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   Depois do jantar, Brian estava levando Roger de volta para casa.

   Eles insistiram muito, perguntando se Roger queria dormir lá ou queria que os pais de Brian interferissem em algo, mas ele recusou, disse que já era adulto e poderia lidar com os seus problemas.

   Mesmo assim, o tritão estava preocupado em deixá-lo em casa. Os dois pararam na esquina, Brian segurou as mãos do loiro e suspirou, olhando para a casa dele a poucos metros.

   — Você tem certeza?

   — Tenho, eu preciso lidar com isso sozinho.

   — Eu tenho uma coisa pra você. — Brian juntou as mãos por alguns segundos, as mesmas brilharam, e quando ele as abriu, havia uma pérola azul lá. — Se ele te bater de novo e te machucar de verdade, segura essa pérola e pede socorro, eu vou vir o mais rápido que eu conseguir.

   — Muito obrigada. — Ele beijou o tritão na bochecha, recebendo um carinho em seu rosto. — Eu... Gostei muito dos seus pais, eles são muito gentis.

   — Agradeço. — Ele deixou um beijo na testa de Roger. — Vai dar tudo certo, é só confiar.

   — Eu espero. — Roger deixou um selar nos lábios do tritão, se afastando rumo à sua casa.

   Assim que entrou, ficou aliviado ao ver que a sala estava toda escura, mas esse alívio passou quando identificou a figura de sua mãe sentada no sofá lhe esperando. A mulher loira ligou o abajur, fitando Roger de cima a baixo.

   — Querido... A gente pode conversar?

   — Onde está o pai? — Perguntou o loiro, com medo de ser agredido de maneira ainda mais dura.

   — Ele e seu avô ainda não chegaram da pesca, sente-se.

   Roger sentou ao lado de sua mãe, um pouco nervoso, por mais calma e tranquila que ela se mostrasse.

   — A verdade é que... Eu sempre soube que você era gay.

   — Como é? — Ele arregalou os olhos.

   — Acho que é coisa de mãe, mas desde pequeno, você tinha um jeito diferente de agir com meninos e meninas, seu pai também percebeu esse jeito, lembra que ele nunca permitiu que você dormisse na casa de um amiguinho? Ou quando exigiu que você ficasse em lugares mais isolados no vestiário da escola? Ele estava te poupando, mas aí ele viu que não foi o suficiente... A questão é que, isso não justifica ele te agredir.

   Ela deu uma pausa, para segurar a mão de seu filho.

   — Você já é um adulto Roger, eu não vou mentir pra você, sou totalmente contra você querer seguir por esse caminho.

   — Então vai me odiar?

   — Nunca, eu não concordo, e nem apoio... Mas você é meu filho de qualquer jeito, eu te amo, você é meu menino. — Ela acariciou os cabelos dele. — Você pode tomar suas decisões, e eu preciso respeitar... Mas respeitar e apoiar são coisas totalmente diferentes.

   — Já está ótimo assim. — Ele suspirou, segurando algumas lágrimas. — Você deve estar decepcionada comigo não é?

   — Não, como eu disse, eu já sabia, só... Estava tentando evitar o inevitável. — Ela respirou fundo. — Você não é uma decepção querido, nunca foi.

   Ele a abraçou, mesmo sabendo que ela não iria apoiá-lo, estava feliz por pelo menos ter o respeito de sua mãe.

•••


  Roger acordou e saiu cedo de manhã para trabalhar, ainda sem falar com o pai ou com o avô, chegou no parque marinho no  horário de sempre, indo até a barraca de sorvete que ficava próxima à piscina natural com ligação ao mar, que agora estava vazia graças à Brian. Ficou surpreso, já que o parque estava cheio mesmo com um animal a menos.

   Ao mesmo tempo que isso era bom, era péssimo, porque ele não iria conseguir ver Brian com aquele tanto de gente. Durante o dia todo, ele só pensou em chamar Brian para uma caminhada na beira da praia no caminho de volta para casa.

   Ele ainda estava muito chateado pelas atitudes de seu pai, estava necessitava ver seu tritão para se sentir melhor, ainda mais com aquele dia de trabalho horrível e estressante, já que ele não viu Brian, nem mesmo seu querido amigo John.

   Finalmente, depois do tortuoso expediente, ele encontrou Brian na saída do parque, usando a típica bermuda jeans com camiseta e com a mochila nas costas.

   — Espera aí! — Roger chamou, parando ao lado dele. — Quer caminhar na beira da praia até a gente chegar em casa?

   — Por mim tudo bem. — Ele sorriu, beijando a testa do loiro. — Quer que eu te pague alguma bebida quando estivermos lá.

   — Seria ótimo, o Freddie é o gerente de um lugar legal lá perto da praia, a gente podia entrar, tomar um suco, conversar...

   — Ah o Freddie, eu vi ele ontem, parece ser um cara legal.

   — Ele é noivo do Hutton, já que eu apresentei os dois acho que o Jim fez esse favorzinho aí pra mim com o emprego. — Ele riu. — Conheço todos os amigos do Freddie, e gosto de todos eles... Menos de um em especial, mas isso não tem importância.

   — Compreendo. — O tritão suspirou. — E sobre ontem?

   — Minha mãe diz que não concorda com eu ser gay, mas vai respeitar, já é um grande avanço. — Ele deu de ombros. — Ainda não falei com meu pai ou com o meu avô, por isso quero ir pela praia para evitar vê-los pelo caminho que eu sempre uso.

   Depois de andarem por um tempo, já estavam sentados em frente a um balcão no quiosque em que Freddie era gerente, pediram dois sucos de abacaxi com hortelã e ficaram conversando por ali.

   Até serem interrompidos pelo amigo de Roger.

   — Bom dia casal. — Freddie se aproximou deles. — Como foi o jantar ontem?

   — Já estava demorando. — Roger revirou os olhos. — Cadê o Deaky?

   — Saiu com a namoradinha nova, Victoria se eu não me engano. — Freddie deu de ombros.

   — Sem querer ser indelicado ou nada disso, mas eu achei engraçado a maneira que você e seu noivo se parecem. — Brian sorriu para o homem de bigode.

   — Se eu ganhasse uma moeda por cada amigo de bigode que o Freddie tem eu estaria rico. — Disse o loiro tomando mais um pouco do suco.

   — Nem são tantos assim, temos o Phoebe, o Paul...

   — Valha-me. — Roger revirou os olhos.

   — Já vamos voltar na sua implicância com ele sem motivo nenhum?

   — Não é implicância, ele trabalha com o meu pai, eu sei do que eu estou falando.

   — Deixando esses detalhes de lado, você tem que apresentar seu namorado pro pessoal, eles vão adorá-lo, ah e achei seu cabelo muito bonito, diga-se de passagem.

   — Obrigada. — O tritão riu, Roger olhou apaixonadamente para ele enquanto o mesmo dava risada.

   E Freddie observava os dois imaginando se o casamento ainda estava muito longe de acontecer.
  

Beyond The Sea • MaylorWhere stories live. Discover now