2 - Além da Colina

24 1 2
                                    

Não tinha como negar que aquele lugar era tão lindo quanto qualquer outra paisagem natural no mundo. As pradarias eram tão verdes que doíam os olhos, as flores explodiam em cores vibrantes e o ar era pungente com o cheiros dessas. O zumbido de abelhas em busca de pólen viajava ao meu redor, nenhuma em busca de confusão, só faziam aquilo que deviam fazer.

Tudo estava conforme mandava a pura natureza.

Meus pés unidos ao grande tapete verdejante sentia o pulsar e o calor da terra vindo do mais profundo lugar do planeta em direção aos céus. Era como se o Céu chamasse a Terra para dançar e ela estivesse tentando lhe lançar as mãos, mas sem nunca conseguirem se segurar para valsarem pela galáxia. Podia soar triste, de uma poesia bem melancólica e desesperançosa, mas, se olhar por outro lado. É como se ambos, Céu e Terra, estivessem felizes em ver a felicidade e completude do outro. O Céu tinha as nuvens, as estrelas durante a noite, o sol e a lua, já a Terra tinha as montanhas, cristais, pedras e plantas... isso sem contar os animais.

E ambos sempre teriam os pássaros e o vento.

E foi isso me trouxe até aqui... a poesia escondida no sussurro do ar.

Eu deixei todos para trás na esperança de testemunhar algo esplêndido e totalmente único. Mesmo sem saber ao certo o que seria, me entreguei ao desejo arrebatador de atender o chamado do desconhecido. Fui envolvida pelo vento e levada para longe, ainda ouvia as gargalhadas dos meus amigos, mas a cada passo suas vozes diminuíam e minha excitação aumentava. Era engraçado como não me sentia mal por deixá-los lá, eu poderia chamá-los para essa aventura, mas sem dúvida me tachariam de louca ou apenas "uma bobinha sonhadora". Eu os amava e sabia que o sentimento era o mesmo, porém sabia que mesmo tendo um lugar junto deles o meu lugar ainda não era ali, pelo menos não por completo.

Respirei fundo e ouvi o som suave como de sinos que me guiavam para esse ponto em que, sem dúvida, seria especial. Subi uma pequena colina e em seu topo pude ver onde começava o bosque que vimos ao longe. Ele era lindo e tinha umas árvores formando um arco com os galhos. A coisa mais fofa do mundo. Olhei para trás sabendo que uma hora meus amigos dariam falta de mim e pensei se isso era o que eu queria... me aventurar e causar preocupações. Meu coração pulsou como a terra pulsava, o sangue em minhas veias corria de maneira tão veloz que senti o que a Terra devia sentir com os rios que percorriam todo o seu corpo.

A escolha tinha que ser feita: Ir ou ficar? Se aventurar ou se acomodar? Ser brava ou receosa? Eram tantas as indagações que eu já sentia a hesitação me puxar de volta da brisa frutada e envolvente. Tinha que tomar uma decisão rápida, então simplesmente pensei nos motivos que me faziam estar ali.

Meus dedos passearam pelo pingente de pedra furada que carregava comigo desde pequena enquanto pensava.

Eu sabia que tudo ia ficar bem, mesmo que nada me assegurasse isso.

Eu queria descobrir aonde isso iria me levar.

Eu ousaria ir além da colina, para dentro do bosque que eu sentia chamar.

Eu calaria e faria apenas o que o meu coração mandasse.

Sem pensar duas vezes e deixando a bela paisagem do campo abaixo repleto de grupos se divertindo, eu adentrei o bosque passando pelo arco de árvores seguindo o cheiro e o som doces de algo que não era definitivamente do meu mundo.


À princípio não houve nada que fosse esquisito ou estranho, pelo menos não aos meus olhos. Porém, eu podia sentir a diferença no ar, que era mais doce, encorpado e quase tangível, havia diferença nos sons e suas propagações. Meus olhos podiam perceber as cores mais vibrantes e vívidas, era como se eu tivesse mergulhado dentro de um arco-íris.

Sussurros à Meia-Noite (vol. 1)Where stories live. Discover now