CAPÍTULO TRINTA E UM

216 37 13
                                    

Kaya continuava a seguir os outros Insurgentes, penetrando cada vez mais a floresta do sul de Metrópolis. Eles precisaram ser ligeiros para conseguir escapar do metrô sem serem vistos. A garota ainda estava toda manchada de sangue, atraindo atenção dos civis por onde passavam. Seu ferimento ardia como fogo. Sentiu saudades de sua mochila com ervas medicinais, que provavelmente ainda estava no quarto onde dormira nos últimos dias.

Como estava tarde, eles não entraram em nenhuma rua movimentada durante o trajeto, mas mesmo assim o medo de soldados toparem com eles era grande. Helicópteros sobrevoavam os arredores da cidade com holofotes apontados em direção às ruas. Os drones de patrulha triplicaram seu número. Foi quase impossível, contudo, eles chegaram a uma trilha sem serem pegos.

A imagem de Luc caindo sobre seu corpo não parava de reaparecer em sua cabeça; sentia ainda o peso da arma em sua mão — apesar de tê-la abandonado. Matou um soldado deles, um Sem-Cara. Se contasse isso ao seu povo em Antã, todos a elogiariam, iriam comemorar, tratá-la como heroína. Porém, não se sentia bem com aquilo. Não com a memória fresca do homem morrendo.

Ela apertou os passos, no intuito de chegar mais rápido nesse tal plano B. O adolescente ferido estava os atrasando, porém era o mais determinado a chegar ao local combinado. Alguns Insurgentes decidiram não ir junto com eles; tinham outros planos, outras ideias de lugares seguros. Isso os reduziu a cinco pessoas. Normalmente alguém só abria a boca para falar "acho que é por aqui" ou frases similares, indicando o caminho.

Kaya começou a ouvir algumas vozes sussurrantes por perto depois de minutos caminhando na floresta. Após passarem por entre dois arbustos, eles se depararam com uma clareira onde um grupo de umas 20 pessoas — talvez menos — estava sentado na grama, chorando e conversando. Todos ali tinham aspecto cansado ou soturno, pareciam ter saído de uma guerra. Rostos sujos, ferimentos feios, sangramentos...

Um pouco mais afastado de onde estavam, entre duas árvores na orla da clareira, havia uma van estacionada de ré com as portas traseiras abertas. Kaya avistou o restante de seu grupo ali dentro. Saiu correndo para alcançá-los, parando no lado de fora. Ao olhar mais de perto no interior do veículo, viu Chloe agachada com as mãos vermelhas de sangue mexendo na perna de Hug. O mais velho fazia caretas de dor e gemia. Aquilo a assustou.

Leyr foi o primeiro a notar sua presença ali, pulando para fora e dando um abraço apertado na garota. Ela logo retribuiu. Foi um gesto rápido, porém eloquente demais; sentiu toda a preocupação do rapaz em seus ombros rígidos.

— Ainda bem que conseguiu! — disse ao se afastar. — A gente estava preocupado com você... — Ele analisou as manchas de sangue nas roupas da garota, parando os olhos em seu ferimento. — Tá machucada?

— Não é nada — ela respondeu, impedindo que a ardência da bala de raspão falasse mais alto. Voltou a fitar Chloe e Hug dentro da van. — O que aconteceu?

O rapaz se virou para observar também. A garota de cabelos azuis enfaixava a perna do homem enquanto mexia em uma caixa vermelha escrita "Kit Médico". Gustavo surgiu vindo do banco do motorista.

— Hug tomou um tiro na perna — explicou Leyr, cruzando os braços. — Segundo a Chloe, não é muito grave. Mas tá doendo muito. Ele mal consegue andar.

Após verificar o estado de Hug, o loiro se juntou aos dois do lado de fora.

— Ele ainda tá com aquela ideia em mente — disse Gustavo.

— Que ideia? — indagou Kaya, intrometendo-se.

Os dois trocaram olhares antes de fitarem a garota outra vez. Ambos estavam lado a lado com braços cruzados, defronte a ela.

O Lado de ForaWhere stories live. Discover now