11 - Dinheiro

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Desde a briga com seu pai, a garota não pediu mais pizzas, nem no dia após a entrega do Jin e nem no seguinte. Eu não sei se por causa da discussão, se seu pai falou algo ou se foi algo que eu fiz. Mas resolvi dar um espaço para ela. Eu não quero que tenha problemas por minha causa e tenho certeza que seu pai não gosta de mim.

É meio dia e o posto está vazio. Então saio do local e, como ainda tem um resto de almoço de ontem, volto para casa.

Mas um cara me para no meio do caminho e me prensa contra uma parede.

- Tá maluco? - pergunto tentando me soltar mas ele é mais forte do que eu.

- Você que está, demorando tanto para pagar o Kum - ele fala e posso ver a tatuagem em seu pescoço mostrando que é um dos homens do mesmo.

- Eu estou juntando o dinheiro - digo.

- Mas, pelo visto você está bem, não é? Recusando emprego... - ele me dá uma ajoelhada e gemo de dor.

- Do que você está falando? Quando foi que eu recusei emprego? Eu trabalho todo o tempo livre que eu tenho, durmo apenas cinco horas por dia. Eu...

Ele me puxa e me bate com força contra a parede.

- Como você disse, mesmo? Ah sim. Pensando em dar um tempo nisso de trabalhar.

Encaro-o incrédulo.

- Como você...?

- Você não faz ideia de onde se meteu, não é? Se acha que isso é uma brincadeira, você está enganado - ele sorri cínico e me empurra com mais força fazendo com que respirar se torne uma tarefa mais difícil. - Quanto você tem?

- Agora eu não tenho nada - falo.

- Não minta para mim - ele dá outra joelhada no mesmo local de antes. - Quanto tem?

- Trinta mil - digo.

- Onde? - ele pressiona mais.

- No bolso da calça - falo e ele pega.

- Vamos até a sua casa então - ele me solta e empurra para que ande. - Essa merreca não é suficiente.

O guio nervoso/irritado até minha casa.

- Eu vou... - ele entra antes que eu possa falar para não fazê-lo.

- Eu quero tudo, ouviu? - Fala cínico.

- Qual o problema de vocês? - pergunto me irritando. - Eu preciso comer.

Ele vem em minha direção e me afasta fazendo com que ria com deboche.

- Garoto, ninguém está nem aí para se você está se alimentando bem ou não. Para se você está dormindo bem ou não. Ele apenas quer o dinheiro. Todo o dinheiro. E ele vai saber se não for.

Suspiro vencido porque sei que é verdade e pego o dinheiro que eu tenho para lhe entregar.

- Grato - ele diz pegando o dinheiro da minha mão. - E se acostume porque vai ser assim a partir de agora, demorou tempo de mais. Você tem dois meses.

- Não tem como eu...

- Se vire. Ao invés de dormir cinco horas durma três, arranje outro emprego, pare de gastar dinheiro com comida... não sei. Fique feliz que ele não te deu até amanhã. E você sabe o que vai acontecer se não pagar. Não é? Não é? - repete porque não respondi.

Afirmo com a cabeça e ele vem até mim agarrando meu maxilar.

- Mas veja pelo lado bom, dois meses e não terá mais ninguém te vigiando, vendo com quem você fala e para onde vai. A hora que acorda, a hora que dorme... Quanto dinheiro tem...

Ele me empurra para trás.

- Até mais, garoto - fala se afastando. - A propósito, esse lugar está horroroso, faça uma reforma depois.

Ele sai deixando a porta aberta. Grunho de raiva e bato a mesma com força. Que merda, eu não aguento mais isso.

Me encolho num canto da sala e fico assim por um bom tempo me concentrando para não chorar. Eu não tenho disposição para ir ao abrigo, mas eu sei que não posso faltar.

Como trabalho comunitário faz parte da pena eu não posso faltar sem um atestado. Então, como não quero ser preso por descumprir mandado judicial eu pego qualquer resto de coragem que eu tenho e levanto indo até o local.

Quando chego lá a Sra. Bom me cumprimenta como sempre:

- Olá, filho.

- Oi - respondo.

- Você está bem? - ela pergunta preocupada.

- Sim - falo.

- Sabe o que eu acho? - ela sorri. - Eu acho que você precisa de um abraço.

- O quê? - pergunto.

Ela vem até mim e me abraça e acabo chorando. Chorando de verdade. Como ela é mais baixa que eu então enterro meu rosto em seu ombro me agarrando nela.

Eu não queria fazer isso, eu não queria chorar, eu não queria demonstrar fraqueza.

- Já passou - ela fala fazendo carinho na minha cabeça. - Já passou.

Nego com a cabeça.

- Não passou - falo baixo.

- Então vai passar. Não se preocupe, vai passar. Você está tão tenso esses dias, isso não faz bem para você. Você devia relaxar.

Nego novamente.

- Eu não tenho tempo.

- Ah, criança, vocês são uma geração tão ocupada - ela ri. - Tenho certeza que vai arranjar tempo para relaxar.

Ela espera até que eu me acalme para me arrastar para as costumeiras partidas de pôquer, mas nem isso me anima.

...

No final da noite passo na casa da garota, mas as luzes do segundo andar estão acesas, e como nunca vi isso acontecer chego a conclusão de que seu pai está em casa e vou embora, voltando para o posto.

Quando aquele cara disse para eu dormir menos e trabalhar mais eu não tenho certeza se foi uma sugestão ou uma ordem, então apenas fico esperando que algum carro passe.

Forever - KTHWhere stories live. Discover now