Campo de Guerra (COMPLETO NA AMAZON)

I

Rosália Sánchez

Praguejo ao chegar no salão, carregando a minha mesa de massagem. São exatamente 14 horas da tarde, e eu estou a manhã toda fazendo massagens e mais massagens, e agora eu tenho dois horários seguidos marcados no salão. Sorrio para todas as clientes que já estão sendo atendidas, e sigo para a minha cadeira, ao lado da minha mãe, que já está pintando o cabelo de Marta, uma de nossas clientes assíduas.

— Como foi hoje? — Minha mãe pergunta, enquanto eu guardo as minhas coisas.

— Cansativo, mas foi ok, sempre ok. Senhor Carliste sempre com um cecê repugnante, mas nada que eu não supere, talvez eu deva comprar uma máscara de gás tóxico.

Dona Marta começa a rir do que eu falo, e eu rio sem graça. Às vezes, só às vezes mesmo, eu tenho a mania de falar mais do que eu deveria, e às vezes isso me coloca em situações constrangedoras.

— Ah, minha filha, são coisas da vida

Minha primeira cliente chegou, e ela queria fazer uma progressiva. Trabalho no salão de cabeleireiro com a minha mãe desde os meus 14 anos, quando eu comecei a me interessar por ganhar dinheiro. E aos 17 anos eu comecei um curso técnico de massoterapia.

Sempre gostei de ganhar meu dinheiro, e estou sempre me virando nos trintas para conseguir otimizar mais o meu tempo. Durante a manhã eu faço massagens a domicílio e durante toda a tarde eu fico no salão, se a noite pintar algum bico, eu já estou indo atrás.

Estava ouvindo a senhora Bennett comemorando a decisão do Trump de tirar as tropas americanas do Afeganistão, pelo que eu me lembre, o filho dela é capitão do exército, e está há quase um ano na guerra. Eu lembro pouco dele, fazem anos e anos que eu não o vejo, mesmo quando eu frequentava a casa da Mercedes durante um café da tarde com a minha mãe, ele nunca estava lá.

Terminei a progressiva da senhora Bennett, que chamou minha mãe e eu para comparecermos na festa de boas vindas do filho dela, e aceitamos. Já que ela é amiga antiga da minha mãe, e ela viu o tal de Dominic crescer.

Steven, meu melhor amigo e manicure do salão da minha mãe, estava empolgado para a recepção do filho de Mercedes, ele é o tipo de cara que gosta de homens uniformizados. Não pode ver um policial que fica enlouquecido. E ontem quase morreu quando foi chamado para a "festinha" de Dominic.

Minha mãe passou o dia no salão, enquanto eu perambulava de ônibus por Scappoose, indo atender meus clientes em suas casas. Não tive nenhum horário no salão, então decidi ir até a casa de dona Mercedes para ver se ela precisava de alguma ajuda.

— Ah, minha querida, toda ajuda é bem-vinda, confesso que já estava ficando preocupada, porque eu ainda vou ter que buscar Dominic no aeroporto. — Ela dizia, enquanto eu a ajudava a pendurar uma faixa de boas-vindas na parede.

Ela é uma mãe atenciosa, já que enfeitou tudo com cores do uniforme militar, eu só espero que o filho dela não seja um daqueles caras metidos a sabichão que odeiam surpresas, porque se for assim, eu já não irei gostar dele.

Coloquei os aperitivos sobre a mesa, as cervejas para congelar, e mandei uma mensagem para Steven dizendo que já estava o esperando. Alguns familiares e amigos de Dominic chegaram, e eu me sentei esperando pelos meus pais.