CAPÍTULO TRINTA E TRÊS

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— Como assim Leyrdalag fugiu? — perguntou Lynn.

O soldado em sua frente estava com as mãos juntas na frente do corpo. Não tinha uma postura tão boa como Hock. O capacete preto impedia ver sua aparência, mas a mulher deduzia que fosse um garoto jovem, talvez algum Insurgente poupado de ser mandado para o Outro Lado, transformado em militar contra sua vontade.

— Sua van está sendo procurada por todos os cantos... não pode ter ido longe. Também não pudemos encontrar nenhuma informação importante, eles queimaram tudo — explicou o homem. — Mas há patrulhas em todas as partes e estamos nos esforçando o máximo pa...

— Lancem um toque de recolher em toda cidade — ordenou ela. — Eu quero apenas militares andando nas ruas essa madrugada. Vamos pegar esse garoto hoje, de um jeito ou de outro.

Ele hesitou, algo que Hock nunca faria.

— Mas, senhora, ninguém está preparado para um toque de recolher — argumentou o soldado, encolhido de medo.

Lynn respirou fundo, dando um passo para frente. Já se passaram duas horas desde o ataque ao metrô, mas ainda havia tropas por lá, vasculhando as outras centrais de controle e outros buracos possíveis onde os Insurgentes poderiam ter ido. Não podiam perder mais tempo ou eles arranjariam outro esconderijo — se já não tivessem arranjado.

— Não interessa — respondeu. — Ele já nos causou problemas demais. Temos que neutralizá-lo.

Enfim, ele assentiu às ordens, virando-se para a porta. A mulher foi até sua janela pela milésima vez naquela noite. Virou um hábito observar a cidade quando ficava nervosa. E o céu escuro parecia refletir em seu temperamento. A tempestade deveria estar atingindo o Lado de Fora, mas chegando bem perto dos imensos prédios de Metrópolis.

Leyrdalag ainda insistia em brincar de gato e rato, mesmo quando todo seu grupo estava desestabilizado. O ataque ao metrô repercutia em toda mídia naquele momento, alertando o perigo de ter Insurgentes nas ruas. Não seria difícil colocar todos os civis em suas casas, principalmente por estarem no meio da madrugada. Tudo terminaria daqui algumas horas.

De repente, algo atraiu a atenção de Lynn. Numa das ruas perto dali, entre dois prédios espelhados, uma cortina espessa de fumaça vermelha subia em direção às nuvens. De onde olhava, parecia a ponta de um algodão doce saindo de trás de um edifício baixo, movimentando-se com a brisa noturna. Ela não conseguia saber o que estava acontecendo, não tinha visão do asfalto. Mas aquilo não estava planejado. Não era algo do governo.

Leyrdalag.

De repente, entraram em sua residência sem permissão. A mulher não se virou, continuou olhando a fumaça a apenas algumas quadras dali.

— Senhora — chamou o intruso; pela voz, era o mesmo soldado que saíra há poucos segundos —, tem algo acontecendo na Avenida Principal.

***

Hock e Guto assistiam desenhos animados sentados no sofá com um espaço considerável entre eles. Ambos permaneciam em silêncio desde o desabafo do homem. Eram como duas estátuas rígidas; não riam, não falavam, não se mexiam. Apenas respiravam e piscavam.

Porém, tudo mudou quando o capacete do soldado apitou subitamente na mesa de centro. Ele se apressou em vesti-lo, vendo qual era a missão que fora designado:

NOVAS ORDENS

OBJETIVO PRINCIPAL:

CONTER MANIFESTAÇÃO EM AVENIDA PRINCIPAL

O homem se levantou em um pulo. Estavam protestando? Sobre o quê? Será que a opinião pública estava apoiando os Insurgentes?

— Preciso ir — disse ao garotinho.

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