— E o que o senhor fez? — Perguntou o loiro, mesmo já sabendo a resposta.

   — A afastei usando o arpão, antes que ela pudesse me enfeitiçar e me arrastar para o fundo do mar. — Respondeu o velho, rindo no final. — Uma pena, eu poderia ter me divertido com ela.

   — Se ela fosse mesmo real... — Comentou Roger.

   — Ela era real, eu sei o que eu vi. — Insistiu o avô. — Outros pescadores já viram sereias também, todas mulheres belíssimas, com a voz perfeita e irresistível.

   — Deve acreditar no seu avô, pelo que parece, ele não foi o único. — Comentou o pai de Roger, indo até a cozinha.

   — Parece difícil de acreditar que existam belas mulheres metade peixe nadando por aí. — Suspirou o loiro, finalmente saindo de perto da janela e sentando juntamente com o senhor. — E o jantar?

   — Vai sair daqui a pouco. — Respondeu o pai da cozinha. — Precisamos esperar sua mãe descer, e outra, amanhã você vai trabalhar no cais comigo.

   — Eu sei pai...

   — Guardou as redes antes da tempestade não é?

   — Sobre isso... — O loiro se encolheu, já esperando a bronca que iria levar.

   — Roger! Com uma ventania dessa a gente deve ter perdido as redes!

   — Eu só deixei uma, eu vou tentar achar amanhã! — Defendeu-se o loiro, mesmo sabendo que a situação não estava tão fácil para ele.

   Era uma rede muito boa, e não era lá muito barata, as chances dele achar a rede de volta depois de toda aquela ventania eram mínimas, quase impossíveis. 

   Mas ele iria tentar, afinal, não queria atrapalhar o trabalho de seu pai daquela maneira.

   Por isso, naquela noite, ele foi dormir cedo, acordou por volta das quatro e meia da manhã, só para ter mais tempo de ir procurar a rede. Deixou um bilhetinho em cima da mesa da cozinha falando para sua mãe que estava indo para o cais mais cedo, e lá foi o loiro, caminhando pela praia, vendo pequenos estragos causados pela tempestade, nada lá muito sério.

   Por mais que soubesse que as chances dele achar aquela rede eram mínimas, alguma coisa dizia para ele insistir na busca. Finalmente chegou até a praia, teve que caminhar ainda mais até o cais, onde os pescadores que trabalharam de madrugada estavam atracando, os primeiros que trabalhavam durante o dia ainda não haviam chegado, Roger foi até onde seu pai ficava, e realmente, a rede que ele deixou pendurada não estava lá.

   — Porra. — Ele reclamou, olhando em volta, na esperança da rede não ter voado muito longe, olhou cada centímetro da área de seu pai no cais, e nada.

   A área ao lado não pertencia a ninguém, então não tinha problema nenhum em procurar, ele continuou observando, olhando para tudo o que podia, mas sem sucesso.

   Avançou um pouco mais, e continuou sem achar nada, quando estava prestes a se virar e desistir, notou que havia algo preso em um dos pilares de madeira, ao se aproximar, reconheceu a corda, era a rede que ele estava procurando.

    Roger suspirou aliviado, mas quando foi puxar a rede, foi surpreendido ao ver que ela estava pesada.

   — Puta que pariu, tudo está dando muito certo pra mim hoje. — Depois de fazer certo esforço, ele conseguiu tirar a rede da água, ela estava cheia de algas marinhas, e novamente o loiro xingou. — Vai dar um trabalho limpar essa porra de novo...

   De repente, alguma coisa se mexeu no meio das plantas marinhas, no primeiro momento, Roger não se importou, achou que fosse um peixe ou algo do tipo.

   Até que alguma coisa se levantou no meio das algas, tinha um rosto, era uma pessoa.

   — Como diabos você foi parar aí?! — Roger perguntou.

   — Mil perdões, eu...

   Antes que o estranho pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, Roger notou que ele não tinha pernas.

   Ao invés das pernas, havia uma grande e bonita cauda, de escamas azuis brilhantes, que refletiam a luz do sol nascendo.

   Roger gritou.

   — Que porra é essa!?

Beyond The Sea • MaylorWhere stories live. Discover now