Prólogo

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Eu já havia perdido as contas de quantas balas haviam atravessado a porta do carro em que eu tentava me esconder

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Eu já havia perdido as contas de quantas balas haviam atravessado a porta do carro em que eu tentava me esconder. O sol escaldante faz a minha pele arder, e eu tento ao máximo me proteger, mas quando estou em uma troca de tiros, a única coisa que eu espero é a morte.


Termino de carregar a meu fuzil, e uma bala atravessa a porta, bem próximo de mim dessa vez, por pouco não acerta meu braço esquerdo. Faço sinal para um dos meus soldados atirarem em quem esteja atrás de mim, e uma rajada de tiros quase me deixa surdo.


Aproveito a distração e avanço, dou uns tiros e vejo que um terrorista filho da puta foi atingido. Alguns homens correram até um beco, e eu os seguis, mirei e atirei na cabeça de um. Meus soldados me seguiram, e corremos entre os habitantes locais, cuja grande maioria tem ódio de nós americanos, mas pouco nos fodemos para a opinião deles.


Logan e eu fomos em uma direção oposta dos demais, entramos em uma viela, onde mulheres corriam e gritavam ensandecidas, e logo descobri o motivo. O terrorista estava com uma pistola apontada na cabeça da mulher. Logan e eu paramos, e levantamos os nossos braços. A situação agora está realmente complicada. O protocolo diz para tentarmos salvar a vítima, mas é quase impossível em uma situação dessa.


Logan me olha assustado, é apenas um garoto de 24 anos, e é seu primeiro ano na guerra.


— Então, Capitão, o que devemos fazer? — Ele pergunta, bem baixo, de maneira que somente eu seja capaz de ouvir.


— Aponte a arma para ele. — Mando. O menino me olha assustado. — Agora!


Ele levanta sua AK-47, e me olha. A mulher, que aparenta ter seus 50 anos, começa a chorar e implorar pela vida, apesar de eu não entender uma palavra sequer que ela fala, porém sei que está implorando pela sua vida. Eu tento acalmá-la.


— Está tudo bem, tudo bem...


Começo o mantra na minha cabeça. O Talibã ainda está ocupado demais olhando para Logan, que aponta a arma na cabeça dele. O cara começa a gritar conosco, e nesse momento eu aproveito para puxar a Desert Eagle do meu coldre, e atiro em sua cabeça. Uma ação ágil, que durou menos de dez segundos.


Os miolos do cara se espalham pelo Hijab da mulher e ela se joga no chão com o susto. Faz uma breve oração, e segura a minha mão, agradecendo por ter salvo a sua vida e logo foge entre as vielas. Pelo menos eu salvei uma vida hoje.


Após ficar praticamente um ano vivendo na base militar, no meio do deserto do Afeganistão, eu só queria tomar um banho de verdade. É apenas sobre isso que eu pensei após me limpar como pude com um pano úmido. A água potável aqui é escassa, e meu corpo já começa a me deixar enojado de mim mesmo por eu estar há uma semana sem me banhar.


Deitei em minha cama, no meu pequeno espaço reservado, já que eu sou o capitão. Liguei o rádio improvisado, e tentei colocar em alguma estação, a procura de uma notícia, mas quase nada em minha língua. Frustrado de tanto tédio, eu acabei desistindo e fui até o lugar onde os outros soldados estavam sentados ouvindo música.


— Capitão Bennett, decidiu sair da toca hoje? — O Soldado Jackson falou assim que eu me aproximei do grupo.


— A verdade, Jackson, é que eu não aguento mais esse tédio.


Sentei em um banco e observei a partida de dama que eles jogavam. Minha mente foi até o Oregon, onde eu vivia ao lado da minha mãe e meu pai, que já é falecido. Entrei no exército americano apenas para arrumar uma grana no tratamento do meu pai contra uma insuficiência cardíaca, uns dias antes de sua morte eu voltei ao Oregon, mas não consegui mais ficar depois que ele faleceu, e me alistei novamente, e já tem praticamente um ano que eu não volto para casa. 


Tenho contato com minha mãe, Mercedes, quase que diariamente pelo telefone. E sinto falta do seu jeito espalhafatoso. Fiquei ao lado dela após a morte do meu pai por um tempo, mas parte de mim não conseguia ficar, não conseguia ser forte, e eu precisava de adrenalina. Adrenalina essa que somente a guerra nos permite sentir.


— Que cara é essa de quem comeu e não gostou, Capitão?


— Queria eu comer alguma coisa.


Os caras riram, e começaram a falar de suas necessidades sexuais. Confesso que não estou muito diferente, pois já são meses e meses sem contato com uma mulher. E eu já não consigo mais me tocar ultimamente, mas é a única coisa que tem me restado.


Solto um suspiro frustrado, e torço para que Trump decida tirar as tropas do Afeganistão muito em breve. Quero tomar um banho descente, comer a comida da minha mãe e ficar com a primeira mulher que aparecer na minha frente. 

Campo de Guerra (COMPLETO NA AMAZON)Where stories live. Discover now