XVI - Espadas de Madeira

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-Mudança de planos – anunciou Gelo, na tarde do quarto dia após os garotos partirem, entrando na tenda e jogando um longo pedaço de madeira liso, com pontas afiadas para mim – Não vamos partir amanhã à noite.

-O que? – Uzuri quase gritou na cama acima de mim. Até aquele momento, não tínhamos nada a para fazer além de ficar ali deitadas, fugindo do sol forte – Por quê?

-Aqueles três acabaram de chegar, alguns civis viram Azizi e ele se feriu enquanto fugia. Duas balas no braço. – ele murmurou algo, imaginei que diante a expressão de Uzuri – Precisamos tomar cuidado. Assim que devolvermos ela, tudo estará resolvido. As garotas estão colhendo informação.

-Que seja – ela grunhiu, e imaginei que tivesse voltado a se deitar. Olhei para a estaca de madeira, confusa.

-Pegue, Bethany – ele falou em tom incisivo – Já que ficaremos aqui por mais alguns dias, vou me encarregar de treinar você.

Aquilo me fez levantar em um pulo, pegando a estaca e correndo atrás dele – Me treinar? Treinar-me para que?

-Viajar metade do país com um grupo de negros de companhia e outro procurando por você, não parece à opção mais segura para mim – ele deu os ombros, fazendo sinal para que eu o seguisse – Mas a opção é sua, é claro.

-Só queria passar por tudo isso e ir para casa – suspirei surpresa por quanta verdade havia naquilo.

-Bem, foi na sua "casinha" que sequestraram você – ele debochou, olhando para a forma como eu segurava a madeira e depois para a própria mão. Tentei imita-lo. – Não sei por que seu povo acha que esta tão seguro, a ponto de não treinarem as mulheres.

-Eles treinam as mulheres! – grunhi, pensando em Annie e Isabel, ambas sabiam montar e lutar muito bem. E eu sabia que havia mulheres lutando nas frentes de batalha em Berlim, Lisboa e Atenas. – Aquelas que querem, ao menos.

-Bem, então você apenas foi tola de não querer ser treinada – ele apontou, dando um passo para frente – Eu vou atacar você agora, e você vai se defender.

-Você vai o que? – arfei, dando um passo para trás – Eu não sei nem como me defender. Você não me ensinou como me defender.

-Deveria ter pedido para seu príncipe alguém que lhe ensinasse isto, se queria aprender – ele riu, dando outro passo para frente – Agora terá que aprender sozinha.

Eu não aprendi. Eu me afastei o melhor que podia pela clareira até ficar encurralada, até o bastão voar das minhas mãos e a ponta afiada da estaca de Gelo estar a centímetros da minha garganta.

-O que está acontecendo aqui? – grunhiu Kambami, surgindo de entre as arvores. Gelo deu os ombros, afastando a ponta afiada do meu rosto e soltando em minhas mãos.

-Estávamos treinando, senhor – ele riu, levantando uma sobrancelha.

-Abba sabe disto? – Kambami exigiu, enquanto Gelo dava os ombros – Você ao menos perguntou a Cléo sobre isto?

-Em geral, não vamos até Cléo depois de estarmos feridos? – Gelo provocou, ainda sorrindo – De qualquer forma, ela foi junto com Abba. E Bethany não pareceu se opor a minha oferta.

-Foi exatamente isto que eu fiz – arfei, arregalando os olhos. Ele parou por um minuto, pensando.

-Verdade – ele concordou, olhando para mim – Mas você se saiu bem. Em fugir, ao menos.

Pisquei, sem saber como encarar aquilo – Obrigada?

-Não agradeça a ele – falou Kambami, pegando o bastão das minhas mãos e jogando longe – Não entre na cabeça dela como se a garota fosse outro russo precisando de um susto.

O Que o Espelho Diz - A Rainha da Beleza Livro II [NÃO REVISADO]Onde histórias criam vida. Descubra agora