|16| O Apocalipse: Tânatos

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— Não fale mais nada, Hades — ordenou. — Agora é a minha vez de contar minha história.

— Mas eu nunca o contei minha, você não me conhece nem um pouco — resmunguei.

— Será? — Perguntou sugestivo.

Ele estalou os dedos e Namjoon se aproximou em posse de cadernos. Ele colocou-os cuidadosamente sobre a mesa e lançou-me um olhar que fui incapaz de decifrar antes de recuar junto aos outros. Jungkook levantou a capa de um para que eu pudesse vê-lo e meu corpo inteiro tremeu em surpresa ao perceber que o caderno era um de meus diários. Os em que eu havia escrito minha história desde o Demônio Albino até plano de me tornar Jimin como o primeiro passo de minha vingança.

— Engraçado como você pensou que poderia andar com isso para sempre e nunca ser descoberto — disse. — Fica bancando o coitado quando, na verdade, você não é nada além do que o vilão dessa história. Você, Hades, é o vilão da minha vida. Ainda não percebeu isso porque está sob influência de meus poderes, mas isso logo irá passar.

— Esses diários são pessoais! — Esbravejei. Tentei lançar-me sobre a mesa, mas os espinhos das cordas cravaram-se em meus ossos e eu recuei, encolhendo-me com a dor excruciante. — Você... — resfoleguei tentando achar minha voz por entre a dor que os espinhos causaram. — Você não tem direito de invadir minha privacidade. Esses diários são meus e essa história é minha!

O salão mergulhou no mais profundo silêncio por diversos pares de segundos. Entretanto, tal silêncio foi rasgado quando Jungkook soltou um riso de escárnio e depois caiu em uma gargalhada estrondosa e o chão tremeu conforme o compasso de sua risada, vibrando como se fosse um organismo vivo. Ele olhou para trás e rosnou uma ordem para que seu exército o acompanhasse, então eles caíram em um estrondo risonho que encheu o salão com ondas macabras. O riso saiu forçado, o que o tornou ainda mais assustador. Mas o riso acabou assim que ele estalou os dedos e bateu uma peça-peão no vidro do tabuleiro. E o silêncio retornou cortante.

— Por que estava rindo? — Perguntei provando do sabor da humilhação, sentindo-me um pouco menor do que já me sentia antes.

— Você... — ele caiu na risada novamente, puxando uma respiração profunda para, enfim, parar. — Você acha que tudo isso pertence a você? — Ele pareceu incrédulo apontando para os diários.

— Bom... — gaguejei encarando-os sobre a mesa. — Eles são meus, eu que os escrevi e vivi cada detalhe.

— Você é hilário! — Deu um soco repentino na mesa, debulhando-se em uma risada assombrosa. — Ou talvez sejam os efeitos de meus poderes ainda agindo sobre sua mente. Não ligo, de qualquer forma.

— Onde você quer chegar com tudo isso? — Perguntei. — Não basta você ter me enganado e brincado comigo? Parece que quer chegar em algum lugar, mas fica enrolando como um idiota!

— Ah... — gemeu, voltando a bater os dedos na tampa. — Finalmente o gatinho mostrou as garras. Quero ver se terá coragem de me arranhar quando eu soltar seus pulsos.

— Basta me soltar e verá — murmurei. — Eu o amo, Jungkook. Disso eu não posso fugir. Pelo que percebi, você conhece minha história e sabe disso, pois escrevi sobre você em quase todos os diários. — Forcei um riso e ele soou amargurado, pois finalmente havia me dado conta de que nunca estive no controle. A maior prova era as amarras de espinhos ao redor de meu pulso. — Você sabe que é meu ponto fraco e se aproveitou disso para o quê, exatamente? Sou apenas um demônio que rouba memórias e as manipula. Tem conhecimento sobre isso, mas, apesar de conhecer meu dom e minha força de vontade, sabe que não sou forte o suficiente para causá-lo qualquer dano definitivo.... Matar-me de uma vez o consome menos tempo e me poupa amarguras. — Suspirei sentindo que, naquele ritmo em que as palavras deixavam minha boca, eu poderia não parar tão cedo. — Estou cansado de fingir ser quem não sou, estou cansado de perceber o quão burro fui ao cair em suas mãos.... Só acabe com isso de uma vez...

Nas Mãos do Diabo [1] O MaestroOnde as histórias ganham vida. Descobre agora