Capítulo 2

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O duque de Sutherland, Augustus Anson, aguardava a filha mais nova no escritório, enquanto saboreava um autêntico escocês. Volteava o líquido dourado no cálice para sentir os aromas da bebida.

Mais que ninguém, Augustus conhecia o peso de carregar um título. Dentre todas as obrigações e responsabilidades, um casamento mal feito poderia causar a enfermidade da alma. Não se casara por amor, naquela época duvidava que tal sentimento pudesse existir. Descobrira a sensibilidade de sua amarga alma no dia em que pusera os olhos em Lucy.

Passara o casamento dividido entre duas mulheres; Julliet, a duquesa de Sutherland, era a dama que desfilava ao seu lado na sociedade inglesa, e Lucy, a bela governanta de seios fartos, olhos amendoados e sorriso encantador, aquela com a qual compartilhava a vida.

Não se sentia culpado pelo triângulo amoroso que vivera, fora ideia da própria duquesa que Augustus tivesse uma amante dentro de casa. Sua aversão ao marido era indisfarçável. Ele vira a esposa definhar às sombras de uma doença traiçoeira, seu espírito perdia um pouco de luz a cada dia em que passava naquela casa.

O conde de Snowdon havia sugerido o acordo de casamento logo que recebera o título de cortesia. Willian, um banqueiro importante, era um homem de fortuna e o casamento de sua filha mais nova com o herdeiro de um ducado concederia à sua família a abertura de portas para a sociedade.

E agora se via culpado por ter sucumbido mais uma vez a um acordo como aquele com lorde Granville, que insistira que Sarah se casasse com Thomas.

Augustus exalou um suspiro. Seus filhos tinham sido deserdados e ignorados pelo pai da duquesa após a morte dela. Apesar de se manter distante, Willian, que parecia disposto a manter todos os segredos da família às sombras, nunca havia desistido do casamento.

Sarah aos poucos florescia, mostrando-se uma menina forte e inteligente. Ela era seu tesouro; se tivesse nascido homem, faria história como primeiro-ministro do Reino Unido.

— Augustus — Lucy o chamou ainda na porta do escritório. — Sarah está terminando de se banhar, descerá em um instante.

O rosto do duque se iluminou ao vê-la. Apesar das roupas sóbrias, mas de corte elegante, Lucy tinha uma beleza quase mágica, que se aprimorava com o passar dos anos. Com um breve aceno, um comunicado silencioso que os dois conheciam bem, ela se aproximou.

— A cada dia está mais formosa — sussurrou contra o pescoço de Lucy, quando ela se abaixou. — Senti sua falta hoje de manhã.

— Precisava preparar tudo para a chegada de Ann. Estou muito feliz com o novo médico, milorde. Agradeço muito que tenha ouvido minhas súplicas.

— Faço tudo por você, meu amor — recostou-se à cadeira com os dedos entrelaçados ao dela.

Lucy percebeu a tensão no rosto do amante e se colocou atrás dele para massagear-lhe os ombros.

— Anda tão angustiado. — Beijou-lhe o topo da cabeça, enquanto os dedos habilidosos continuavam a friccionar os músculos enrijecidos.

— Temo pelo casamento de Sarah. — Soltou um gemido de prazer enquanto sentia a mágica que os dedos de Lucy faziam.

— Ela parece realmente apaixonada. — Afastou as mãos e se sentou no colo do duque, acariciando-lhe a face.

— Mas seus sentimentos não parecem ser correspondidos.

O duque apertou o pequeno corpo de Lucy contra o seu, deslizando os lábios pelo pescoço pálido. A governanta fechou os olhos deliciando-se com a carícia, estavam juntos há tantos anos e a chama da paixão nunca diminuíra. Desejava-o. Apesar de todos os empecilhos naquele relacionamento, era feliz e se sentia amada.

A Marquesa (Repostando)Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang