ISABELA

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Abro os olhos, a respiração acelerada faz meu peito subir e descer descompassado, meu coração dispara, assustada, sento-me na confortável cama king size onde dormia. O quarto está na penumbra, odeio escuridão, então sempre deixo a luz do banheiro da minha suíte acessa, a sensação de acordar a noite e não ter uma luz como norte me causa desespero. Afasto lentamente o cobertor e deslizo minhas pernas para fora da cama, sinto a macies do tapete felpudo bege ao toca-los com os pés, amo tons claros, me acalmam e confortam. Ligo o abajur de mesa ao lado, levanto-me acendendo a luz do quarto, a claridade predomina, sigo para o banheiro, minhas mãos pálidas e trêmulas abrem a torneira dourada cascata da pia, instantaneamente lavo-as, em seguida meu rosto, punhos e nuca, a vontade de chorar me invade, mas me contenho, uma angústia em meu peito lateja, puxo a toalha branca bordada com as minhas iniciais, preciso ser forte, tento me convencer disso.

Retorno para o meu quarto, pego meu celular que está sobre a mesa redonda que diariamente tomo meu café da noite, há nela um pequeno vaso transparente de cristal e flores artificiais rosa, sento na poltrona, deslizo o dedo na tela para verificar a hora, já são 4:32 da madrugada, não me lembro se sonhava, mas continuo nervosa. Os questionamentos invadem minha mente, quero correr para o quarto ao lado onde meus pais dormem tranquilos, já fiz muito isso, hoje acho injusto acordá-los, preciso enfrentar meus temores sozinha, preciso me libertar desta situação. Uma lágrima vitoriosa escorre pela minha face, olho para a porta de vidro que dá para a varanda do meu quarto, queria ir até lá tomar um ar fresco, mas não tenho força, olho em volta, as paredes são revestidas de papel de parede em três tons, rosa claro, nude e bege, vejo o mural com fotos minhas com meus pais em momentos especiais e isso vai acalentando o meu coração. Volto para a cama, estou mais calma, me deito, faço uma oração, avalio a minha situação, concluo que a minha crise não foi tão aguda e aos poucos vou relaxando e tudo vai escurecendo, pego no sono.

8:10 da manhã do dia seguinte, estou disposta, quem me vê reconhecerá a doce "menina" de 19 anos, sempre tão educada e complacente. Essa sou eu. Definitivamente eu.

- Bom dia! Achei que a senhorita aproveitaria as férias para acordar mais tarde. - Minha Mãe me acompanha pelo corredor extenso nos conduzindo as escadas para tomarmos o café da manhã. Sempre tão ponderada, cortês, linda e elegante. É uma mulher fina, acorda sempre pronta, com a pele fresca, uma maquiagem leve em seu rosto, apenas para realçar sua beleza, aos 49 anos, minha mãe é a referência de mulher da sociedade paulistana, vive sempre em eventos, tem 27 anos de casada com meu pai o Sr. Tadeu. Eles formam o casal perfeito, vivem viajando pela Europa, quando dá eu os acompanho, mas confesso que não gosto de viajar, então quando consigo escapar permaneço na casa em que vivi minha vida toda. Meu pai é empresário, sócio em uma multinacional, tem contratos com grandes empresas e com o governo, sua vida é badalada, cheia de reuniões e viagens, fez da minha mãe uma fiel companheira, ela não trabalha, nunca trabalhou na verdade, vive de agradar meu pai e ele ama isso, tiveram apenas uma filha, eu mesma, me chamo Isabela e fui afortunada pela vida, tenho pais amorosos, companheiros, que me dão um mundo, bons estudos, conforto, enfim, uma vida de privilégios.

Seguimos caminhando em direção a mesa, que já está posta com uma variedade enorme de frutas, pães, queijos, sucos, bolos, cereais, café e leite. No momento em que chegamos meu pai desliga seu iphone e me olha, seus olhos escuros, realçados por suas grossas sobrancelhas, a pele clara e uma barba bem feita com alguns fios grisalhos, tornam sua beleza maior ainda, dão uma expressão de felicidade mal contida, devolvo com um olhar sorrateiro. Minha mãe como se não aguentasse mais se segurar me lança um sorriso estonteante, eu os amo, mas está tudo tão suspeito, o que esses dois estão aprontando?

-Então, será que a minha futura médica irá mudar mesmo de cidade Verônica? - Eu paro e respiro fundo ao ouvir meu pai falando com a minha mãe.

O teu amor me cura! [COMPLETO] - Revisão em breve!Onde as histórias ganham vida. Descobre agora