atrás do volante, meu estômago vibrou. Eu estava com fome e esgotada por conta da viagem de carro de minha antiga casa até a faculdade. E como eu achei que me instalaria sem problemas, poderia tomar o café da manhã com minhas novas colegas de quarto para tentar me enturmar. Mas meus planos não haviam saído como o esperado. Dei uma espiada em Cash em sua caixa de transporte. Ele estava esparramado dentro da gaiola de plástico e suas íris safiras em formato de lua cheia se fixaram nas minhas. Ele parecia estar tão esgotado quanto eu.

— Passaremos em uma lanchonete para eu me alimentar antes de encontrarmos nosso novo lar, tudo bem? — Eu sorri para meu gato, mesmo sabendo que ele não me responderia.

Entrando no GPS, busquei pelo estabelecimento comercial mais próximo do campus. Uma lanchonete chamada Timmy's. Levou cerca de cinco minutos para que eu chegasse até ela. Parei meu carro — um Porsche 911 prata — ao lado de um Jeep enferrujado, esperando que eu não estivesse destoando o ambiente do subúrbio ao meu redor com a lataria fulgente.

Sem me importar, tirei Cash de dentro da caixa de transporte e o carreguei comigo para dentro, acomodado em meus braços. Eu não iria deixá-lo sozinho no carro. Um sininho tilintou sobre minha cabeça quando atravessei a porta de vidro, sendo recebida pelo cheiro convidativo vindo da máquina de expresso que ficava atrás do balcão e o aroma de tortas frescas. Graças ao burburinho de conversas presente no ambiente, ninguém pareceu notar eu ou o meu gato enquanto eu me esgueirava para uma das mesas vazias no fundo da cafeteria.

Cash pareceu ficar subitamente agitado em meus braços. Entrei em alerta. Ele tentou golpear meus braços ao seu redor com as patas cor de creme e eu o libertei quando suas garras afiadas cravaram em minha pele. Xinguei baixinho enquanto observava o sangue brotar sobre minha pele bronzeada. Minhas íris capturaram o rabo cheio de pêlos enquanto ele se soterrava em uma bagunça de tênis e pernas.

Cash escorou seu tronco contra um tornozelo coberto por uma calça jeans de lavagem escura em uma demonstração pública de afeto. Mesmo a alguns metros de distância, eu podia ouvir seu ronronar manhoso, implorando por carinho. Semicerrei meus olhos.

Traidor.

Finalmente ergui meu olhar, encarando um cara distraído em seu assento enquanto mexia no celular. Seu cabelo era castanho-dourado e seus orbes eram de um azul turquesa hipnotizante. Seus ombros largos estavam cobertos por uma jaqueta de couro preta e ele parecia alheio a tudo ao seu redor — até mesmo das diversas garotas que o encaravam fixamente. Suas íris encontraram o bichinho felpudo em seu encalço e ele soltou o aparelho sobre a mesa em um baque surdo, curvando-se para tocar um ponto aveludado, carmesim e sensível na orelha do meu gato fugitivo.

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