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Já eram quase oito horas, ela corria de um lado para outro do quarto... Na cama um vestido azul, com um laço de cabelo, e outras dezenas de peças, ela não podia se decidir, corria para o espelho para se maquiar enquanto respondia a última mensagem dele.

"Te pego as 8:00".

Como de costume ela estava atrasada, mas disse que já estava quase terminando, fitou a cama por uns segundos e resolver escolher o vestido azul, talvez inconscientemente por ser sua cor predileta, se vestiu com a destreza de uma acrobata, enquanto dava os últimos ajustes em frente ao espelho, -você é linda-sussurrou para si mesma...

Eles chegam no cinema em cima da hora, a fila da pipoca não cabe mais gente, então resolvem subir direto para pegar os seus lugares, ela esperava por aquele filme o mês todo, era sua comédia preferida, quantas vezes arrancará diversas risadas nos sábados a noite que só tinham ela e a bacia grande de pipoca.

Ela também via algo poético na história, trocar de corpo com o seu parceiro, viver o outro, sentir a dor, as angústias, talvez seja essa a chave que falta em muitas das relações que infelizmente ela não conseguiu dar certo no passado. No meio do seu devaneio ele segura-a pela mão, o filme já ia começar, a mão dele era macia, mesmo com todo aquele jeito de Durão. Ah! O quanto eram macias... Tanto quanto as suas palavras, ela sorriu de canto por lembrar que adorava quando ele dizia coisas lindas e mesmo ela fingindo que não ligava, o seu coração pulava.

Também eram quentes, aliás perto dele ela sempre parecia segura, como se o frio, ou aquele medo latente nunca a tocassem.

O filme já começara, mas ela ainda olhava para ele, o cabelo desengonçado, já era mais velho, mas não tinha uma Santa barbicha, ele esqueceu de virar homenzinho ela sempre brincava, ele percebeu que ela olhava, e olhou de volta... Sem dizer nada, os dois apenas se fitaram ali por tantos minutos que não se podia contar, mas para eles talvez o tempo nem fizesse mais sentido.

Então ele quebrou o silêncio fazendo um trocadilho com o filme, — se eu fosse você, me beijaria agora.

Ela quase nem esperou que ele terminasse, se as pessoas ao redor fizessem silêncio talvez se ouvisse coração deles batendo, mas o único som que ela podia ouvir agora era do seu próprio medo, medo de amar demais, ah! Não havia crime maior que ela cometera no passado, mas novamente ela lembrou, com ele medos eram apenas lembranças, ela agora tinha é medo daquele momento acabar.

Ela não sabia, mas ele fotografou aquele momento na memória, a forma como ela ficou branca, como ela retribuiu o beijo numa dança de lábios que lembraria o toque suave e poderoso de uma música clássica, nenhum deles sabia, mas ali naquele momento eles haviam iniciado a roda do amor, ela que se punha a girar de tempos em tempos, trazendo mudanças, sorrisos ou lágrimas.

Quem de nós cogitaria de imaginar que futuro se reservaria aqueles dois corações apaixonados?

De volta no carro ele pergunta o que ela achou do filme, sarcástico como sempre, os dois sorriem tão pueril e despreocupadamente que sentem o coração sorrir também,-TA TARDE-Ela diz não tão empolgada, a mãe havia-lhe dado hora marcada para voltar, mas os dois pareciam não estar preocupados com nada naquele momento, ele convida-a para ficar mais um pouco, dar uma volta, de fato ficar não seria tão ruim ela pensa, então eles começam a andar sem direção, conversando, sorrindo, lembrando velhas histórias, ele olha pela janela e para o carro, ali é um morro do caminho até o centro da cidade, lá em baixo todas aquelas luzes, sem motivo algum ali naquele momento pareciam tão majestosas, românticas em seu iluminar mais simples... Dali também podiam ver aquela bela lua cheia de agosto, acompanhada de um friozinho tão aconchegante.

"Barulho do despertador"

Ele acordou cedo, hoje era um dia importante, eles precisavam decidir os últimos pormenores da festa, e não queriam que nada saísse errado, ele vestiu-se, ainda faltavam duas horas então desceu e foi fazer um café, ia ligar, mas preferiu deixa-la dormir um pouco mais.

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