Família Quercia

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Parte I

Era noite, por volta de 21h, o tragar do segundo cigarro já me causara um pigarro incômodo na garganta

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Era noite, por volta de 21h, o tragar do segundo cigarro já me causara um pigarro incômodo na garganta. Tento aliviar com o último gole do café frio que resta na xícara. Na mente, se passa apenas uma coisa, a última lembrança que eu e meu velho pai, Don Salvatore Quercia, cultivamos na noite de 23 de Julho de 2018,  véspera do meu aniversário que iria passar ao lado dele e da minha amada mamma.


Tudo começou em 1997, eu era apenas um ragazzo, mas lembro perfeitamente do meu babbo correndo ao telefone sem fio que ficava na sala, para a atender a ligação do Nero Baggio - Nero Baggio era um grandalhão de 1,90m, siciliano, que veio ao Brasil para ajudar nos negócios do meu pai. Ele tinha uma cicatriz de mais ou menos 7cm no lado direito da face que colocava medo em qualquer um -.

- Don Quercia? 
- O que houve Nero? Pode falar abertamente, não tem ninguém comigo.
- O farabutto do Filippo escapou...
- Como? Você não tinha um ragazzo infiltrado no bando deles?
- O scemo do ragazzo caiu em um teste do capo. Parece que ele pediu pra armar um atentado contra o senhor e o ragazzo hesitou...
- Stronzo! Acha que deu com a língua nos dentes?
- Acho difícil padrinho. O ragazzo era um pouco tonto, mas sempre foi leal a nossa família.
- Era? Teve mais alguma notícia dele?
- Deixaram a pistola preferida do ragazzo, a do cabo de osso, dentro da boca de um peixe na doca da cidade.
- É uma pena, Nero. Providencie para que a família dele tenha o ressarcimento digno.
- Sim, padrinho. Aguardo outras ordens.
- Até mais, Nero.

Nero Baggio era um grandalhão de 1,90m, siciliano, que veio ao Brasil para ajudar nos negócios do meu pai. Ele tinha uma cicatriz de mais ou menos 7cm no lado direito da face que colocava medo em qualquer um. 

 Observei atentamente aquela cena, não entendi bem do que se tratava, afinal tinha apenas 12 anos de idade, mas sabia que meu babbo era um homem de honra e o via como um tipo de herói. Não como os heróis do cinema, mas sim os verdadeiros heróis sicilianos, que dariam a vida para defender os seus.Ele veio até mim e com a sua voz tranquila, porém rouca por conta dos anos de fumante, e me disse:

- Figlio mio, passaremos por tempos difíceis, mas você e sua mamma estarão seguros no sítio do seu tio Mota por alguns tempos. Quero que você cuide dela, pois logo estaremos juntos novamente.
- Mas babbo, quero ficar e ajudar, já sou um uomo crescido e sei que posso estar ao seu lado.
- Admiro sua coragem meu ragazzo, mas dessa vez quero que apenas obedeça.
- Sim, babbo.


Dois anos antes, meu irmão, resolver contrariar tudo que aprendeu com nosso pai e se envolveu com a máfia entrando para a família Basaglia. Meu pai, inclusive, ficou algum tempo sem falar com meu ele, afinal, ele estava trabalhando para o homem que matou meu avô.
Meu pai, engolindo seu orgulho próprio e assumindo uma posição de humilhação, foi falar diretamente com Don Basaglia:

- Bacia la mano, Don Basaglia. - Beijou a mão do don, em sinal de respeito. - Eu gostaria de lhe fazer um pedido...
- Diga meu bom homem. - Disse o don com um ar desconfiado.
- Meu filho, Gabbo Quercia, trabalha para o senhor a alguns meses... - Hesitou por alguns segundos, mas continuou falando - Gostaria de pedir que o mandasse embora para casa. Estou ficando velho e fraco, logo não terei mais forças para preparar as nossas terras e meu outro filho é muito jovem. Preciso que ele retorne para nossa casa.
- Eu me lembro do seu pai, Sr. Quercia. Ele foi um homem de honra e tive que matá-lo para manter meu negócio. Tenha um pouco de  sabedoria e deixe que seu filho se torne um homem junto a mim. - Se tem algum amor pela sua vida, saia daqui agora e não me procure novamente.

Meu pai foi embora, mas aquilo era demais para ele, no momento que aquele homem relembrou do que aconteceu quando ele tinha apenas 8 anos de idade, reavivou o espírito siciliano que havia dentro dele, logo, foi selada dentro de seu coração a promessa de uma vendetta contra aquele Figlio di puttana!

Seis meses após este ocorrido. Gabbo foi enviado para cobrar a parte mensal de um fazendeiro de Bisacquino (comuna italiana da região da Sicília) e agiu com desrespeito dentro da propriedade do homem. Logo em seguida, o homem buscou sua luppara dentro de casa e desferiu apenas um tiro contra o meu irmão, atingindo-o no pescoço. Morte quase instantânea. Nesse dia meu pai sofreu muito, e decidiu que neste momento iria começar o seu plano de vendetta contra Don Basaglia, culpando-o pela morte do filho e assassinato direto de seu pai, Sr. Domenico Quercia.

Meu avô, Domenico Quercia, ou simplesmente Don Quercia, era um siciliano autêntico. Ele foi morto pelo pai do Don Filippo Basaglia em meados de 1950 na cidade de Palermo, capital da ilha. O motivo foi banal, uma briga causada pela disputa de compradores de seus azeites, o negócio das duas famílias. O destino, ironicamente, se encarregara de promover o reencontro dos dois filhos, que haviam se mudado para o Brasil, mais precisamente na cidade de São Paulo. 



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⏰ Last updated: Aug 21, 2020 ⏰

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