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Em 4 de junho, Picasso deu a última
pincelada na imensa tela. Guernica estava
prestes a existir aos olhos do mundo. E
o que o mundo inteiro viu foram animais
e humanos aprisionados em uma casa
bombardeada.

Há também uma casa dentro da casa,
mas ninguém está a salvo nela.
Uma mulher, com um joelho no chão.
se arrasta olhando fixamente para a luz.
Seus pés e mãos pesam como um touro.
Outra parece mergulhar no fundo de
um poço, não de água, mas de incêndios.
Nenhuma mão a socorre. Não há ninguém
na janela.
E do lado de fora, bem no alto, seriam
mais chifres? Outros touros? Ou as cha
mas da cidade queimando? E possível
acreditar no que estamos vendo?
Para Picasso e outros artistas de sua
época, pintar não é fotografar. Mais do
que dizer, é perguntar.
A gritaria que ecoa, o barulho dos
tamancos sobre o piso, o choque do
metal contra o chão, os móveis despe
daçados... O que e a quem ouvir, o que
compreender nesse tumulto ensurde
cedor? Com os véus inflados sobre seu

corpo, um cavalo relincha.

Picasso e o Guernica Where stories live. Discover now