VII | Lorde Cavaerley

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Aquela terrível cena a trouxe de volta à realidade. Sentia retomar sua consciência; suas mãos se mexeram e algo macio entrou em contato com as palmas destas. Vozes de pessoas conversando, o ruído de pratos, copos e metal batendo contra metal invadiam o local onde estava.

Abruptamente, ergueu-se de onde estava e foi tomada por uma intensa dor de cabeça, fazendo-a fechar os olhos por um momento. A tontura a atingiu quando se pôs de pé; apoiou-se na parede mais próxima para se equilibrar. Estava em um quarto todo de madeira, relembrava os antigos estabelecimentos medievais.

Captou uma das vozes, parecia fazer um enorme esforço para falar. Ou melhor, cantar.

- A neve... cai sobre est... esta terra. O som de espad... esp... espadas cantam o hino!

Um silêncio se fez, seguido de algo pesado caindo e ferro deslizando no chão. Selena abriu a porta e a fechando atrás de si, encontrou o dono da voz jazendo de bruços no chão, os olhos fechados e, em uma das mãos, uma taça escorrendo um líquido purpúreo. A parede era feita de pedra e embora o corredor fosse iluminado por archotes, o lugar permanecia frio. Uma mulher avançava no corredor onde estava. Em uma das mãos, equilibrava como nunca havia visto a passos rápidos uma bandeja cheia de taças. Suas vestes eram incomuns, usava um vestido velho bege, com um corset marrom e um avental sobre a saia do vestido. Ela não se surpreendeu com o que encontrou, diferente de Selena, que só faltava atravessar a parede atrás de si, querendo sumir dali.

- Ah, mais um - disse, indiferente. Ela passou pelo homem sem derrubar as taças e parou na frente da menina. - Servida? - Estendeu a bandeja para Selena, que negou. A mulher logo se afastou antes que fizesse alguma pergunta.

Mais vozes vinham de onde a moça havia vindo, seguiu em direção a elas e encontrou no final do corredor uma escada que dava para um salão nem tão grande nem tão pequeno. Havia uma mesa de bar que ocupava uma parede inteira do lugar, um velho homem tomava conta das bebidas para servi-las aos clientes que só faltavam cair de suas cadeiras. Em frente à mesa do bar, havia várias outras mesas para pequenos grupos de pessoas. Um dos ocupantes de uma dessas mesas notou a presença de Selena no alto e fez um gesto para o homem na frente indicando ela.
Selena, por sua vez, desceu as escadas sentindo que aqueles deviam ser seus salvadores. No entanto, ao chegar à base da escadaria, encontrou uma mulher de longos fios negros completamente bêbada.

- Traga-me mais vinho - ela exigiu, tentando erguer o dedo na altura de seu rosto para mostrar que possuía autoridade. Selena recuou quando a mulher bêbada ameaçou cair em cima dela. - Traga-me mais vinho, sua meretriz inútil!

Selena se afastou, assustada, desviando da mulher que quase partiu para cima de si e esbarrando em alguém. Ela olhou para a pessoa. Um homem alto, com uma barba branca bem penteada. Ele olhava a mulher com as sobrancelhas quase tocando uma a outra, como quem estivesse incomodado com sua inconveniência, vestido com uma malha grossa sob a camada de armadura negra que usava. Ele impediu que a mulher caísse sobre a menina quando tentou de novo argumenta, levando-a para uma porta que parecia ser a saída e deixando Selena frente a frente com um garoto pouco maior que ela. Era impossível não notar, embora na pouca iluminação que havia ali, os olhos feitos do mais puro e fino ouro.

- E seu nome, qual é? - perguntou quando notou que ele não sairia de seu caminho.

Sua postura estava ereta.

- Christopher, senhorita. - Fez um aceno com a cabeça. - E você?

- Selena. - Observou o lugar ao redor. - Onde estou?

- Na Toca dos Andarilhos...

- Há poucos raios da cidade mais próxima - Surgiu um homem por trás do jovem, pousando sua mão ossuda no ombro dele. Fez esforço para sorrir cordialmente, o que só o deixou mais medonho, devido à cicatriz marcada no lábio inferior. - Sou Sir Rictherd Gallavhar. - Um homem de pele fantasmagórica marcada por grandes manchas pretas na pele.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora