Capítulo 10

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Eu não posso correr para você, pai
Eu preciso de amor
Eu não posso falar com você, mãe
Eu sei que você está presa
Mas sua doce sensação sem pecado não é meu estilo
Eu não vou desistir
Mas me diga, se eu fugir
Quanto tempo eu sangrarei?
Então me diga, se eu fugir
Quanto tempo eu sangrarei?

— Grave Digger - Matt Maeson

Se puderem, POR FAVOR!, leiam ouvindo a música Dangerously, que está na mídia. Eu escrevi ouvindo e ficou muito mais emocionante, RS! Boa leitura!

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T h o m á z

O corredor estava com a luz fraca. Os gritos eram ensurdecedores. Bryan falava alguma coisa para mim, com uma cara pálida, mas eu não escutava. Não conseguia. Meus pensamentos estavam divididos entre a garota que eu tinha acabado de deixar em uma sala e no cara que eu teria que enfrentar essa noite. Eu não queria pensar, para falar a verdade. Eu queria bater. Até desacordar o meu oponente. Rato é um dos meus maiores inimigos – mesmo eu não tendo muitos –, e eu sei que eu era o mesmo para ele. O filho da puta era envolvido com drogas pesadas. E essa merda foi o gatilho para acabar com a minha vida há dois anos. Pisquei forte os olhos quando me aproximei mais da arena, sendo praticamente engolido pelas pessoas a minha volta. A minha mente foi bombardeada de imagens de dois anos atrás, que até então tinham sido apagadas temporariamente da minha memória.

– Thomáz! Thomáz! Meu Deus, não!

Paro de dedilhar a guitarra assim que ouço os gritos da minha mãe no andar de cima. Bryan faz o mesmo com o teclado e o resto dos caras também deixam de tocar seus instrumentos. O som da casa chega abafado na garagem da casa, mas os gritos da minha mãe chegam nítidos para mim. Não penso duas vezes ao ouvir o seu tom desesperado me chamando e arrancar a guitarra do pescoço, correndo para fora da garagem deixando os meus amigos para trás com rostos preocupados. Conforme eu pulava os degraus de dois em dois e algumas vezes de três em três, os sons de choro ficavam mais nítidos.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo.

Abri todas as portas até me aproximar dos gritos desesperados da minha mãe vindo de dentro do escritório do meu pai. Eu gelei. Um arrepio passou pela minha coluna assim que abri a porta e vi a cena na minha frente. Eu esperava que aquilo fosse um pesadelo e que eu acordaria na minha cama, aliviado por não ter passado daquilo: um sonho ruim. Porém a cena na minha frente era mais real do que nunca. O anel de ouro brilhante com uma pequena serpente enrolada em uma pedra vermelha rubi no topo envolvia o dedo mindinho na mão esquerda do meu pai, estirado no chão. Subindo os olhos, encontrei seu tronco sendo abraçado em desespero pela minha mãe que não parava de chorar. O cabelo loiro farto dele estava espetado, como se tivesse sido puxado várias vezes para cima. Eu não conseguia entender a visão a minha frente. Nada se encaixava. O grito entrecortado por soluços da minha mãe me tirou do transe momentâneo:

- O seu pai... Ele... Ele... – Mas ela não conseguiu terminar de dizer o que parecia estar bem claro na minha frente. O rosto pálido do meu pai resumia tudo em apenas uma palavra.

Morto. Meu pai estava morto bem na minha frente. E eu não sabia como mexer os pés para sair daquela posição. Não sabia mais como respirar. Minha mãe não conseguia controlar o choro e eu não conseguia ajuda-la. A ficha ainda não tinha caído e eu duvidava que cairia tão cedo. Ouvi a porta sendo escancarada atrás de mim e então passos e vozes invadindo o escritório. Mas isso foi a única coisa que eu consegui prestar atenção. Os vultos e as vozes dos meus amigos e de outras pessoas que eu não conseguia notar quem eram, estavam muito longe. Porque a única coisa nítida para mim naquele momento era o corpo do meu pai caído no meio do escritório, sem vida. Alguém me conduziu até a cadeira de couro atrás da mesa do meu pai e me forçou a sentar, o que não foi um trabalho muito difícil, já que eu não conseguia mais comandar nenhum movimento do meu corpo.

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