Capítulo 24

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G i e n n a h
3 meses depois

Mudo a estação de rádio pela segunda vez. Na primeira, porque por puro carma, começou a tocar uma música do Arctic Monkeys, e agora, por outra que descrevia exatamente o que estava acontecendo com a minha vida amorosa. Eu não precisava dessa merda. Eu tinha enfrentado quatro horas de voo até Portland e agora mais duas para chegar até a casa dos meus pais com o carro alugado. Eu realmente não precisava dessa merda agora. Há duas semanas, eu tinha finalmente ligado para a minha mãe e contado tudo o que estava acontecendo na minha vida desde o fatídico término entre mim e Kieran, até o meu momento atual. Ficamos conversando por quase três horas, com alguns momentos chorosos da minha parte, até a minha mãe dizer que eu poderia ir para lá para me afastar de tudo por um tempo. E eu não pensei duas vezes antes de comprar as passagens e arrumar as malas, vindo para cá, onde estou nesse exato momento, passando pelas ruas em que passei toda a minha infância.

Além do estresse com tudo isso, ainda tinha o meu novo apartamento, que eu tinha encontrado perto da casa de Aby, ou seja, eu continuava perto de tudo, tanto estágio como universidade. E para somar, o meu TCC estava me deixando maluca. Nesses últimos três meses eu ocupei todo o meu tempo com o trabalho final da faculdade, e com o estágio, simplesmente para não deixar que os meus pensamentos me levassem para um caminho perigoso que se chamava Thomáz. Eu não tinha escutado notícias dele, e nem mensagens ou ligações. Pelo visto, ele estava mesmo cumprindo com a sua promessa da carta, em me deixar respirar. Ou melhor, deixar nós dois respirar. De qualquer forma, esse tempo foi necessário até mesmo para a minha vida profissional, já que o meu TCC estava abandonado no período em que nos conhecemos. Mas eu não podia negar que sentia saudade do que tínhamos. Quando a gente perde, percebe que aquilo era essencial para você. Acho que foi mais por Thomáz ter se tornado a minha rotina durante aquele um mês em que estávamos nos conhecendo.

Suspiro. Dessa vez, a música que começa a tocar é mais tranquila, e não me remete a pensamentos de Thomáz tocando no bar. Viro a esquina com o carro, e entro na rua da casa dos meus pais, finalmente. Olho pela janela, identificando as casas vizinhas, ainda as mesmas: pequenas, no estilo vitoriano, com jardins impecáveis, verdes e floridos. A minha infância aqui foi a melhor possível, com amigos vizinhos, brincadeiras na rua, e passeios de bicicleta aos domingos. A adolescência não foi diferente. Enquanto estaciono o carro, penso no quanto eu sentia saudades da minha cidade, e da minha família. Desde que eu tinha me mudado para uma cidade também pequena, mas em busca de coisas diferentes, longe da minha zona de conforto, eu tinha tido muito pouco contato com os meus pais, o que me entristeceu um pouco, já que sempre fomos uma família tradicional, do tipo que fazia diversas coisas juntos nos finais de semana. Como filha única, sobrava tempo para a nossa família organizar passeios como a patinação no gelo, o que eu mais gostava. Respirando fundo, saio do carro e fecho a porta. Tapo a luz forte do sol com a mão, e forçando um pouco a vista, olho para a rua vazia. A única diferença era que agora, o hidrante que eu tinha quebrado quando criança, tinha sido finalmente pintado com um amarelo vivo. Depois de anos, alguém tinha pintado o famoso hidrante. Rio ao lembrar desse dia. Os meus amigos vizinhos e eu rimos disso durante semanas, e sempre que passávamos pelo local, era impossível não lembrar. Fico feliz que, por coincidência, ele esteja pintado com a minha cor preferida.

Caminho até a casa dos meus pais, e subo a escada da entrada, parando de frente para a porta branca. Sorrio, e toco a campainha. Segundos depois, ouço passos do lado de dentro, e então a porta é aberta, revelando a minha mãe. Seus cabelos escuros e curtos estão com alguns fios brancos, e suas bochechas estão em um tom rosado de blush. Ela sorri abertamente quando me reconhece, e se joga em mim, me abraçando.

- Filha, que saudades! Você está tão magra... Não anda comendo? E esse cabelo? Oh, meu Deus, está tão lindo! – Ela diz uma informação atrás da outra, sem me dar tempo de falar pelo menos um oi.

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