AM(D)OR

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Pii

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Pii... Pii... O número discado está fora de área ou desligado, (...)

E mais uma vez repouso o celular sobre a mesa de madeira, localizada no corredor da minha casa. A Alice não atende as minhas ligações há quase uma semana e algo me diz que tem coisa errada acontecendo. Nós nunca estivemos tão distantes assim e ficar dias sem vê-la faz meu coração doer.

Nesse momento, torno-me um mero brinquedo da ansiedade e da aflição. A distância articula maldosamente contra nós dois para que não possamos estar juntos. É tão agonizante não sentir o seu perfume adocicado ou sua voz suave, até mesmo a sua gargalhada atrapalhada faz-me imensa falta. Essa garota mexe com todos os meus sentidos mesmo longe, demonstrando ser uma arma fatal que tens meu tolo coração em suas mãos.

Alice Sanders é a garota perfeita. Vencedora do concurso Miss Beleza do Colégio, essa colocação foi mais do que merecida devido ao seu pequeno porte físico, dotado de curvas invejáveis e longos cabelos loiros. Seus olhos azuis vão além daquela metáfora idiota de oceano ou céu, para mim eles são a própria redenção – ou o purgatório, se não souber fitá-los corretamente. Apesar de ser baixinha, nossos corpos parecem possuir o encaixe perfeito e sua voz agrada-me demasiadamente. Creio que nem mesmo os querubins possuem tamanha delicadeza.

Eu, Gabriel Gonzalez, sou um imigrante mexicano. Eu e minha mãe – Glória Gonzalez – viemos para os Estados Unidos cinco anos atrás. Inicialmente, sentia-me de lado no novo colégio mas a Alice apareceu como um anjo, puxando-me do abismo da solidão. Ela falou comigo no primeiro dia de aula, sentando ao meu lado e até ousando dividir o lanche comigo.

Desde aquele dia, venho a admirando arduamente como um escultor admira sua inspiração antes de usar as mãos para tecer sua obra. Alice é e sempre será a minha obra prima.

Como começamos a namorar? Minha mãe aprovou o namoro desde sempre, encorajando-me à continuar ao lado da bela dama apesar das diferenças. Isso mesmo, somos diferentes. Eu sofri um acidente doméstico quando era mais jovem, perdendo quase 80% da minha pele original. Por isso, uso ataduras brancas por boa parte do meu corpo e evito ficar exposto ao sol por muito tempo.

Mesmo com essa diferença, Alice Sanders não tirava os olhos de mim e trocávamos conversas agradáveis. Então, certo dia, criei coragem para me declarar e agora somos namorados. Porém, a felicidade ocultou seu sorriso nesses últimos dias pois não vejo a minha garota. Ela não atende minhas ligações e seu celular parece estar sempre desligado. Devido às circunstâncias, deduzo que haja alguém a perseguindo e ela pode estar presa em cativeiro agora mesmo.

— Eu preciso fazer algo. — murmuro aflito até que sinto a mão da minha mãe sobre mim.

— Tente ligar novamente.

Sei que essa é a décima vez que escuto o conselho de Glória nessa noite, mas não posso negar que ela é a voz da razão. Então, ligo para a Alice e resolvo falar quando a ligação cai na caixa postal.

Contos da AlmaWhere stories live. Discover now