Feridas Abertas

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Estava sem dúvida, desesperada. O que raio é que se passava entre mim e Harry? Bastaram apenas algumas horas, ao fim de 15 anos, para que nos envolvessemos duas vezes e para que ele fugisse duas vezes. Se achava que eu tinha problemas, o rapaz não ficava atrás.

Observei a minha figura ao espelho e peguei num dos livros que fora da minha mãe e decidi entrar naquele mundo da imaginação, pelo menos seriam algumas horas em que poderia esquecer de tudo o que me rodeava.

Respirei fundo e quando olhei para o telemóvel, não podia acreditar, já eram 20 horas e eu não havia comido nada, durante o dia. Pousei o livro no sofá e encaminhei-me para a cozinha, onde preparei comida e Observei a tempestade pela janela, bem na verdade estava a observar a casa da frente, a casa do avô de Harry.

A esperança de ver Harry a atravessar a rua e vir a minha casa, acabar o que começara horas antes, era enorme, mas já sabia que era improvável. Soltei um suspiro e voltei a pensar na minha preciosa comida.

Quando acabei de comer, voltei para o sofá e voltei ao mundo de imaginação que me levara a outra dimensão, durante todo o dia.

Com as horas a passarem, fechei os olhos e adormeci.

**

Acontecia tudo em câmara lenta, uma e outra vez, mas eu não podia fazer nada e sempre que tentava, apenas piorava as consequências do acidente.

Os cadáveres sangretos, observavam o meu esforço em vão e cada vez pareciam mais desiludidos, todos me culpavam pelo acidente e o meu rosto enchia-se de lágrimas.

- Por causa de ti, nunca irei ter um namorado ou sair à noite! - gritou o cadáver da minha irmã, antes de ser projectada pelo vidro.

**

As gotas salgadas invadiram o meu rosto e um grito rouco escapou - se da minha boca. Todos aqueles sonhos estavam a dar comigo em louca, já não sabia se iria aguentar muito mais tempo. Puxei os meus joelhos, contra o meu peito e chorei. Premiti-me chorar pela minha dor, não pela dor deles.

Levantei-me do sofá e caminhei até à cozinha, onde peguei numa faca e deixei o meu corpo, deslizar pela parede. Parei um segundo, para avaliar tudo aquilo em que me tornara e estava demasiado assustada. Levei a faca ao meu pulso esquerdo e acabei por me cortar, podendo ver o meu sangue, bem vermelho, a escorrer pelo meu pulso. Encostei a cabeça à parede e voltei a repetir o movimento e aquela dor, foi bem mais suportável do que a dor da perda de todos os meus próximos.

Não reconhecia a pessoa que era, eu nunca fora assim. Eu era a líder da claque, não olhava aos meios para atingir os fins e nunca dera o devido valor à minha família, até que os deixei todos partir. Toda aquela dor psicológica, levou-me a fazer mais alguns golpes no pulso, mas quando me deparei com todo aquele sangue, espalhado no meu pulso, no chão e nas minhas calças, assustei-me. Raios, o que acabara de fazer? Estás louca.

Pousei a faca no lavatório e limpei aquilo que acabara de fazer, não queria que ninguém visse aquilo. Com ninguém, queria dizer Harry. Com algum custo, por causa do meu pé magoado, subi as escadas e fui a casa de banho, aproveitando para desinfectar os cortes e para me enfrentar ao espelho.

Nenhum daqueles cortes, se comparava com a minha cicatriz, mas sem dúvida que eram os que mais me magoavam.

RUDE- livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora