II - Foi ódio a primeira vista

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Lalisa Manoban:

"Lisa deu um sorriso cínico em resposta, pronta para rebater a garota. Já estava acostumada com aquele racismo desde criança, por ser mestiça."


O sol forte batia no gramado do campo, fazendo-a se arrepender de ir naquele dia de aula. Mas não teve tempo de sentar nas arquibancadas, ou reclamar mais, pois a treinadora logo lhe chamou, fazendo Lisa colocar um sorriso falso nos lábios. Aquela era a hora que seria apresentada para a turma: a garota nova que entrou no meio do último ano do ensino médio, sem amigos ou conhecidos no colégio.

Bufou, indignada, xingando pelos ventos sua má sorte. Já havia morado na Coreia do Sul há muito tempo, mas ainda assim, não poderia chamar aquele país de casa. Acreditou que o padrasto iria se aquietar na Tailândia, seu país natal, se permitiu fazer amigos e planos para o terceiro ano, só para ser arrastada para outro lugar, novamente. Agora tinha um gosto amargo de derrota na boca e esperava que o meses passassem depressa.

- Okay meninas! Silêncio!

Todas as garotas do time de futebol fizeram uma pequena roda em torno da treinadora e Lisa, e seu coração deu um leve palpitar com tantos pares de olhos lhe encarando.

Teve medo de esquecer alguma palavra importante ou seu sotaque soar pesado demais e isso rendê-la péssimas piadas durante os meses.

- Essa é Lalisa Manoban, a nova colega de vocês e zagueira do time.

- Podem me chamar apenas de Lisa. - Fez uma pequena reverência como cumprimento, correspondida pelas garotas.

A ideia de entrar para o time foi do seu padrasto, ele disse que fazer atividades que ela costumava praticar na Tailândia a ajudaria a se enturmar, mas não estava exatamente animada. O uniforme do treino era de um tamanho menor que o seu manequim e o shorts vermelho ficaram curtos demais - além da blusa de listras evidenciar seu seio pequeno.

Aquele estilo atlético nunca foi o seu estilo, diga-se de passagem, as roupas que a esperavam no armário eram as típicas calças cargo e alguma blusa pequena demais para os seus ombros largos, que se transformou no que as meninas chamavam de cropped - e seu padrasto sempre a alertava sobre os mamilos que hora ou outra transpareciam pelo tecido fino e a falta de sutiã.

- Mais uma estrangeira. - Ouviu uma garota do canto falar. Ela não dizia aquilo baixo para alguém em particular e sim, para que todos ouvissem. Os cabelos castanhos presos num rabo de cavalo alto e o rosto brilhando em arrogância. - Esse país já foi melhor frequentado.

Lisa deu um sorriso cínico em resposta, pronta para rebater a garota. Já estava acostumada com aquele racismo desde criança, por ser mestiça, mas antes que pudesse falar algo a treinadora soou o apito, mandando todas as garotas para os seus respectivos lugares, e o jogo começou.



- Não ligue para Jennie. - A voz soou baixinha próxima de si, e teve que parar o que fazia: jogar toda a água da garrafinha pelo rosto, sentada na primeira fileira de bancos das arquibancadas, para prestar atenção em quem tentava puxar assunto. O sol não deu trela, fazendo a temperatura do campo ficar um verdadeiro inferno. - Ela só quer aparecer. - A menina concluiu.

Ela parecia receosa, mas no fim sentou ao seu lado. Era a única do time que usava calças de malha no lugar do shorts do uniforme e até mesmo a blusa era maior que a das outras, fazendo-a parecer menor do que realmente era.

Não precisava de muita observação para ter certeza que aquela era a típica garota que se interessaria e até trocaria uns beijos num sábado a noite, se a outra fosse frequentadora desses lugares claro, o que não parecia.

O último ano do resto das nossas vidasOnde histórias criam vida. Descubra agora