Forever - KTH

9 - Pessoas

Bato na porta e escuto o usual grito, mas dessa vez ela diz:

- JÁ VAI.

Espero um pouco e ela abre a porta.

Ela me encara e sorri.

- Vem cá, só tem você de entregador naquela pizzaria? - ela pergunta rindo de mim.

- Por quê? Você quer outro entregador, é? - brinco.

- Eu quero.

- Sério? - pergunto surpreso.

- Você me irrita - ela diz.

- Eu te irrito? - pergunto irritado.

- Sim, você é irritantemente fofo. Eu quero outro.

- Quem mandou ser maluca, ninguém mais quer vir - falo em tom de brincadeira para não magoá-la.

- Mas eu quero, poxa. Eu não consigo olhar para sua carinha fofa e não te dar gorjeta - ela fala e sorrio com vergonha.

- Sobre isso... Não precisa me dar gorjeta todas as vezes que eu vier aqui. Afinal, eu venho aqui quase todo dia e você fica gastando seu dinheiro...

- Tudo bem. Eu apenas digo que comprei algo mais caro e jogo o lixo do outro lado da rua - ela ri.

- E você não devia comer essa comida gordurosa todo dia - digo. - Com certeza não vai fazer bem para sua saúde.

- Não se preocupe comigo - ela diz. - Você que come a maior parte mesmo.

Paro para pensar e ela está certa.

- Pare de pedir pizzas e me dar para levar para casa - reclamo. - Assim eu vou ficar gordo.

- Você está precisando, está muito magrinho - ela diz e faço uma careta. - De qualquer modo, quer ficar para o jantar?

Rio.

- Eu acabei de dizer que não quero pizza - reclamo.

- Não é pizza, é Kimchi - ela diz.

- O quê? - pergunto confuso.

- O jantar, é Kimchi - ela diz.

- Então... por que pediu pizza? - pergunto confuso.

Ela sorri e entra.

Vou atrás dela e fecho a porta. Mesmo sem saber se deveria tê-lo feito.

- Tranco? - pergunto para ter certeza que devia ter entrado.

- Sim, por favor.

Faço.

- Sabe, você não tem que me alimentar ou qualquer coisa do tipo - digo e ela ri.

- Eu sei.

Ela coloca a mesa para nós e depois some pela casa voltando com a panela de Kimchi.

- Eu me sinto um intruso vindo na sua casa, comendo, dormindo... Na verdade, parece que eu estou te explorando.

- É isso que amigos fazem, certo? - Ela pergunta me servindo e depois a ela.

- Mas você não tem obrigação de fazer isso. Amigos fazem, mas me sinto mal com você gastando dinheiro comigo e...

- Eu estava falando sobre explorar - ela diz. - Amigos exploram uns aos outros. Mas, se fizer você se sentir melhor, eu estou te explorando também.

- Sério? - pergunto.

- Toda vez que você chega aqui eu aproveito para abusar da sua ingenuidade e iniciar uma conversa. Tem sempre uma segunda intenção de te fazer entrar para passar um tempo comigo.