IX | Mel nos dedos

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A primeira noite — dessa vez, consciente e debaixo de um teto — de Selena em Opaali não foi muito agradável. Primeiro: não era nada confortável dormir numa superfície maciça com apenas pele de urso a impedindo de dormir de fato no chão. Além disso, ainda havia as corujas que se empoleiravam no galho atravessando a sala e as penas que soltavam, o que arrancava vários espirros em Selena ao longo da madrugada. Como se não bastasse, Barnard acordava cedo demais. Não que houvesse problema nisso; a questão era ele sair correndo pela sala gritando (e pulando) como se o mundo precisasse saber das boas-novas que trazia.

Ao abrir os olhos, seu colar estava ao seu lado novamente. Colocou-o no pescoço na mesma hora e, ao se levantar, encontrou Lynn sentada numa poltrona próxima do poleiro. Estava acariciando uma coruja sua enquanto lia um livro.

— Não achou nada sobre o colar?

Sem erguer os olhos a ela, balançou a cabeça.

Enquanto isso, Barnard, que havia escancarado a porta do quarto dos meninos sem rodeios, pulava na cama de Alec para o acordar. O irmão mais velho lançou o pior dos olhares para Barnard quando este finalmente o tirou da cama em seu quarto.

— É hoje! Chegou uma leva de mel na cidade — disse o pequeno puxando o irmão pela mão. — Vamos Lena! Vamos!

Selena, no entanto, continuava insatisfeita com a resposta.

— Você se esforçou, por acaso?

Quieta, Lynn fechou o livro, marcando a página que havia parado com o dedo, e a fitou com as olheiras tão purpúrias que ficavam ainda mais evidentes naquela pele pálida feito neve, ainda mais acentuada sob a luz da alvorada invadindo o lugar. Lá fora, tudo estava tomado pela neve, mais até mesmo que no dia anterior.

— Se esses colares são verdadeiros, tanto o seu, de opala, quanto o de Alecsander, de turmalina, devem haver mais informações a respeito deles na biblioteca do castelo. — Salientou, porém — Na área onde somente o lorde e o mágister têm acesso.

Christopher surgiu da cozinha com uma baguete mordida na mão. Com a ausência de qualquer sinal de sono, estava sem sombra de dúvidas acordado há mais tempo.

— Lynn passou a noite lendo e lendo. Leu, não sei como, todos os onze livros com mais de trezentas paginas cada e não achou nada até agora.

Selena olhou a mulher e o estado deplorável de cansaço que assombrava seu rosto. Na capa do livro que lia estava escrito: Artefatos Míticos e Suas Funções, por Mágister Deodore.

— Agora, espera. — Ergueu a mão aberta, arregalando os olhos. E o sino da cidade tocou anunciando o amanhecer. — Bom dia. — Abriu um sorrisinho pretensioso.

Ai, que chato esse garoto!

— Insuportável... — deixou escapar, murmurando.

— Bom dia para você também, Seleninha — comentou indo para o quarto.

Sentiu o sangue sob sua pele ferver quando ouviu o apelido que mais detestava.

— Não sei se reparou — começou, Lynn, com a voz rouca —, mas ainda estou lendo. Só deixo o recado para o Lorde de Corwennion ali que se quiser arriscar entrar na área restrita, que procure qualquer livro que contenha títulos relacionados ao colar.

— Pode deixar. — Piscou os olhos para Lynn, que o ignorou.

— Vamos, Kit, pegar mel — Barnard pulava tentando agarrar os ombros do jovem.

Princesa de Gelo: O Legado da Aurora [Vol 1]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora