Capítulo 4 - A Bruxa de Telmov

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Sua senhora estava recostada em almofadas, no catre feito com estacas fincadas no chão, couro esticado e mantas. Lia um pergaminho, concentrada. Vária não conseguira ver nenhuma outra manta no chão para que dormisse. Antes de saírem da granja, Amarylis falara que ela se preocupasse unicamente com suas vestes, pois todos os apetrechos necessários para a expedição, seriam arranjados pelos outros empregados. Sem tirar os olhos da leitura, a delicada mulher mandou Vária se deitar a seu lado.

— Não é hora de se prender às normas, Vária, e nem para constrangimentos desnecessários. Venha deitar ao meu lado. Não havia como carregar mais equipamentos; falei com Ailisha que deixasse para trás suas mantas de dormir.

— Senhora, eu...

Amarylis pousou o pergaminho ao lado, olhando a alta mulher à sua frente. Suspirou. Aquela situação estava começando a irritá-la.

— Vária... – falou pausadamente. – Se acredita que eu não saiba o que acontece com você, desfaça essa ideia. Sei, exatamente, o que passa por seus pensamentos.

Os olhos de Vária arregalaram e a cor sumira de seu rosto. Amarylis a observava, em desânimo.

— Agora deite-se e durma. E, por favor, não me faça pedir, novamente.

Vária passou insone, até chegar a Telmov. O corpo delgado de aroma floral, encostado a ela, atormentou-a todas as noites. Não sabia o que estava acontecendo. Nunca fora dada a esses destemperos e cada vez seu desejo se tornava mais forte. Estava a ponto de enlouquecer.

****

Chegaram à cidade e foram direto para uma casa que se encontrava nas cercanias. Era luxuosa e tinha guardas por toda parte. Ficaram de longe, observando. Vária não entendia o que se passava, mas sabia que algo de perigoso os espreitava, pelas reações de Madi e Amarylis. Olhavam o local a distância, como se estivessem avaliando se chegariam mais próximo ou não.

— Tantos anos e ela não aprendeu.

Segredou Amarylis, num tom de repreensão.

— O que vai fazer, Dáma? — Madi inquiriu. — Não poderá entrar com todos esses guardas. O que faremos?

— De quem é essa casa?

Varia perguntou, tentando entender um pouco aquela interação entre eles. Amarylis se voltou para sua guarda-costas, olhando-a em silêncio. Avaliava o que poderia falar ou não. O menor deslize, colocaria tudo a perder.

— Trata-se de alguém que preciso conversar, mas que não vai gostar de me ver. Por isso você está aqui, Vária. Para assegurar que passemos por aqueles portões, sem que nada me aconteça.

— Eu? Se essa pessoa não quer lhe ver, como posso garantir sua segurança com todos aqueles guardas?

— Você não precisará fazer nada, além de dizer que estamos aqui para ver a bruxa Dalad.

— O quê? Eu estava procurando por ela!

Amarylis retirou um saco do alforje, com muitas moedas de ouro e entregou na mão de Vária.

— Você falará com ela, assim como eu. Porém, dessa vez, eu vou como sua empregada. Ela só nos receberá, se não ver quem sou, além de ter algo que me pertence e que está em poder dela, há muitos anos. Eu a acompanharei de cabeça baixa e vou caminhando atrás de você. Não se preocupe. Quando mostrar o dinheiro nos portões, eles nos deixarão passar.

— E o que acontecerá depois que entrarmos? Quem garante que não mandará nos prender? Se ela não quer se encontrar com você, não consigo ver por que nos deixaria livres, depois que você se apresentasse.

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