- Não está nervosa?

- Nem um pouco! Estou ansiosa pra sentir esse brinquedo se mexendo, isso sim - respondo, vendo o cara fechar a porta do barco, e ir até os botões, ligando a máquina.

Sinto o barco começar a se mexer e sorrio, ansiosa. Ele começa lento, até ficar cada vez mais rápido. Quando o brinquedo ganha velocidade, indo para trás, meu cabelo cobre o meu rosto, e quando avança, meu cabelo voa, me fazendo ter borboletas no estômago. Levanto os braços e grito, junto com todo mundo. Noto que Thomáz apertou os dedos na minha coxa, e olho na sua direção, vendo seus olhos fechados, e com uma expressão como se estivesse sentindo dor. Começo a gargalhar e ele não solta a minha coxa por nada, e nem abre os olhos que estão apertados. Grito mais ainda para o ar, rindo ao mesmo tempo, mais leve do que já tinha estado antes. Todos os meus problemas se esvaem junto com o vento no meu rosto.

Quando sinto o brinquedo diminuir de velocidade, abaixo os braços, vendo que Thomáz ainda apertava a minha coxa, com força. Olho para ele, e seus olhos continuam fechados, o que me faz rir novamente.

- Como você está com medo, Thomáz? Achei que você fosse durão o suficiente.

Seus olhos abrem quando o brinquedo para totalmente, e seu aperto afrouxa. Ele olha para mim como se nada tivesse acontecido.

- Medo? - franze o cenho, como se não entendesse do que eu estava falando - Eu tava tranquilo.

Gargalho verdadeiramente, vendo ele secar a mão provavelmente suada, na calça jeans. Saímos do barco e eu ainda estava rindo quando olhei para ele, que estava sério, olhando para a frente.

Eu simplesmente não conseguia parar de rir.

- Dá pra você para? Porra, já foi, nada aconteceu - ele diz.

- Nada aconteceu? - Digo rindo. - Eu não vou esquecer isso nunca! Nem adianta, vou jogar na sua cara sempre.

- Não esqueça que eu também tenho várias memórias suas pra jogar na sua cara, Jones. Como a moto por exemplo.

Reviro os olhos e vejo uma barraca com jogos de atirar no pato. Sorrio.

- Que tal um mais leve agora? - falo assim que paramos na frente do jogo.

- Tem certeza? Ganho fácil de você.

Cerro os olhos para ele e entrego os meus tickets para o garoto da barraca. Ele me posiciona em frente a pequena arma de brinquedo, mirando nos patos de madeira passando em fila, um atrás do outro.

- Isso é o que vamos ver, vizinho.

O garoto passa as regras rapidamente para mim, e vejo de relance Thomáz ao meu lado, com os braços cruzados na frente do corpo, me assistindo.

Me concentro no jogo, e atiro no primeiro pato, que recebe a bala de borracha e cai. Eu precisava derrubar todos com tiros seguidos, sem errar. Faltavam mais nove patos e eu estava disposta a acertar todos. Derrubei mais dois seguidos, e logo tinha apenas sete. Mirei em outro que por pouco, não foi acertado. Me inclinei sobre a arma e com o rosto próximo da mira, fechei um olho, me concentrando mais. E então, atirei nos seis que faltava, seguido.

Me ajeitei da posição em que eu estava lentamente e me virei para Thomáz, que encarava os patinhos caídos, mexendo o maxilar, enquanto afirmava com a cabeça.

- Tudo bem, isso foi sorte - diz quando encontra o meu olhar convencido.

- Então, qual prêmio você vai querer? - O garoto pergunta, fazendo eu me virar para ele e encarar todas as pelúcias no painel. Tinham diversas: ursos, peixes, sapo e até unicórnio, mas uma me chamou a atenção, enroscada bem no canto. Uma cobra laranja com vermelho de pelúcia me fez sorrir.

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