Capítulo 6

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Seguiu-se semanas de grande alvoroço mundial. Larissa seguiu na linha de Eduardo, limitando-se a falar o que viu. Ocultava o que sentiu, pois propor o absurdo poderia atrapalhar seus planos de ser tida como uma astrônoma séria.

Por outro lado, nunca se permitiu ver as possibilidades absurdas como algo além de especulação.

Mas especulava bastante. Continuou criando hipóteses que explicassem os acontecimentos muito depois do mundo ter abrandado os questionamentos acerca do episódio. Dois anos depois, o mundo já mal ligava para o evento astronômico. O homem — ou "o possível viajante", como Larissa costumava se referir a ele — era tido como um terrorista, alvo de todo tipo de teoria da conspiração. A maioria delas em torno da incapacitação do presidente, e a luz que veio de Marte à Terra a partir da Mars State não servia para nada além de justificar uma trama internacional para desestabilizar o país.

Às vezes, Larissa achava que essas teorias malucas soavam mais lógicas que suas hipóteses fantasiosas. Ainda mais quando sua mente chegava perto demais de usar a meia dúzia de ocasiões nos últimos anos em que sentira estar sendo observada quando não havia mais ninguém com ela ali, no apartamento onde morava. Costumava falar sobre isso com Roberto, mesmo depois deste ter embarcado na MarsGo. Mas se não havia exposto todas as suas maneiras de ver a coisa para ele em Terra, não ousaria expor quando muitas pessoas tinham acesso às conversas trocadas entre os astronautas da missão colonizadora com a Terra.

Em determinada madrugada, ela estava em sua sala, lendo no celular um eBook sobre cometas cuja versão em livro físico lera anos antes, em sua adolescência, julgando que talvez pudesse encontrar ali algo que lhe rendesse uma hipótese nova para os acontecimentos que ainda a impressionava.

As luzes estavam apagadas e o rádio estava ligado, baixinho. Quando ela abaixou o livro, sentindo-se cansada demais para continuar a leitura, se deu conta de que a voz de Ozzy Osborne cantava Zeitgeist. Permitiu-se curtir a música por um tempo, até que o som pareceu distorcer-se e esvair, espaçando os versos que falavam dos cosmos.

A sensação de estar sendo observada voltara, mas Larissa não lhe deu crédito até achar que a sala estava iluminada demais, num tom azulado. Ela ergueu-se do sofá onde estava deitada e olhou em direção à fonte de luz.

Vinha de fora da porta que dava para a pequena varanda do apartamento, atravessando as cortinas. Deixou o celular no sofá e foi até lá, a fim de descobrir o que provocava o brilho.

Quando afastou as cortinas, viu um homem parado sobre o ar, perto da mureta de um metro e meio, como se o chão não estivesse doze andares abaixo. Sua pele era absurdamente branca, de aparência não natural até mesmo para um albino. Usava um terno azul e tinha os cabelos vermelhos. Sorria para ela, como se soubesse que ela sabia que

— Sim, sou o suposto visitante — ele disse. A voz era agradável.

Larissa não soube o que dizer. Em sua mente, vários pensamentos se atropelaram. O primeiro que conseguiu se destacar a ponto de ficar nítido foi

— Não, não é um sonho — o homem lhe afirmou.

Larissa não soube o que pensar ou dizer.

— Demorou um tempo até que eu aprendesse a compreender vocês, mais tempo do que me agrada — ele disse, com sua expressão e voz exprimindo o mais sincero pesar. — Eu poderia fazer com que você me compreendesse sem ter de falar, mas já tentei e fiz o que fiz. Então não me atrevo. Vou me fazer entender oralmente, embora eu possa entender você através de seus olhos.

— Está dizendo que lê minha mente? — Larissa indagou.

— Sim, e você me compreende quando digo que decodifico as informações padronizadas das suas sinapses? Vejo a localização de seus neurônios e... Sim, vejo que sim. Mas fale, quero experimentar uma comunicação genuinamente humana e, ah... terráquea. Olha que legal, me faltaram palavras.

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⏰ Last updated: Jul 31, 2019 ⏰

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O Homem EstrelaWhere stories live. Discover now