Capítulo - 3 - A viagem: Telmov à vista

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Em dois dias, Vária, sua mãe e Telamir estavam instaladas na granja. Telamir e Adla na casa da vila de empregados e Vária, no quarto anexo ao de Amarylis. A sua estranha patroa a mantinha sempre próxima, mas era educada e gentil, quando requisitava algo. Ela não havia sido contratada para ser ama, mas depois de uma semana, optou por fazer este papel, já que lhe sobrava tempo. Afinal, ser guarda-costas, dentro da propriedade, não era trabalhoso e chegava a ser entediante.

Amarylis havia adiantado parte do pagamento, para que Vária comprasse coisas para a casa e deixasse Adla e Telamir confortáveis. As roupas que Vária vestia, também haviam sido dadas pela sua patroa. Na ocasião, esta afirmou que as roupas faziam parte do cargo, já que Vária a acompanharia a todos os lugares, e ela tinha que ter roupas condizentes.

A guarda-costas fizera apenas uma exigência: que seu vestuário não contivesse túnicas femininas. Acostumara-se, há muito tempo, a usar calças e assim foi feito. Sempre vestia calças soltas de tecido leve, permitindo que ela se movimentasse livremente, e coletes bordados sem mangas, para propiciar o mesmo, aos movimentos dos braços. Desta forma, se precisasse agir rápido, num ataque à sua patroa, não teria problemas para se mover.

Só havia uma coisa que preocupava Vária, desde que aceitara o emprego. Quando voltou à casa, naquele dia, para falar com a mãe e traze-la para a granja, achou seu alforje vazio, sem as peças que roubara do alcaide. Perguntou a mãe e a Telamir, quem havia estado na casa quando ela saíra. Falaram que alguns vizinhos haviam estado lá, para avisar que o marido de Telamir havia morrido, numa briga de rua. Foram muitos nomes que elas citaram, e alguns não muito confiáveis.

Vária não sabia o que fazer ou esperar. E se quem tivesse roubado as peças, fizesse a estupidez de vender em qualquer lugar ou trocar por coisas supérfluas, lá mesmo na cidade? A encrenca estaria formada e ela não poderia conversar com ninguém a respeito. Cada dia que passava, Vária ficava mais apreensiva.

A tensão de Vária aumentou quando se viu reparando em sua patroa e admirando a mulher. Eram pequenas coisas, a princípio. Gestos, maneira de falar e o perfume que sempre fazia Vária olhar, intensamente, para Amarylis. O fato de acompanha-la à sala de banho, passou a incomoda-la. Ela se esforçava para não olhar o belo corpo que, todo dia, se desnudava à sua frente, para entrar na piscina e se banhar.

Não era incomum Amarylis perceber os olhares de Vária sobre ela; o que a divertia. Passou a reparar mais nas reações de sua guarda-costas. Às vezes, não conseguia se conter, deixando que um sorriso bordasse seus lábios.

— Vária, por favor, poderia me ajudar com esta túnica?

Vária olhou sua patroa. Estava cada vez mais custoso, ajudá-la a se vestir.

Amarylis virava de costas para ela e deixava que a túnica leve deslizasse sobre o corpo de cor dourada. Sempre pedia para Vária amarrar o laço na parte de trás de seu pescoço. Seus corpos ficavam próximos e, nesta hora, a guarda-costas se permitia admirar os contornos bem feitos de sua patroa. A suavidade da pele, a olhos vistos, e a fragrância que esta exalava, deixada pela água perfumada do banho, entorpeciam os sentidos de Vária. Muitas vezes, a guarda-costas se perdia em pensamentos, tentando entender como alguém tão delicado conseguia se impor, apenas com o olhar, como sua "Dáma" fazia.

Assim como Amarylis, Vária tinha a pele dourada, típicas daquela região, mas seus olhos eram negros como a noite e seu corpo, longe de ser delicado, mostrava contornos musculosos, talhados para o trabalho braçal ou para a luta. Este último, era o verdadeiro motivo pelo qual Vária tinha traços tão fortes em seu corpo.

Ao longo da vida, sempre que era possível, se afastava da cidade, em um local isolado, para treinar movimentos de luta que aprendera com seu pai. Ela também mantinha contato com ele, apesar de despreza-lo com o que fizera à sua mãe e à própria vida. O homem estava ficando velho e não conseguia mais se sustentar com as suas ladroagens, levando Vária a, eventualmente, ajuda-lo.

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