Capítulo 8

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Sarah passou quase todo o dia fora fazendo compras para a casa. Apesar do agradável tempo com Marie, ainda se sentia solitária. Jamais poderia compartilhar suas inseguranças e problemas conjugais com quem quer que fosse. Depois de muito ponderar, chegou à conclusão de que a única solução era continuar a ocupar o tempo para evitar pensar profundamente sobre seus sentimentos.

Havia muito trabalho a ser feito, e não só com os livros contábeis de David; sua casa também precisava de atenção. Passara quase toda a vida se preparando para ser a esposa de Thomas e não poderia abandonar aquela responsabilidade por um reles capricho. Sim, aquela angústia e a melancolia que a acometiam deveriam ser tratadas como um capricho tolo.

Sentia-se culpada pelo afastamento do marido; coagira-o e, pelo que parecia, Thomas não era um homem que suportava pressões. Precisaria mudar a abordagem, mas, antes de pensar na melhor maneira de agir, tinha que preservar os próprios sentimentos; era isso ou enlouqueceria. Sim, sentia-se à beira de um ataque de histeria. O que mudara em tão pouco tempo?

Quando a carruagem parou na entrada de Groove House, um lacaio a ajudou a descer e carregou seus embrulhos. Earnest, o mordomo, aguardava sua senhora com um porte elegante, mas, apesar de estar bem-vestido, algo a incomodou. Na gola do paletó havia um discreto cerzido.

— Lady Hervey. — Ele fez uma mesura polida.

— Boa noite, Earnest. Por gentileza, poderia pedir à Sra. Pattel que me encontre no escritório?

— Certamente, senhora.

Sarah seguiu para o escritório de Thomas, que estava vazio. Colocou os livros de David sobre uma pequena mesa redonda e caminhou pelo cômodo.

— Senhora — a governanta anunciou sua entrada.

— Pia! — Sarah se sentou, avaliando a vestimenta da funcionária. — Quero que providencie tecidos de qualidade para confeccionarmos uniformes para os criados. Quero o brasão dos Hervey em todos que trabalharão em Groove House.

— Perfeitamente, senhora.

— Precisamos que tudo seja agilizado. Pretendo enviar os cartões na próxima semana informando o dia em que receberemos visitas.

— Mais alguma coisa, senhora?

— Quem é o novo cozinheiro?

— Estou treinando uma cozinheira do jeito que a senhora gosta — respondeu orgulhosa.

— Precisamos de um chefe francês. — Sarah coçou o queixo. — Alguém de temperamento moderado e que permita minhas intervenções na cozinha.

— Se me permite, acho que um francês com essas características será impossível de encontrar, minha senhora.

— Não me incomodo se for uma mulher. — Piscou sorrindo. — Na verdade, a ideia de termos uma cozinheira francesa me agrada.

— Isso será mais fácil de encontrar, milady, e, certamente, vantajoso.

Sarah se levantou e caminhou pelo cômodo.

— Em breve vou precisar de uma nova camareira, de preferência alguém que não se arraste pela casa, que não faça objeções a banhos noturnos e que consiga ouvir; ou que não se finja de surda.

Pia fez uma reverência e se retirou. Sarah pensou em perguntar pelo marido, mas se conteve. Sentou junto à mesa de Thomas e verificou seus livros de contas. As anotações eram ainda mais desordenadas que as de David. Surpreendeu-se ao constatar que a herança que lorde Willian lhe antecipara o deixara satisfatoriamente rico e com muito potencial para investimentos. Perdeu a noção do tempo fazendo anotações e passando as contas a limpo.

A Marquesa (Repostando)Where stories live. Discover now